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Evidências mostram que Amazônia pré-colonial tinha 10 milhões de habitantes

Cientistas apontam inúmeras evidências de sociedades complexas com até 10 milhões de pessoas que modificavam a floresta amazônica e a habitavam em larga escala

2 jan 2023 - 20h49
(atualizado em 3/1/2023 às 12h55)
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Caso você tenha na sua mente uma Amazônia sem humanos, intocada e apenas visitada pelas tribos antes da chegada dos colonizadores europeus, pense novamente — diversos estudos recentes mostram que a selva era altamente frequentada e modificada pelas populações indígenas, chegando a ter 10 milhões de habitantes e comércio entre povos.

Corroborando as descobertas populacionais, foram descobertas pirâmides de 1.500 anos atrás na Amazônia boliviana, feitas de terra e escondidas pela vegetação. Conflitos e guerras também fizeram parte da história da região, bem como sistemas de troca e miscigenação, mostrando um registro temporal muito mais complexo e cheio de eventos do que se pensava.

Foto: Imagem: Alexander Gerst/Wikimedia Commons / Canaltech

Antigas e novas evidências

Um dos cientistas que querem trazer a história ancestral dos indígenas amazônicos — e que insiste que ela merece ser conhecida — é o arqueólogo da USP Eduardo Goes Neves, que trabalha na região há 30 anos e escreveu o livro Sob os tempos do equinócio — Oito mil anos de história da Amazônia Central, onde fala sobre os incríveis novos e antigos conhecimentos pouco divulgados sobre a selva pré-colonial.

Por muito tempo, se acreditou que a floresta limitava os esforços dos moradores locais, o que não é verdade. Entre os anos 1980 e 1990, dois antropólogos americanos, trabalhando com indígenas contemporâneos, notaram como eles modificam a natureza e buscaram entender quais aspectos da selva poderiam ter sido alterados da mesma maneira em tempos ancestrais.

Modificando a floresta

Com isso, foram encontradas "terras pretas", uma espécie de solo fértil formado através de compostagem (depósito de matéria orgânica) e evidências de domesticação de mandioca, abacaxi, castanha, cacau e amendoim, todos processos feitos artificialmente pelas tribos. As plantas citadas, por exemplo, ficaram hiper dominantes, ou seja, muito mais frequentes que suas contrapartes: de 16 mil espécies de árvores amazônicas conhecidas, apenas 227, ou 1,4%, já representam metade de todas as presentes na mata.

Além de modificar a formação da floresta, os indígenas também a ocuparam em assentamentos lineares ou circulares, com pátios centrais e grandes malocas (um tipo de grande cabana comunitária). Cerâmicas diversas e em abundância, concentradas em locais únicos, também indicam a habitação da mesma região por diferentes etnias por centenas ou até milhares de anos.

Pirâmides e sociedades complexas

As pirâmides amazônicas, descritas em junho de 2022, mostraram 26 assentamentos e 22 estruturas piramidais da cultura Casarabe, de 500 a 1.400 d.C., provando a existência de sociedades urbanizadas tropicais de baixa densidade, ocupando até 16 mil km². A diferença para os povos astecas e maias é a ausência de construções de pedra, deixando sua existência menos óbvia.

As populações locais também subiram e aumentaram em diferentes medidas ao longo do tempo, indo de eventos climáticos sentidos em todo o planeta a conflitos locais. No Xingu, Amapá e Ilha de Marajó, foram encontradas estruturas defensivas, mostrando que as guerras faziam parte da vida dos indígenas, mais um sinal de complexidade social. O que realmente diminuiu os demográficos amazonenses ao ponto de acreditarmos que a Amazônia era esparsamente habitada foi a chegada dos colonizadores europeus.

No século XVII, os europeus trouxeram doenças como varíola, sarampo e gripe, para as quais os indígenas não possuíam imunidade, além de guerra e extermínio sistemático. Comparando o DNA das etnias atuais com as existentes antes da chegada dos colonizadores, já se demonstrou a similaridade genômica: os Kambembas atuais, da beira do Rio Solimões, vivem como seus ancestrais milenares até hoje. Com todos esses achados, é preciso repensar e divulgar o papel dos indígenas na Amazônia, indissociáveis da selva e de sua complexidade.

Fonte: O Globo

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