Quando o exercício físico pode revelar doenças silenciosas? Médico do esporte alerta

Alterações no padrão de desempenho, tolerância ao treino ou recuperação podem ser os primeiros indicadores de doenças

18 nov 2025 - 19h15

Dr. Sebastião J. Rodrigues Junior é médico do esporte, professor na faculdade de medicina de Assis (Fema), mestre em interações estruturais e funcionais na reabilitação, membro da comissão médica da seleção feminina de futebol sub 17. A seguir, o Sport Life traz algumas das perguntas mais comuns sobre sinais no exercício físico sobre doenças silenciosas e as respostas do profissional:

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Foto: Shutterstock / Sport Life

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Durante um treino, é comum sentir cansaço e esforço. Mas quais sinais de fadiga não são normais e podem indicar algo mais sério?

De fato, a fadiga é uma resposta fisiológica esperada ao exercício. No entanto, quando ela se manifesta de forma desproporcional à intensidade do treino ou vem acompanhada de sintomas sistêmicos, é preciso atenção.

Tontura, palpitações, falta de ar intensa, dor torácica, suor frio, náuseas ou queda abrupta de desempenho são exemplos de manifestações que extrapolam o limite do esforço saudável. Esses sinais podem estar relacionados a condições cardiovasculares silenciosas, distúrbios hormonais — como hipotireoidismo —, anemia ou até desequilíbrios eletrolíticos.

Algumas pessoas relatam falta de ar ou dor no peito apenas quando se exercitam. Como diferenciar uma resposta normal do início de uma doença cardiovascular?

A diferença está na proporcionalidade e na recuperação. A falta de ar esperada surge gradualmente, acompanha a intensidade do esforço e melhora rapidamente quando o ritmo é reduzido. Já a dispneia patológica é súbita, desproporcional e tende a persistir mesmo após o término da atividade.

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O mesmo raciocínio vale para a dor torácica: uma sensação de queimação muscular é comum, mas um aperto ou peso no peito, que irradia para o braço, pescoço ou costas, pode indicar isquemia cardíaca.

Nesses casos, o exercício está apenas revelando uma limitação que, em repouso, o organismo consegue compensar.

E quando o desempenho começa a cair sem motivo aparente — a pessoa treina, se alimenta bem, mas "desanda"? Isso pode ser um sinal clínico?

Sim, e com mais frequência do que se imagina. A queda de rendimento sem alteração no volume ou na qualidade do treino é um marcador sensível de disfunções metabólicas.

A anemia reduz a capacidade de transporte de oxigênio, o hipotireoidismo diminui o metabolismo energético, e doenças inflamatórias ou infecciosas subclínicas interferem na recuperação muscular.

Nesses casos, é comum observar aumento da frequência cardíaca para cargas habituais e maior tempo de recuperação pós-esforço. O diagnóstico deve ser investigado por meio de exames laboratoriais e avaliação médica.

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Então o exercício pode ajudar a identificar precocemente doenças que os exames de rotina não mostram?

Exatamente. O exercício físico é, em essência, um teste de estresse fisiológico. Ele exige que o sistema cardiovascular, respiratório, endócrino e muscular trabalhem em sincronia.

Quando há alguma disfunção oculta, ela tende a se manifestar primeiro durante o esforço. Assim, alterações no padrão de desempenho, tolerância ao treino ou recuperação podem ser os primeiros indicadores de doenças que ainda não aparecem em exames laboratoriais convencionais.

Por isso, a prática supervisionada — aliando o olhar do educador físico ao acompanhamento médico — é uma das formas mais eficazes de detecção precoce de condições clínicas silenciosas.

Em resumo, podemos dizer que o corpo "avisa" antes de adoecer?

Sem dúvida. O organismo tem mecanismos de autorregulação muito precisos. Quando algo foge do padrão habitual — seja no desempenho, na recuperação ou na resposta fisiológica ao exercício —, o corpo está emitindo um alerta. Saber reconhecer esses sinais, é fundamental não apenas para prevenir lesões, mas também para identificar doenças em estágios iniciais, quando o tratamento é mais eficaz.

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