Cidade de Roraima não tem cemitério (nem pode). Saiba o motivo
Foto: Tiago Orihuela/Ale-RR/Divulgação/Arquivo
Ao longo da vida, uma pessoa pode estabelecer vínculos não só com amigos e familiares, como também laços com um lugar. Geralmente, a cidade-natal traz um valor simbólico e emocional, e no fim da vida, os moradores são sepultados onde nasceram. No entanto, não é o que acontece com a população de Pacaraima, que faz fronteira com a Venezuela, ao norte de Roraima, que não tem cemitério por um fator curioso.
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Nesse sentido, o solo da cidade é carregado de caulim, um tipo de minério que retarda a desintegração de corpos, tornando-a muito lenta, quase eterna. Diante disso, não existe a menor chance de haver cemitérios para se despedir dos entes queridos no local, tendo que enterrá-los em outros municípios de Roraima.
Foto: Reprodução TV Globo
Pacaraima foi fundada em 1995 e jamais teve um cemitério. Uma das alternativas da população local é enterrar os entes queridos na capital Boa Vista, que fica a 215 km. Antes disso, os moradores eram enterrados na região de Surumu, que fica localizado a cerca de 70 km da sede da cidade, algo equivalente a uma viagem de 1h30 de automóvel.
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De acordo com o pesquisador, o município necessita passar por um mapeamento geológico completo, mas acredita-se que quase que o solo completo possui caulim. O solo da sede de Pacaraima é argiloso, úmido e macio, que pode dificultar a decomposição em virtude da saponificação.
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Dessa forma, é possível que o solo passe a aderir aos tecidos do corpo e retarda a decomposição. Algo similar a um processo de mumificação — dessecação da pele e dos músculos que são conservados mesmo após a morte.
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"O que é essa porosidade? É o espaço vazio entre um grão outro, esse espaço vazio [é onde] vão passar os fluidos. Quando entra em decomposição, o corpo humano forma um líquido chamado necrochorume, e esse líquido pode ser altamente poluidor", esclareceu Lena Barata à TV Globo.
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Pela queda da porosidade no solo de Pacaraima, o material orgânico pode contaminar o meio geológico, o que seria um risco caso existisse um cemitério no local.
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"Isso vai ajudar a trapear, assegurar qualquer líquido que advenha da decomposição dos cadáveres, que pode ser poluidor. Esse líquido chamado necrochorume tem metais pesados e também pode conter patogenias. Essas patogenias podem fluir por algum corpo hídrico e contaminar a população ao redor, principalmente as patogenias como tétano e tuberculose", ressaltou.
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A cidade é conhecida como a porta de entrada para os venezuelanos e com uma população de 19.305 pessoas, de acordo com o Censo de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Segundo a resolução ambiental do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), publicada em março de 2006, os cemitérios não podem ser construídos em Áreas de Preservação Permanente.
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Também não podem naqueles que exijam desmatamento de Mata Atlântica primária ou secundária, em estágio médio ou avançado de regeneração. Além disso, os terrenos não podem ser predominantemente cársticos, que apresentem cavernas, sumidouros ou rios subterrâneos.
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"Porque esse líquido [necrochorume] tem que ser canalizado e [isso é feito] por tubulações mesmo. Cada túmulo tem [ou teria] que ser captado para [o líquido] não ser disposto de qualquer forma em profundidade", disse Lenaa.
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Apesar do fenômeno natural, a prefeitura de Pacaraima afirma que disponibiliza o Auxílio Funeral. Os familiares, assim, possuem direito a urna e translado até Boa Vista, a 215 km da cidade.
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O falecido, então, só pode ser enterrado na capital de Roraima no cemitério particular Campo da Saudade, localizado no bairro Centenário, porque no municipal não há mais vagas. No cemitério público Nossa Senhora da Conceição, localizado na zona Sul de Boa Vista, só enterra as pessoas que já possuem jazigo.
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"Existe um motivo geológico para o caulim estar lá, mais lá em Pacaraima do que no município de Boa Vista, por exemplo. Essa concentração lá em Pacaraima se deve pela forma como essa rocha ígnea passou pelo processo de intemperização", afirmou a pesquisadora. Lena Barata à TV Globo
Foto: Reprodução TV Globo
"O caulim pode ser usado na construção civil. Em que parte? Na própria construção da obra mesmo, de engenharia, dos prédios, da casa, da tinta. O caulim também é utilizado para revestimento de casas, porque como ele tem esse poder de absorção e adsorção, ele ajuda a segurar um pouco a temperatura. Então, ele meio que dá um resfriamento para casa", completou
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