Que língua falavam os neandertais?
Os achados arqueológicos que temos dos neandertais, de ossos a arte e ferramentas, pode nos dar dicas de como era a língua falada pelos extintos hominídeos
Nós, Homo sapiens (os humanos modernos), convivemos com neandertais o suficiente para miscigenar com eles — como o DNA dos europeus nos mostra. Como era a nossa comunicação com nossos parentes hominídeos ou a deles entre si, no entanto, segue sendo um mistério, já que o Homo neanderthalensis foi extinto há tempo suficiente para não sobrar nenhum registro desse tipo. Isso não impede especialistas de terem alguma ideia de como teria sido a língua dos neandertais.
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De acordo com Antonio Benítez-Burraco, linguista da Universidade de Sevilha que produziu um artigo pré-print (ainda não revisado por pares para a publicação) sobre o assunto, afirma ser quase certo que nossos parentes evolutivos falavam línguas parecidas com as nossas, embora menos complexas na sua estrutura e menos flexíveis em termos funcionais — ou seja, sem poder expressar tanto como nós.
Para chegar a tais conclusões, foram estudados aspectos anatômicos, socioculturais, cognitivos, ambientais e genéticos, todos esses conhecimentos baseados em evidências coletadas por paleontólogos e arqueólogos ao longo das últimas décadas.
Corpo e cultura neandertal
Os neandertais, como comenta Benítez-Burraco em seu artigo, possuem um trato vocal bastante similar ao nosso, sugerindo terem sido capazes de produzir os mesmos sons que nós. Sua audição também era muito próxima da audição dos humanos modernos, de acordo com seus restos fósseis, indicando que tinham a estrutura necessária para uma comunicação vocal complexa.
O formato da cavidade craniana dos H. neanderthalensis, no entanto, sugere que seu cérebro era menos "globular" do que o nosso. Isso significa que seu tálamo, região responsável pelo processamento da linguagem, era menos proeminente, ou seja, menor.
Essa conclusão leva os cientistas a especularem que a extinta espécie era menos capaz de pensar de forma cross-modal — em outras palavras, de maneira complexa e incluindo diversas variáveis diferentes —, diminuindo sua capacidade de criar estruturas linguísticas complexas ao combinar conceitos diversos.
Para completar, as ferramentas construídas pelos neandertais eram relativamente simples, sugerindo que eles não compartilhavam da nossa habilidade de ter "pensamentos hierárquicos", mais organizacionais, e portanto não conseguiriam criar frases ou orações muito complicadas.
Além disso, a ausência de uma adaptação cultural em suas criações ao longo do tempo — a demonstração de que não aprenderam a fazer ferramentas mais sofisticadas com os H. sapiens, por exemplo — pode significar que eram incapazes de inovar por conta de recursos de memória funcional menos poderosos.
O que isso quer dizer para a língua neandertal?
Todas essas restrições cognitivas, de acordo com Benítez-Burraco, provavelmente limitaram as capacidades linguísticas dos nossos extintos parentes. No mínimo, diz o cientista, podemos especular que as línguas neandertais tinham uma sintaxe mais simples, um número reduzido de categorias funcionais (como determinantes e conjuntos) e sons menos únicos. Com isso, sua linguagem teria menor capacidade de expressar sentidos propositalmente complexos.
Em termos mais especulativos, o pesquisador acredita que os ambientes frios, secos e abertos onde a espécie vivia podem ter encorajado um consonantismo rico, com base em associações modernas entre ambiente e linguagem. Segundo a teoria, temperaturas mais frias desfavorecem o uso de tons sonoros para expressar informações linguísticas, enquanto o clima seco desfavorece sons vocálicos.
Vale lembrar que as afirmações são baseadas no que sabemos, atualmente, sobre os neandertais, mas também não querem dizer que a espécie era pouco inteligente — eles foram os primeiros hominídeos a produzirem arte, conseguiam fazer e entender discursos e talvez até conseguissem meditar. Não sabemos porque eles acabaram extintos, mas certamente não foi por serem pouco inteligentes.
Fonte: PsyArXiv via IFLScience
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