Adotou um novo pet? Confira orientações de especialistas para introduzir o recém-chegado ao lar

Especialistas em comportamento animal explicam como construir um bom relacionamento entre pets de casa e novos integrantes. Adaptação dos animais com crianças também é citada pelos profissionais

28 jun 2022 - 06h10

Do provérbio 'um é pouco, dois é bom e três é demais', alguns "pais de pet'' passam longe. Na vida daqueles que adotam novos companheiros, o processo de adaptação entre o recém-chegado e os animais da casa é uma regra que nunca vai deixar de existir. Seja gato ou cachorro, a fase de apresentação e troca entre os pets é uma etapa que exige paciência, atenção redobrada, responsabilidade e recursos financeiros.

Para proporcionar um ambiente saudável aos animais, especialistas em comportamento canino e felino dão orientações àqueles que querem ter um novo companheiro, e explicam como fica essa relação quando há crianças em casa. Tratando-se da adaptação, fatores como a idade dos animais, raça e nível de socialização interferem na relação a ser construída entre os pets.

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Segundo Samara Viana Rufino, médica veterinária especializada em comportamento felino, a decisão de adotar um novo membro envolve muito mais do que o desejo de aumentar a família. "Quando o tutor se dispõe a fazer a adoção, ele tem que lembrar que ela vem com uma série de responsabilidades. Se ele não se programar, pode enfrentar dificuldades", pontua.

Além de providenciar a alimentação, o tutor deve preparar o ambiente para o acolhimento do cão ou gato. A adaptação, segundo a veterinária, envolve tanto a troca entre os pets da casa quanto com o ambiente. No caso dos gatos, Samara lembra que eles são animais arborícolas e gostam de escalar estruturas, por isso, ter recursos para o animal caçar, brincar, subir e dormir vai ajudá-lo na ambientação do novo lar.

Para introduzir um novo animal dentro de casa, seja gato ou cachorro, a veterinária explica que o primeiro passo é investigar a saúde dele para não oferecer riscos aos outros. Após o ajuste dessas condições, o processo de adaptação começa por meio da troca visual e olfativa entre os animais, inicialmente à distância. Samara ressalta que durante essa etapa cada animal tem uma resposta aos estímulos oferecidos, por isso, precisam ser vistos como indivíduos pela singularidade de seus comportamentos.

O ideal, segundo a profissional, é que essa fase seja acompanhada por um profissional especializado. "Normalmente a indicação é de um profissional para acompanhar, pois ele vai dar estrutura para todo esse processo adaptativo até que eles possam conviver. O processo não significa que esses animais no fim vão se amar, vão ter aquela relação de sonho, mas a gente quer que eles, pelo menos, se tolerem", comenta.

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"Para o gato, por exemplo, território é tudo e eles sofrem muito mais durante esse processo quando não conseguem entender que aquele indivíduo não veio para roubar o espaço e sim para acrescentar na rotina e melhorar a qualidade de vida", orienta Samara.

E os cachorros?

Doutor em zootecnia, especializado em comportamento e bem-estar animal, Tarsys Veríssimo atua com análise comportamental de cães e explica que é muito importante conhecer o cão de casa para decidir como será a abordagem com o novo animal. "Se o tutor tem um cão muito reativo, que não foi bem socializado, ele tem que tomar certos cuidados. Se ele sabe que o cão que é extremamente sociável, que é dócil demais com outros cães, não é um fator preocupante".

De acordo com Tarsys, a primeira tarefa da adaptação é a apresentação. Em um cenário hipotético, se o tutor tem um cachorro adulto e adota um filhote, a aceitação pode ser mais rápida. "Por incrível que pareça, o cão adulto tem a percepção de que o filhote de fato é filhote. Então, ele geralmente tem um cuidado maior com o novo membro, quando é um cão adulto, se for um animal reativo ou antissocial, pode haver, então, a forma de abordar um pouco diferente", comenta.

