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Wolbachia: uso de mosquitos "editados" reduz casos de dengue e chikungunya no BR

Experimento brasileiro liberou milhões de mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia. Como efeito, os insetos não conseguiram transmitir dengue e chikungunya

6 out 2022 - 14h40
(atualizado às 16h46)
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Para controlar casos de dengue e chikungunya no Brasil, uma equipe internacional de cientistas demonstrou que o uso de mosquitos "editados" pode ser eficaz. Invés de passarem por um processo de edição genética literal, os insetos são infectados no criadouro pela bactéria Wolbachia (cepa wMel). Esta impede que os arbovírus sejam transmitidos pelo inseto, quebrando ou reduzindo a cadeia de transmissão da dengue, por exemplo.

Publicado na revista científica The Lancet - Infectious Diseases, o estudo descreve os resultados do experimento com mosquitos e a bactéria Wolbachia no Rio de Janeiro, entre os anos de 2017 e 2019. Na pesquisa, estiveram envolvidos membros do World Mosquito Program (WMP), da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates.

Foto: shammiknr/Pixabay / Canaltech

Como a bactéria Wolbachia impede a transmissão de dengue e chikungunya?

Para entender, a bactéria Wolbachia é bastante comum entre os insetos na natureza, presente em cerca de 60% deles. No entanto, não é comum no mosquito Aedes aegypti que pode transmitir tanto a dengue quanto o chikungunya. Na espécie, o agente infeccioso é introduzido pelos cientistas do WMP.

Segundo os autores do estudo, quando o mosquito está infectado pela bactéria, ela impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam no inseto, contribuindo para a redução destas doenças na população humana. Para isso, nenhuma modificação genética é necessária.

Agora, para controlar os casos dessas doenças, a ideia é que milhões de mosquitos infectados sejam liberados para interagir com os Aedes aegypti de áreas endêmicas para a doença. De forma natural, os dois tipos de insetos vão se reproduzir e, gradualmente, a bactéria deve se tornar comum para toda a espécie. Em consequência, os humanos estarão mais protegidos da dengue e da chikungunya.

Entenda o estudo feito com os mosquitos "editados" no Brasil

No recente estudo, foram liberados 67 milhões de mosquitos infectados pela cepa w Mel da bactéria Wolbachia, espalhados por uma área de 86,8 km2 no Rio de Janeiro. As liberações foram feitas entre 29 de agosto de 2017 e 27 de dezembro de 2019.

"Em dezembro de 2019, 29 meses após o início das liberações faseadas, a prevalência da w Mel em mosquitos locais A. aegypti nas cinco áreas de soltura no Rio de Janeiro estava entre 27% e 60%", detalham os autores no artigo.

Mesmo que a bactéria não tenha se estabelecido de forma integral nos espécimes da região, "as liberações de w Mel ainda resultaram em menor incidência de vírus da dengue e chikungunya durante os primeiros dois anos após a intervenção, destacando o potencial desta tecnologia", afirmam.

Quão eficaz é a estratégia de infectar os mosquitos da dengue?

No estudo a técnica se demonstrou promissora, só que ainda deve ser aperfeiçoada para a realidade brasileira. Os cientistas afirmam que "um pequeno, mas importante efeito protetor contra a dengue foi observado mesmo com prevalência local de w Mel muito baixa". Por muito baixa, eles querem dizer que menos de 10% dos mosquitos estavam infectados pela bactéria Wolbachia. Agora, "para locais em que a prevalência de w Mel foi superior a 60%, o efeito protetor foi de 76%", destacam.

O atual desafio da equipe de pesquisa é entender o porquê a bactéria não conseguiu se estabelecer tão bem entre os mosquitos da dengue na região, o que limitou os benefícios da soltura dos insetos na natureza. "Altas temperaturas têm sido associadas à menor aquisição de w Mel em estudos de laboratório", afirmam os pesquisadores, o que indica uma possível hipótese para a limitação do experimento.

Fonte: The LancetAgência Fiocruz  

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