Queda do Muro de Berlim completa 35 anos

A comemoração é neste sábado, 9 de novembro [...]

9 nov 2024 - 08h36

* este texto faz parte da série de especiais que o Viagem em Pauta publicou em comemoração aos 35 anos da queda do Muro de Berlim, em novembro de 2024

A aparência de um estado bem-sucedido já não conseguia ser mantida (nem para os alemães orientais, muito menos para o mundo).

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População descontente, prisões lotadas, escassez de produtos, falta de energia e um estado falido eram os sinais de que o fim do Muro estava próximo.

Há 35 anos, no dia 9 de novembro, o mundo assistia à queda do símbolo máximo de um sistema político perverso que dividiu a Alemanha, entre 1961 e 1989.

Assim como descreve o escritor Ignácio de Loyola Brandão, no livro O Verde violentou o muro (1984), "um lado implantou a sociedade socialista, o outro adotou o american way of life, com investimentos vultuosos e artificiais".

Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Em silêncio, Leipzig fazia uma revolução.

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A menos de 200 quilômetros de Berlim, a cidade foi considerada um dos principais pontos de oposição ao sistema imposto na Alemanha Oriental, endereço da histórica Revolução Pacífica. Desde 1982, assistia a manifestações sem violência, na Nikolaikirche  (Igreja de São Nicolau, em português).

No dia 9 de outubro de 1989, um mês antes da queda do Muro, 70 mil pessoas saíram às ruas da cidade, com velas nas mãos para protestar contra a ditadura imposta em toda a Alemanha, que presenciava uma manifestação de proporções únicas, pela primeira na sua história.

O Muro de Berlim chegaria ao fim de forma tão inesperada quanto a sua construção, 28 anos antes.

Mural do artista Michael Fischer, em Leipzig
Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Na tarde do dia 9 de novembro de 1989, Günter Schabowskim, membro do comitê máximo do Partido Comunista, se encontrava em uma coletiva de imprensa na Alemanha Oriental quando começou a ler, pausadamente, um papel que continha um conteúdo desconhecido pelo próprio Schabowskim.

Ali, ele anunciava, entre uma série de medidas, a revogação da lei de 1988 que proibia viagens para fora da Alemanha Oriental, assim como a ordem de agilizar os pedidos de permissões de saídas e a abertura das fronteiras entre a RDA e a RFA.

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- "Quando entra em vigor?" - um jornalista questionou.

Schabowskim voltou-se para seu emaranhado de papéis e devolveu, em seguida: "Pelo que entendi, imediatamente".

Às 20 horas daquela longa noite histórica, os jornais já anunciavam que a Alemanha Oriental acabara de abrir suas fronteiras. Não demoraria para alemães começarem a se dirigir a postos fronteiriços.

Pouco depois da meia-noite, todas as fronteiras se encontravam abertas.

Bösebrücke
Foto: Creative Commons / Viagem em Pauta

Por que o Muro de Berlim foi construído

No final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista de Adolf Hitler estava em ruínas e dividida em zonas de ocupação administradas pelos Países Aliados vencedores da Segunda Guerra.

De um lado, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha se ocupavam do lado ocidental capitalista. Do outro, soviéticos tomavam Berlim como espólio de guerra e começavam a transformá-la em uma espécie de satélite do comunismo.

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Nem que para isso fosse preciso plantar um muro bem na porta da casa daquela gente.

Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Para evitar a contaminação do vizinho ocidental, a União Soviética dava início a uma série de ações que isolavam a Alemanha Oriental do resto do mundo não comunista.

Até então sem concreto ou vergalhões, o muro começava a ter seus primeiros arrimos erguidos por uma ditadura estabelecida pelo SED (Sozialistische Einheitspartei Deutschlands), o Partido Socialista Unificado da Alemanha, o único no poder.

Em outubro de 1949, cinco meses depois da criação da República Federal da Alemanha (RFA), responsável pela Alemanha Ocidental, foi fundada também a República Democrática Alemã (RDA) ou, em alemão, Deutsche Demokratische Republik (DDR), cuja capital era Berlim.

Em 1952, o SED bloqueou passagens terrestres para a Alemanha Ocidental, forçando assim a saída dos Aliados, e documentos de identidade passaram a ser, rigorosamente, checados nas ruas.

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A única fronteira aberta até aquele momento era Berlim, dividida entre soviéticos e ocidentais. De acordo com o Mauer Museum, em Berlim, quase três milhões de pessoas aproveitaram a brecha para deixarem suas casas e seguirem para o setor ocidental do país, via Berlim, entre 1949 e 1961.

Enquanto a RFA se fortalecia com a chegada de fazendeiros e homens qualificados que passaram a contribuir para a ascensão econômica da Alemanha Ocidental, o lado comunista enfraquecia com o desaparecimento de sua população.

Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Até que um dia, em 1961, o líder comunista Walter Ulbricht soltou a seguinte frase, durante uma coletiva de imprensa, em que uma jornalista o questionou sobre como seria a nova fronteira nacional:

- "Ninguém tem a intenção de construir um muro", respondeu Ulbricht, vítima de um golpe de traição do próprio inconsciente que anunciava o que viria pela frente.

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Em um domingo de verão, dois meses depois, Berlim amanhecia cercada por rolos de arames farpados e dezenas de cruzamentos bloqueados, entre as Alemanhas Oriental e Ocidental.

O líder comunista da Alemanha Oriental seria o responsável pela construção do futuro muro, colocando seus homens na fronteira, a fim de controlar os acessos entre o Oriente e o Ocidente.

Nas semanas seguintes, começaram a ser erguidos obstáculos para bloquear veículos, torres de observação e um… muro provisório.

Construções eram derrubadas para dar lugar a novas faixas de isolamento e edifícios que ficavam ao lado das fronteiras eram lacradas com cimentos, enquanto os moradores dos apartamentos orientais vizinhos pulavam de suas janelas para a rua, já em território ocidental.

Foto: Eduardo Vessoni / Viagem em Pauta

Uma das cenas mais marcantes da época são as de residentes da rua Bernauer que tinham seus corpos puxados, simultaneamente, por policias orientais que tentavam colocá-los de volta no interior do prédio e por ocidentais na rua que insistiam em trazê-los para o mundo da liberdade.

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Outros métodos de resgate, como cordas e lonas de bombeiros ocidentais, eram usados também para retirar berlinenses daqueles prédios que acabariam se transformando em fronteira.

Berlim Ocidental passava a ser uma ilha capitalista rodeada por um mar socialista, isolada do resto do mundo, entre 1961 e 1989.

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