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Paris é uma Festa (parte 2)

Waltinho, La Maison, Ray Lema, Ratatouille e Gertrude Stein...

7 set 2024 - 06h00

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Os Jogos Olímpicos de Paris já acabaram e os Paraolímpicos estão a todo vapor. A cidade continua na crista da onda, apesar da imensa maioria das pessoas ignorarem os deficientes e seus feitos muito mais impressionantes que os dos atletas normais.

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Preciso respirar fundo pra escrever essa edição, pois agora falarei da night live desta cidade que não para.

As festas, os shows, os passeios pela Rue Mouffetard, os rolés de Velib. Paris é e sempre será uma festa.

A playlist “Paris VIP Turismo” veio por zap e gostei do que ouvi. Tem Carla Bruni, sim, a ex-primeira dama francesa, Brigitte Bardot e Zaz que passou uma vez pelo Brasil feito um raio.

Aumente só um pouquinho o som, sente-se numa poltrona confortável e deixe a vida te levar.

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Paris é uma festa: Onde tudo pode acontecer 

Já passei uns bons perrengues nessa tal “cidade luz”. Em 2007 fomos visitar meu cunhado, sujeito ainda arredio e longe de ser meu amigo. Vivia num apartamento de frente para o Sena, lá no alto com vista praquela estátua da Liberdade mequetrefe, em miniatura, mas a original.

Fomos de Düsseldorf até a capital francesa num Wartburg 353 ano 1989, o Waltinho, comprado para um amigo e que fiquei de despachar ao Brasil quando desse. Enquanto isso, como era estudante de Doutorado e Durango Kid, usava o carrinho de vez em quando dando umas bandas por aqui e ali.

Passamos uns dias na cidade e na hora de ir embora pra Düsseldorf, o cunhado ao se despedir nos conta que estava indo ao show do Radiohead em Saint Denis. Antes de fechar a porta, pergunta se não temos grana sobrando pra emprestar. Claro que não tínhamos, mas demos 20 euros na maior boa vontade. CUnhado é assim mesmo!

Foto: Arquivo Pessoal

O relato completo dessa saga com esse carrinho simpático da foto acima está aqui no meu quase finado blog, o Truta Photos. Foi uma sequência de coincidências e mãos de Deus nos tirando de furadas evitando gastar o que não tínhamos até chegar em casa, sãos e salvos. E lisos!

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A visita a Chapelle Notre Dame de la Médaille Miraculeuse, a famosa Medalha Milagrosa, se pagou. Depois dessa viagem, prometemos visitá-la toda vez que voltarmos a Paris.

 La Maison est tombée (A Casa Caiu)

Com o passar dos dias e a convivência o CUnhado virou broder, mas broder mesmo! Ele é um Forest Gump brazuca e toca muita guitarra.

Numa dessas incursões a Paris, ele se juntou a outros dois amigos, Motoca, vulgo Matheus, e Rodrigo, pra fazer um show com a galera.

Arrumaram uma peniche, que vem a ser um bar ou “casa de shows” numa balsa pelo Sena. Um boteco flutuante. Virei o empresário da banda e comecei a coordenar os ensaios.

Cunha, agora sem o U, morava numa espécie de vila do Chaves, perto de Les Gobelins e Rue Monge, a cotê do Jardin des Plantes. Era o quartel general da turma. Ensaios animados aconteceram ali regados a Maker’s Mark e otras cositas más.

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O show foi um sucesso estrondoso. Grandes hits do pop rock foram tocados e cantados no balançar das águas do Sena. Passamos o chapéu recolhendo um cachê para os músicos e a fabulosa quantia de 44 euros foi arrecadada. Como empresário, me dei o direito de ficar com 25% do butim e repartir o restante com a banda.

Felizes, sorridentes e embriagados, alugamos Velibs e dali partimos na alta madrugada pra casa, que nem sabia onde era. Minha bike estava com o pneu traseiro furado, mas o que é uma falta de ar após essa noite de gala, de retumbante esplendor no showbiz parisiense?! Nada, absolutamente nada abalaria minha auto estima naquele momento.

No dia seguinte, Motoca e eu fomos conferir Les Catacombes, um cemitério subterrâneo em plena Paris. Foi ali que enterraram a maioria das vítimas da peste negra. Os cálculos do matemático Oswald de Souza dizem estar expostos ali pra quem quiser ver mais de 1 milhão de crânios. Um assombro.

