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Falta de medicamentos é explicada por dependência de insumos importados

A maioria das medicações usadas no Brasil depende de IFA importado. Em casos de crises de abastecimento, população pode ter dificuldade em encontrar remédios

6 jul 2022 - 21h40
(atualizado em 7/7/2022 às 10h58)
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Muito discutido nas redes sociais, o "apagão" de remédios em farmácias e hospitais tem como principal causa da dependência de matéria-prima importada para a produção dos medicamentos no Brasil, segundo especialista. Dependendo de Insumo Farmacêutica Ativo (IFA) internacional, nem sempre a indústria brasileira consegue suprir a demanda interna. É o que ocorre, hoje, com alguns antibióticos, antialérgicos e analgésicos que não são mais facilmente achados nas prateleiras.

Vale destacar que a falta de alguns medicamentos não é um fato isolado, identificado por alguns consumidores apenas. Por exemplo, o último relatório do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) confirmou o que poderia ser apenas uma impressão. Antibióticos representam a medicação que mais está em falta.

Foto: aleksandarlittlewolf/Freepik / Canaltech

Para entender como a dependência de IFA importado afeta a produção brasileira de medicamentos e o que pode ser feito no curto prazo, o Canaltech conversou com Marcelo Mansur, presidente da Nortec Química.

Brasil sempre foi dependente da matéria-prima importada?

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), o Brasil importa mais de 95% de todo o IFA utilizado na produção nacional de medicamentos. No entanto, nem sempre este foi o cenário enfrentado pelas farmacêuticas brasileiras.

Segundo Mansur, "o Brasil tinha dezenas de empresas de IFA até a abertura do mercado para importações no governo Collor". Aqui, vale lembrar que o presidente Fernando Collor de Mello governou o país entre 1990 e 1992 e uma de suas marcas foi a redução das tarifas de importação, o que desestabilizou muitos setores da economia.

Em resposta a essa medida, "o mercado foi tomado por produtores chineses e indianos que praticavam preços muito inferiores", conta Mansur. Nestas circunstâncias, a maioria das indústrias nacionais de IFA foram fechadas e, hoje, o número total é estimado em 13.

No caso específico da Nortec, ela é a única a produzir, nacionalmente, o IFA usado na composição do benznidazol, por exemplo. Este é um medicamento adotado no tratamento contra a Doença de Chagas, uma infecção conhecida por causar danos ao coração, como arritmia e insuficiência cardíaca.

Alto custo é um desafio para a produção nacional

Embora pareça ser simples estimular a produção nacional de matéria-prima e reduzir a dependência do mercado internacional, este é um grande desafio. "Hoje, o investimento inicial é alto e o tempo para retorno é por volta de cinco anos", detalha Mansur.

Em paralelo, é uma constante da operação a concorrência com os produtos indianos e chineses. Outra questão levantada é que este é um tipo de indústria de alta densidade tecnológica e complexidade. Para Mansur, "o Brasil não dispõe de mão-de-obra pronta para operar esse tipo de planta", ou seja, os profissionais precisariam ser formados.

"Apesar disso, vemos que atualmente existe oportunidade para o crescimento dessa indústria não apenas do Brasil, mas fora do eixo China e Índia. Isso ocorre à medida em que a indústria farmacêutica percebe o risco de depender exclusivamente de determinadas geografias", acrescenta.

Como solucionar o problema da falta de remédios?

"No curto prazo, é preciso haver um planejamento por parte das farmacêuticas em buscar uma diversidade geográfica no seu fornecimento, que permita evitar os momentos de desabastecimento antes deles ocorrerem", explica Mansur.

Nesse sentido, as empresas podem optar por fornecedores locais mais próximos, o que contorna problemas internacionais — como a Guerra na Ucrânia ou os lockdowns impostos pela China por causa da política de tolerância zero à covid-19. Além disso, deve-se ter fornecedores alternativos para suprimir problemas envolvendo gaps de abastecimento.

"Isso pode ser feito por meio de parcerias e desenvolvimentos por encomenda, de forma que hoje temos empresas nacionais capacitadas para garantirem o fornecimento de praticamente qualquer produto que seja solicitado", comenta Mansur.

Parcerias internacionais no Brasil

Para além da iniciativa privada, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está trabalhando formas de contornar a dependência do mercado externo, especialmente em remédios que são distribuídos no Sistema Único de Saúde (SUS). A alternativa encontrada foi firmar parcerias com players internacionais do mercado.

No caso da covid-19, a Fiocruz e a farmacêutica norte-americana MSD — também conhecida como Merck — assinaram um termo para a possível produção nacional do molnupiravir, o que deve envolver transferência de tecnologia. Em parceria com a ViiV Healthcare — parte da farmacêutica britânica GSK — também trabalha para produzir, de forma integral, o antiviral dolutegravir.

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