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Por que remédios têm nomes estranhos?

Já se perguntou por que remédios têm nomes tão estranhos, longos ou complicados de falar? O processo de escolha leva tempo e dinheiro, e por bons motivos

16 ago 2022 - 13h30
(atualizado às 15h51)
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Se você já se aventurou pelo mundo dos fármacos, tanto comprando remédios para você ou para a família ou simplesmente passeando pelos corredores de uma farmácia, deve ter se deparado com a seguinte pergunta: por que os remédios têm nomes tão estranhos? Quem é que pensa nessas terminologias?

Embora possam parecer até piada pela sua complexidade, os nomes dos remédios são regularizados, e muito — tudo para evitar que sejam confundidos com outros medicamentos, acabem significando algo ruim em uma língua estrangeira ou infrinjam algum direito autoral (que inclui nomes de outros produtos, não só de remédios).

Erros na hora de escolher nomes são caros: segundo especialistas, o processo de escolha pode demorar de alguns meses a anos até a aprovação, custando de US$ 75 mil (cerca de R$ 380 mil) a até US$ 250 mil (cerca de R$ 1,2 milhão). Para um nome que será usado para sempre — caso não entre em conflito com um medicamento existente, o que pode acontecer — o processo precisa ser complexo.

Foto: Rawpixel/Envato Elements / Canaltech

Nomes grandes

E se você acha os nomes complicados agora, espere alguns anos: eles se tornarão cada vez mais complexos. Só nos Estados Unidos, há 30 mil medicamentos sendo comercializados, e a agência reguladora do país, a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), tem aprovado cerca de 50 novos nomes de marca todo ano. O trabalho não é só da saúde, mas também do departamento comercial, de marketing, jurídico e regulatório.

Atualmente, as empresas buscam nomes que funcionem no mundo todo, evitando criar tantas marcas diferentes. O remédio conhecido aqui como paracetamol, por exemplo, é chamado de acetaminophen nos EUA, o que pode gerar confusão para alguns pacientes.

Para evitar conflitos e diferenças, as equipes responsáveis das empresas e agências reguladoras discutem centenas de nomes e utilizam até softwares que analisam sílabas e sons, evitando nomes que possam ser lidos de forma semelhante, apesar de serem escritos de forma diferente, como Zantac e Xanax, por exemplo.

Os nomes têm se tornado cada vez mais longos: compare o Viagra, criado em 1998, com o Tecfidera, remédio para esclerose múltipla aprovado em 2013. Eles têm três e quatro sílabas, o que está se tornando cada vez mais comum: em 2015, 15% das novas marcas de remédio eram desse tamanho. À medida que mais remédios são criados, os nomes vão ficando mais complexos e mais longos.

Muitas vezes, os remédios são nomeados ainda na fase de estudos, evitando nomes absurdamente grandes nos artigos científicos: imagine ter de usar os nomes IUPAC (Nomenclatura Usual utilizada conforme a União Internacional de Química Pura e Aplicada), como (2S,5R,6R)-6-{[(2R)-2-amino-2-(4-hidroxifenil)-acetil]amino}-3,3-dimetil- 7-oxo- 4-tia-1-azabiciclo[3.2.0]heptano- 2-ácido-carboxílico ao invés de amoxicilina?

Outro exemplo é o primeiro fármaco sintetizado na história da medicina, a aspirina. Ela é, na verdade, o ácido acetilsalicílico: o nome Aspirina veio do produto químico Acetilspirsäure, em alemão, um sinônimo da planta filipêndula ulmária (Spirea ulmaria), uma das possíveis fontes da substância.

O "A" da aspirina vem da acetilação (processo químico usado na fabricação), "spir" vem de Spirsäure e "in" foi uma adição para deixar o nome mais sonoro e parecido com o de um medicamento. Em janeiro de 1899, a Bayer escolheu aspirina em definitivo — e o nome quase foi "euspirina", já que "eu" tem uma conotação positiva em alemão.

Princípio ativo

Uma estratégia utilizada na hora de nomear é fazer referência ao princípio ativo, à biologia do medicamento. Xalkori, um inibidor de quinase de linfoma anaplásico (abreviado para ALK), contém a sigla que define sua função, e um remédio contra melanomas, o Zelboraf, inclui o gene cuja molécula inibe, chamado Braf. Isso ajuda os médicos na hora de saber o que prescrever ao paciente e evita confusões.

Seguindo essa linha, há uma procura por nomes que invoquem sensações boas ou relacionadas ao tratamento, como Advair, um medicamento contra asma que evoca "ar". O conhecido Viagra remete a vigor, vitalidade, algo desejado por quem trata a disfunção erétil com o remédio. Não se pode, no entanto, exagerar: é proibido exagerar nas promessas, então nomes como "cura" ou "milagroso" não são vistos por aí.

Um exemplo é o remédio Champix, que ajuda no tratamento da calvície, mas é chamado de Chanpix nos EUA. O motivo? A palavra "champion", que significa campeão, em inglês. Bastou uma associação exagerada do remédio à ideia de sucesso e vitória para que a FDA considerasse o nome exagerado e o vetasse no país.

Remédios genéricos

Associações comerciais são deixadas de lado na hora de nomear genéricos: nesse caso, são usados radicais, sílabas específicas que transmitem rapidamente a função do medicamento. O bebtelovimabe, contra a covid-19, é um anticorpo monoclonal: todos eles terminam em -mabe.

Muitas vezes, a ideia tanto da marca comercial quanto das genéricas é invocar remédios já consagrados: a amoxicilina, por exemplo, tem seu nome advindo da marca de referência, AMOXIL (fabricada pela GlaxoSmithKline), e do primeiro antibiótico, a penicilina. Alguns genéricos desse medicamento ainda trazem essas indicações, como na Argentina (Antibiocilina) e no próprio Brasil (Novocilin).

Evitando erros

A questão é de suma importância: o Instituto para Práticas Médicas mais Seguras, em 2018, publicou um relatório mostrando que 6.206 dos erros com medicamentos entre 2012 e 2016 tinham a ver com confusão nos nomes. Isso pode acontecer quando o médico prescreve o medicamento, quando o farmacêutico entrega o produto ou na hora do paciente tomar o remédio.

Confusões comuns podem acontecer com remédios como Adderall e Inderal, Celebrex, Celexa e Cerebyx, Paxil e Taxol. Algumas são tão sérias que a FDA pede uma mudança de nome: para evitar confusões com o diurético Lasix, o Losec, contra azia, se tornou Prilosec; o Kapidex, também contra azia, virou Dexilant, evitando ser confundido com o Casodex. Quem chega por último, nesse caso, paga o pato.

Vale lembrar que nem sempre os nomes das marcas acabam vingando como desejado: no Brasil, todos sabem qual vacina tomaram, mas muitos não sabem dizer a marca. A Comirnaty, por exemplo, é a vacina da Pfizer. Os nomes foram pensados para facilitar — mRNA, o método de imunização, está na sigla da CominRNAty. Mesmo assim, não pegou.

Fonte: NatGeo, CNBC, Journal of Ethics

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