Paris em família

A cidade é tão versátil que pode ser visitada de várias maneiras. Solteiro, casado, sem filhos, com eles, acompanhado da família toda, ou só de amigos, enfim, tem programa pra todo mundo.

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Em 2012 passamos uns dias ali com minha mãe e dois irmãos, além de Juliette. Pegamos um Airbnb pertinho da Ópera e, para nossa surpresa, a dona era uma escritora que se dizia famosa. Gritamos “Truco, Ladrão” bem alto no pé do ouvido dela logo ao pegar as chaves e subimos.

No dia seguinte, flanando pela Rue de Rivoli, entrei numa livraria. E não é que a tal dona do apartamento era mesmo escritora? Estava ali, exposta junto com tantos outros bambas da literatura francesa e internacional.

Realmente tinha livros por todos os lados no nosso pouso parisiense. A maioria eram dela mesmo, talvez edições inteiras encalhadas e rejeitadas por livreiros rabugentos sem entender a arte ali representada.

Me lembro bem da foto de família que tiramos na Pont Neuf e seus milhares de cadeados amorosos. A prefeitura arrancou todos com medo da ponte cair. Pobres coitados que fizeram suas juras de amor ali...

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Ray Lema & Rodrigo Viana: Música da melhor qualidade

O Rodrigão da “Maison est tombée” não é fácil não. O cara é o guitarrista do Ray Lema, músico africano radicado em Paris há décadas. Toca direto nas melhores casas de jazz como Duc de Lombards e entre outras.

Na Páscoa de 2011 ajudei Don Rodrigo a carregar seu amplificador pelo famigerado metrô parisiense onde elevadores não existem, somente escadas. E não são rolantes! A Vida de músico não é só glamour, muito pelo contrário.

Escrevi estas linhas sobre esses dias por ali, comendo ovo cozido no café da manhã e bebendo Leffe no jantar.

Veja Rodrigo, Ray e a banda tocando aqui.

Pra ver e ler

FILMES: Ratatouille (2007). Eu queria ser o Remy.

Sem exagero, já vi esse filme umas vinte vezes com e sem meus filhos. E não me canso. Ainda hoje, pra mim essa é a melhor animação jamais feita. É insuperável. A tecnologia pode evoluir o quanto quiser, ninguém chegará perto.

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O simpático Remy, morador de Paris, aprecia boa comida e tem um paladar bastante sofisticado. Ele adoraria se tornar um chef para poder criar e desfrutar obras-primas culinárias para o deleite de seu coração. O único problema é que Remy é um rato. Quando ele acaba no esgoto próximo a um dos melhores restaurantes de Paris, o roedor gourmet encontra-se na posição ideal para realizar seu sonho.

Uma ode à gastronomia e ao savoir de vivre.

LIVRO: A Autobiografia de Alice B. Toklas / Gertrude Stein. O centro do Universo nos anos 1920.

Um precioso relato sobre as origens e sobre os criadores da arte e da literatura moderna do início do século 20.

A sala de visitas de Gertrude Stein, no lendário número 27 da Rue de Fleurus, reunia amigos como Picasso, Matisse, Hemingway, Jean Cocteau e Scott Fitzgerald, todos ainda jovens e desconhecidos, em informais reuniões e festas freqüentes.

A autora criou sua própria biografia da maneira mais peculiar e engenhosa possível. A narradora do livro é Alice B. Toklas, companheira de Gertrude por toda a vida, o que lhe permitiu falar de si própria na terceira pessoa e, sem falsa modéstia, tecer elogios a si mesma.

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A escritora sabia da importância da sua obra e de seu círculo de relações. É atribuída a ela a expressão lost generation (geração perdida), que classificava um grupo de escritores americanos como Ezra Pound, T. S. Eliot, Hemingway e Fitzgerald que viveram na Europa entre a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 29.

Gertrude Stein (1874-1946) era judia, nascida e educada nos Estados Unidos, e adotou a França como modo de vida. Além de escritora, foi colecionadora e imfluencer de Arte, feminista e a vanguarda em pessoa.

É um ótimo livro para conhecer a história da arte e da literatura na Paris do início do século 20. Li faz bastante tempo uma edição de bolso da L&PM. Preciso voltar a casa de Janemamãe e resgatá-la, mas temo ter se tornado livro de cabeceira da matriarca.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, tem um Trabant que é primo do Waltinho, mas ainda não foi a Paris com ele, e escreve a newsletter Alea Iacta Est.

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