"Se o cão que está chegando é filhote, o ideal é sempre apresentarmos no braço. Eu chego com o filhote no braço e não me dirijo até o local onde o cão que já está em casa se encontra, eu o chamo, aguardo ele sair do local e apresento o filhote de costas com a parte da cauda para que ele possa fazer o reconhecimento. Feito o reconhecimento, o tutor vai observar como está o comportamento do cão mais velho e tudo isso deve ser feito com cautela. Se for um cachorro adulto que estiver chegando em casa, durante a apresentação, os dois devem estar com guia", orienta o especialista.

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Conforme explica Tarsys, a apresentação permite que os cães se comuniquem. Após o encontro, os animais devem ficar em locais separados para evitar eventuais brigas. "O ideal é deixar separado com algum portão ou porta onde eles tenham acesso um ao outro para que possam sentir o cheiro, ouvir, estar um pouco mais próximo, mas com segurança. Se forem cães de pequeno porte, eles podem ser separados por portões pequenos ou grades que são colocadas em portas, porque eles não conseguem passar, mas conseguem se ver".

Na sequência, a aproximação dos animais vai depender do nível de interação que eles estão tendo durante o período de afastamento. "Se o tutor observar que os dois são extremamente tranquilos, já estão brincando, chamando o outro pra brincar, no outro dia já pode liberar, mas se a pessoa perceber que um dos cães está um pouco reativo à presença do outro, ou até mesmo os dois estão, é melhor deixar pelo menos dois dias separados e ir fazendo a aproximação de maneira gradual. Sempre que os dois estiverem juntos é bom ter alguma supervisão", diz Tarsys.

Confira dicas

  • Investigue a saúde do novo animal para que ele não transmita doenças para os cães ou gatos da casa;
  • Prepare a sua residência para a chegada do pet. No caso dos gatos, promova um ambiente no qual ele possa escalar, cavar e arranhar;
  • Permita que os animais tenham momentos de troca visual e olfativa supervisionada, com evolução gradual;
  • Procure conhecer mais sobre a personalidade dos pets que já moram com você e observe o comportamento deles;
  • Durante a aproximação, retire os brinquedos que o cão/gato mais antigo gosta para evitar uma disputa por recursos;
  • Recompense boas interações e distribua atenção igual aos animais;

Adaptação com crianças

Em residências com crianças pequenas ou recém-nascidas, o processo de adaptação também deve acontecer. Isso porque segundo os especialistas, os pequenos precisam ser ensinados que o cachorro ou o gato não são brinquedos para, então, estabelecerem uma relação de cuidado e respeito. "Em muitas ocasiões, os pais adquirem os cães e presenteiam seus filhos, mas não estabelecem limites na relação. Então, o que acontece? O cão começa a ver a criança como um brinquedo e vice-versa", detalha Tarsys.

Segundo Samara, a adaptação do gato com um recém-nascido é parecida com o processo que ocorre entre os animais. "Da mesma forma que a gente faz um incremento positivo com um gato novo, a gente vai adaptar o gato ao quarto do bebê, às estruturas que aquela criança vai ter, aos sons, como o choro, mesmo antes de ele ter contato para ir se habituando com o som e entender que aquele novo ser também é um benefício".

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De acordo com Tarsys, a adaptação do cão à criança e da criança ao cão depende da idade dos dois. No caso de cães filhotes, o especialista explica que não existem problemas, pois os dois vão crescer juntos. Tratando-se de cães adultos que vieram da rua, o tutor vai precisar apresentar a criança ou o bebê ao animal, inicialmente de longe, e promover a aproximação sempre utilizando uma guia.

"Deixe o cão a mais ou menos dois metros da pessoa com o bebê no colo e observe o comportamento do animal. Se ele reagir agressivamente, já é o caso de um profissional. Mas, se ele ficar balançando a cauda ou não se importar com a criança, é um bom sinal. Assim, a gente pode começar a promover a aproximação", explica Tarsys.

