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Novo ancestral argentino dos mamíferos é descoberto com máquina de nêutrons

Equipe de cientistas escaneou fóssil preservado em pedra com nêutrons, identificando nova espécie e confirmando que mamíferos surgiram no sul do Brasil

12 ago 2022 - 21h00
(atualizado em 13/8/2022 às 16h03)
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Cientistas da Alemanha e Argentina, em um trabalho colaborativo, utilizaram nêutrons para identificar fósseis de espécies extintas há 220 milhões de anos — especificamente, ancestrais dos mamíferos. Realizada na University of Munich (TUM), a pesquisa identificou uma nova espécie, a Tessellatia bonapartei, cujo focinho longo, enorme mandíbula e dentes afiados a coloca no grupo dos cinodontes.

Os cinodontes, ou Cynodontia — significando "dentes de cachorro" — são criaturas extintas muito parecidas com os mamíferos, e não é à toa, já que são seus ancestrais. A nova espécie, que tem o tamanho aproximado de um camundongo, teve seus ossos encontrados no Parque Nacional da Talampaya, no oeste argentino. Por conta da sua fragilidade, não foi possível retirá-los da pedra onde estão alocados sem altos riscos de dano.

Foto: Nobu Tamura/CC-BY-4.0 / Canaltech

Nêutrons na paleontologia

Como não era possível examinar os ossos separadamente, o primeiro procedimento foi realizar um raio-x do objeto, numa tentativa de identificar melhor os ossos. Como o solo petrificado contém muito ferro, os ossos ficaram praticamente indistinguíveis dos seus arredores. Foi aí que entrou em cena uma tomografia de nêutrons, feita na instalação RA-6 da Comisión Nacional de Energía Atómica de Argentina.

O resultado termal obtido pelos nêutrons foi promissor, mas com baixa resolução espacial, o que levou os pesquisadores a seguir com a análise no ANTARES, um instrumento na fonte de pesquisa de nêutrons em Garching, na Alemanha. Com ele, foi possível obter um melhor contraste, já que são utilizados nêutrons frios, com uma amplitude de onda maior e mais resolução espacial.

Foi então que se pôde definir a espécie única do fóssil, o que surpreendeu os cientistas envolvidos: os cinodontes são muito escassos no Noriano, o período do Triássico ao qual os restos pertencem. O nome dado ao animal é uma homenagem ao cientista argentino proeminente na área, o Dr. José F. Bonaparte, já falecido.

Entre as características únicas do T. bonapartei, estão um número bem diferente de dentes nas mandíbulas superior e inferior, sendo que esta última é enorme. Há, também, um espaço na mandíbula inferior externo à fileira de dentes, diferente de todos os outros cinodontes encontrados. Esse canal, quando o animal era vivo, estava repleto de nervos — é a vibrissa, conhecida como "bigodes" em muitos mamíferos atuais, como os gatos. Nós, humanos, também os temos, mas no nariz.

A importância da descoberta está nos novos achados acerca da árvore evolucionária dos cinodontes e, por consequência, na dos mamíferos. Os cientistas podem, dessa maneira, entender melhor os passos evolucionários que tomamos para chegar até aqui, como o surgimento das vibrissas, comparando as características de diferentes espécies.

O achado também confirma a teoria de que os mamíferos se originaram na região que hoje compõe o sul do Brasil, revelando mais pistas do mistério que envolve a origem dos mamíferos.

Fonte: Scientific Reports

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