O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta quinta-feira (6) a Cúpula do Clima de Belém, que antecede a COP30 e reúne líderes do mundo todo para discutir o combate à crise climática no planeta, com um discurso incisivo em que criticou negacionistas e disse que o aquecimento global é reflexo das desigualdades.
Diante de uma ameaça existencial para a humanidade, o mandatário brasileiro alertou que "a janela de oportunidades que temos para agir está se fechando rapidamente" e reiterou que a ação climática não pode ser dissociada do enfrentamento à pobreza.
"A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que, ao longo de séculos, fraturaram nossas sociedades entre ricos e pobres e cindiram o mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Será impossível contê-la sem superar as desigualdades dentro das nações e entre elas. A justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo, da igualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva", afirmou Lula em seu pronunciamento.
O presidente ainda criticou os que negam o aquecimento global e denunciou que "forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e a degradação ambiental".
Essa é a primeira cúpula climática internacional realizada na Amazônia, maior floresta tropical da Terra e que, segundo Lula, é o principal "símbolo no imaginário global da causa ambiental".
"É justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso de sua casa", ressaltou.
No discurso, o presidente celebrou que o Acordo de Paris, assinado em 2015, afastou a humanidade do prognóstico de um aumento de 5ºC nas temperaturas globais até o fim deste século em relação à era pré-industrial, provando que "a mobilização coletiva gera resultados", mas alertou que o regime climático "não está imune à lógica de soma zero que tem prevalecido na ordem internacional".
"Em um cenário de insegurança e desconfiança mútua, interesses egoístas imediatos preponderam sobre o bem comum de longo prazo. O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, e a ciência já indica que essa elevação vai se estender por algum tempo ou até décadas", disse Lula, salientando que a Terra caminha para um aquecimento de 2,5ºC neste século.
"Segundo o Mapa do Caminho Baku-Belém, as perdas humanas e materiais serão drásticas. Mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano. O PIB global pode encolher até 30%. Por isso, a COP30 será a COP da verdade. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la", destacou.
Lula encerrou o discurso citando uma crença do povo indígena yanomami, que acredita que cabe ao ser humano sustentar o céu para que ele não caia sobre a Terra. "Essa perspectiva dá a medida da nossa responsabilidade perante o planeta, principalmente diante dos mais vulneráveis, mas também reconhece que o poder de expandir horizontes está em nossas mãos. Temos que abraçar um novo modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e de baixo carbono. Espero que esta cúpula contribua para empurrar o céu para cima", concluiu.