Ainda de acordo com o especialista, o contato próximo entre a criança e o cachorro deve ser realizado com cautela e responsabilidade. "A pessoa se abaixa, a outra com o cão na guia se aproxima aos poucos e começa a promover a possibilidade de ele [o cão] cheirar a criança pelos pés, porque o risco é menor. Cheirou e balançou a cauda é um bom indicativo", ensina.

Uma tutora e dez animais

Empresária e estudante de medicina veterinária, Priscila Cunha convive com dez animais, entre cachorros e gatos que vivem com ela e na casa da mãe. Moradora de Santos, no litoral paulista, Priscila já passou por diversos processos de adaptação. O mais recente ocorreu no final de 2021, quando ela resgatou dois gatos que foram abandonados na rua, um foi adotado e o outro ficou com a tutora.

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Na casa da empresária moram duas cachorras e dois gatos. Para fazer a adaptação do felino recém-chegado, ela conta que separou o animal em um quarto, investigou a saúde para saber se ele tinha alguma doença e deu um vermífugo. Após essa etapa, Priscila compartilhou o pano que o novo integrante deitou com os mais antigos para eles se reconhecerem inicialmente pelo cheiro.

"Depois de uns dias abri a porta do quarto e coloquei um portãozinho para eles começarem a ter contato visual com os gatinhos. E aí todo mundo ficou curioso, eu tenho uma cachorra que se dá bem com todo mundo, mas ela é muito elétrica, então os gatos ficavam com medo e, por causa da novidade, ela latia muito. O comportamento dela mudou um pouco porque ela ficou um pouco ansiosa por causa da novidade, ela queria chegar perto, queria ver, cheirar, lamber e ele ficava um pouco com medo", explica a estudante.

Apesar da euforia das trocas iniciais, Priscila conta que atualmente os animais mantêm um bom relacionamento e até dormem juntos. "Eu perdi as contas de quantas adaptações já fiz porque eu resgato animais, então vira e mexe tem animal novo aqui em casa. As minhas cachorras sempre aceitam muito bem, mas toda vez eu deixo eles se conhecerem pelo cheiro, depois deixo separados por uma grade para não chegar introduzindo um animal novo de repente porque a gente nunca sabe como eles vão reagir", comenta.

Embora já tenha realizado inúmeras adaptações, Priscila conta que certa vez acolheu uma cadela de rua e precisou lidar com o insucesso da adaptação. O animal resgatado não se adaptou com uma cadela que ela tinha e, por isso, foi morar com a mãe dela. "Elas ficaram amigas por um tempo e deu tudo certo, conviviam numa boa até que um dia a Maria [cadela que já era de casa] resolveu não gostar mais da Lupita e as duas começaram a brigar. Brigaram uma vez e eu consegui fazer elas se separarem, mas não se machucaram".

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Após a primeira briga, Priscila tentou insistir no processo de adaptação, mas as cadelas voltaram a se desentender. Na última briga, elas acabaram se machucando. "Foi uma briga muito feia e as duas se machucaram de ter que levar ponto. Aí eu falei: 'não, é o limite. Elas estão brigando muito e não vão parar de brigar'. Precisaria de uma dedicação muito maior, um tempo livre que eu não tenho, porque precisa insistir e se eu insistisse daria certo, mas eu não tinha como fazer isso e contratar um adestrador seria super caro", diz.

"Hoje em dia, todos os meus animais, exceto a Maria, convivem muito bem. então são nove animais que convivem super bem uns com os outros, os quatro cachorros e a gatinha que moram na casa da minha mãe, as duas cachorras e os dois gatinhos que moram aqui na minha casa. Eu sou vizinha de porta da minha mãe, então é como se fosse a mesma casa praticamente, só a Maria que vive separada no quintal porque ela realmente é muito brava, muito difícil", finaliza Priscila.

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