Maiara com 45 quilos, ozempic e edtwt: como culto à magreza tem ganhado cada vez mais força

Entenda como nova moda da magreza extrema fomenta doenças comportamentais e influência principalmente mulheres; especialista comenta

1 nov 2024 - 20h39
(atualizado em 3/11/2024 às 11h09)
Maiara fez um discurso em um show exaltando seu atual peso, de 45 quilos
Maiara fez um discurso em um show exaltando seu atual peso, de 45 quilos
Foto: Reprodução/Instagram

A epidemia do "culto à magreza", como definem especialistas de tendências, está ganhando cada vez mais força desde o começo do ano. De um lado, o aumento de 300% na busca pelo medicamento ozempic --remédio indicado para tratar diabetes tipo 2, mas usado para auxiliar na perda de peso--, segundo um estudo da plataforma DrFirst. Do outro, declarações como a da cantora sertaneja Maiara, da dupla Maiara e Maraísa, que afirmou que, aos 45 quilos, nunca esteve tão feliz e saudável.  

Há ainda o crescimento de comunidades como a "edtwt" (Eating Disorder Twitter), onde jovens com transtornos alimentares se reúnem nas redes sociais para comemorar e trocar dicas sobre anorexia e outras doenças relacionadas.

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Essa problemática vai além de um desejo estético, a busca por um corpo magro pode se tornar um transtorno alimentar quando essa preocupação se transforma em uma obsessão, afetando negativamente a vida da pessoa, como explica a especialista Manoela Figueiredo, nutricionista idealizadora da nutrição comportamental e especialista em transtornos alimentares pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.

“Essa linha é ultrapassada quando a busca pela magreza impacta o bem-estar físico, emocional e social. Os sinais de que essa preocupação se torna uma doença incluem mudanças drásticas na alimentação, como a contagem excessiva de calorias e o corte de nutrientes essenciais. A prática de atividade física em excesso, vista como uma obrigação e não como uma fonte de prazer, também é um indicativo”, explica.

Além disso, o isolamento social e distorções na imagem corporal, em que a pessoa se enxerga acima do peso mesmo estando magra, são preocupantes. Sintomas como cansaço, queda de cabelo, perda muscular, irritabilidade, ansiedade e até desmaios podem aparecer. As dietas restritivas e a manutenção de um peso muito abaixo do recomendado trazem riscos físicos e mentais significativos.

Os riscos físicos incluem desnutrição, perda de massa muscular, problemas hormonais como a amenorreia (ausência de menstruação), e distúrbios gastrointestinais, como azia e gastrite. No âmbito emocional, podem surgir depressão, ansiedade, irritabilidade e um medo constante de engordar, além de um ciclo vicioso de restrição e compulsão. 

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O uso de suplementos e métodos para emagrecimento rápido está intimamente relacionado ao culto à magreza. Esses produtos, que prometem resultados imediatos, podem resultar em efeitos adversos sérios, como danos ao fígado, distúrbios cardíacos e alterações hormonais, podendo, em casos extremos, levar à morte. Muitas dessas abordagens também contribuem para o chamado “efeito sanfona”, em que o peso perdido é rapidamente recuperado, intensificando o ciclo de dietas extremas e gerando mais problemas emocionais.

“Na atualidade, observamos uma indústria massiva que lucra com a venda de medicamentos para emagrecimento. O que se percebe é que essa indústria explora a insatisfação com a imagem corporal, promovendo produtos, suplementos e serviços relacionados à perda de peso. É interessante notar que, em uma sociedade com uma grande parcela da população enfrentando questões de sobrepeso, a insatisfação é frequentemente alimentada, levando as pessoas a se distanciarem do ideal de beleza. Essa dinâmica gera problemas e, em seguida, vende soluções, reforçando o culto à magreza”, explica Fernanda Timerman, idealizadora do Instituto Nutrição Comportamental e coordenadora do Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade (GENTA).

As especialistas reforçam que existe, atualmente, todo um sistema que trabalha no adoecimento de jovens, principalmente mulheres. De acordo com um estudo da Kantar, 20% das mulheres brasileiras sofrem com baixa autoestima. “Com a influência da mídia e das redes sociais, as pessoas tendem a buscar fórmulas mágicas e soluções imediatas. No entanto, esquecem do básico: a importância de uma nutrição saudável e da reeducação alimentar”, comenta Sabrina Franco, Nutricionista pela Faculdade FMU especialista em transtornos alimentares, obesidade e cirurgia bariátrica. 

"O emagrecimento deve ser visto como um processo, e perder peso de forma muito rápida pode ser extremamente prejudicial", complementa Sabrina. 

Atualmente, a questão é um problema de saúde pública. No Brasil, cerca de 5% da população apresenta algum transtorno alimentar e um dos fatores contribuintes para essa condição é a comparação que os jovens fazem entre si e com os perfis idealizados nas redes sociais, que geralmente não refletem a realidade. A crescente incidência de transtornos alimentares entre adolescentes e jovens foi tema de discussão na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados.

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*ERRATA: Ao contrário do que foi informado anteriormente, a cantora que afirmou estar pesando 45 kg foi a Maiara, não a Maraísa. A informação já foi corrigida.  

Fonte: Redação Terra
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