Como praia no Nordeste mudou luz de poste para salvar filhotes de tartaruga

Anteparos em luminárias na orla de Aracaju evitam que a claridade ofusque a visão dos animais que se guiam pela luminosidade natural do mar; a intenção é impedir que eles sigam para as ruas e morram

1 nov 2024 - 20h11

A orla da Praia dos Náufragos, em Aracaju, capital de Sergipe, passou a receber anteparos nos postes de iluminação para evitar que a luz ofusque a visão dos filhotes de tartarugas. A fotopoluição é um problema que ameaça a sobrevivência desses animais: à noite, os filhotes saem do ninho para fugir de predadores. Em seguida, correm em direção ao mar orientados pela luminosidade que ele reflete em condições naturais.

Com o excesso de iluminação nas orlas cada vez mais urbanizadas, tartaruguinhas desorientados acabam seguindo para as ruas em vez de irem para o mar, morrendo por desidratação ou por ataque de predadores.

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"Era recorrente uma pessoa encontrar os filhotinhos desorientados na orla, onde na maioria das vezes esses neonatos era atropelados ou mortos por desidratação por não terem conseguido encontrar o caminho do mar", conta o engenheiro ambiental Ederson Luiz da Fonseca, pesquisador da Fundação Projeto Tamar. A situação mudou, segundo ele, depois da nova iluminação, que começou a ser instalada em 2023.

A colocação de anteparos nos postes de iluminação é considerada por especialistas um passo importante para a preservação da biodiversidade.

O analista ambiental do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Erik Allan Pinheiro dos Santos lembra, no entanto, que a orla de Aracaju tem 20 km e um trecho inicial fortemente iluminado e urbanizado.

"Até hoje, apenas na Praia dos Náufragos foi instalado um conjunto de postes com características adequadas, cobrindo aproximadamente 1 km. Mas para uma avaliação mais precisa, seria necessário expandir essa área", afirma.

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Aves, insetos e até mamíferos também são prejudicados pela fotopoluição

Segundo o secretário municipal da Infraestrutura e presidente da Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) de Aracaju, Sérgio Ferrari, estão sendo realizados testes e há "tratativas para instalar os anteparos em outros trechos da orla da Atalaia".

Ele informou que a primeira medida foi a substituição, em toda a cidade, das lâmpadas de vapor de sódio pela tecnologia em LED, que é mais econômica, potente e traz melhor luminosidade no período noturno.

"Depois disso, conversamos com o ICMBio para adotar soluções que não prejudicassem o ciclo de vida dos filhotes de tartarugas marinhas, que precisam da luz da lua para se orientar em relação à maré", afirmou.

Além dos anteparos para evitar que esses filhotes vissem a luz artificial, também foi reduzida a potência da iluminação, e a direção das luminárias foi alterada.

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O analista ambiental explica que os impactos do excesso de luz à noite vão além das tartarugas: a fotopoluição pode prejudicar aves, insetos e até mamíferos, modificando comportamentos e aumentando a vulnerabilidade desses animais.

"As noites estão cada vez mais claras. Os mamíferos noturnos, por exemplo, têm suas atividades naturais comprometidas pela exposição à luz. Eles podem ser impedidos de encontrar alimento ou se tornam presas fáceis", diz.

Fonseca, do Projeto Tamar, afirma que é preciso avançar também em outros aspectos, como a conscientização da sociedade sobre os efeitos negativos da ocupação desordenada do litoral.

"Além da fotopoluição, a erosão costeira também vem sendo apontada com uma ameaça não só para as tartarugas marinhas, mas também a nós mesmos. Promover a recuperação das populações de tartarugas marinhas, desenvolvendo ações de pesquisa, conservação e inclusão social é a nossa missão", afirmou.

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Sobre o Projeto Tamar

A Fundação Projeto Tamar realiza estudos com esse tema desde 2015, fazendo diagnósticos de praias e testes de desorientação em áreas de desovas com iluminação artificial, para avaliar e mitigar o problema da fotopoluição.

A entidade, sem fins lucrativos, existe desde 1988 para apoiar as atividades desenvolvidas pelo Projeto Tamar, ao longo do litoral brasileiro. Atualmente é co-executora do PAN - Plano Nacional de Ação para a Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil do ICMBio/MMA, sendo responsável por grande parte das ações previstas.

Em Sergipe, são monitorados 163 km de praias, consideradas áreas prioritárias de reprodução da tartaruga-oliva porque têm as maiores proporções de desovas desta espécie.

"Cerca de 15 mil ocorrências reprodutivas são registradas a cada temporada pelas equipes das bases de pesquisa. Estima-se um total de mil desovas a cada temporada reprodutiva na capital sergipana", diz Fonseca.

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