O aumento do fluxo de passageiros no Aeroporto de Belém devido à COP30 impulsionou as vendas e movimentou a economia local, com destaque para o comércio e serviços, enquanto trabalhadores enfrentam rotinas mais intensas.
A um dia do início oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), o Aeroporto Internacional de Belém tornou-se o principal termômetro da chegada de delegações, jornalistas, ambientalistas e turistas de todos os cantos do planeta. O movimento, segundo funcionários, aumentou muito em comparação aos últimos meses, impulsionando também as vendas e a economia local.
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De acordo com dados do Núcleo Operacional da Amazônia (NOA), que administra o terminal, a expectativa é de 508 mil passageiros, somando embarques, desembarques e conexões durante o período do evento. O aeroporto, que recentemente passou por obras de ampliação e modernização de R$ 450 milhões, agora tem capacidade para atender até 13 milhões de passageiros por ano, quase o dobro da estrutura anterior.
Antes mesmo de chegar à capital paraense, o aumento no fluxo já era perceptível. Em Guarulhos (SP), funcionários de companhias aéreas relatavam voos lotados para Belém, com a presença de autoridades e representantes internacionais. Dentro da aeronave, havia passageiros de diversas nacionalidades conversando em diferentes idiomas --japonês, árabe, espanhol e inglês--, refletindo o caráter global do evento. A expectativa, segundo o pessoal das companhias, era de que mais autoridades chegassem ao longo do dia e nos próximos voos.
“O fluxo aumentou muito”
No saguão de desembarque, a movimentação não para. Josiane Cristina Silva da Costa da Rosa, 42 anos, trabalha na limpeza do aeroporto e descreve uma rotina que se tornou uma maratona. “Muita movimentação, muita gente chegando. O fluxo aumentou desde a semana passada, principalmente agora com a COP. A gente cuida de três banheiros, então é correria pra deixar tudo limpo e causar boa impressão”, contou.
Ela ressalta que as mudanças no trânsito e os feriados decretados nos dias 6 e 7 de novembro ajudaram na locomoção dos trabalhadores. “Os ônibus foram gratuitos para a gente vir trabalhar. Foi uma boa medida, porque tirou muitos carros da rua e facilitou o acesso de quem vem participar da cúpula”, disse.
Josiane também notou a presença de figuras ilustres e visitantes internacionais. “A gente viu americanos, africanos e até o príncipe William! Ele foi bem humilde, acenou pra todo mundo. Está sendo positivo, gerou emprego e renda. A economia deu uma melhorada, a cidade ficou até mais bonita.”
Lucro subiu
Entre os corredores do terminal, o aumento da circulação se reflete diretamente nas vendas. Thiago Teixeira Costa, 22 anos, vendedor de uma loja de alimentos e souvenirs, resume o impacto em uma palavra: “positivo”.
“Durante o início da COP o movimento foi grande. Clientes toda hora, arrumação o tempo todo. O lucro aumentou bastante. Acredito que o movimento cresceu consideravelmente, talvez tenha até dobrado”, contou.
Ele percebeu também a presença marcante de estrangeiros. “Tem americanos, africanos, portugueses. A gente tenta se virar no inglês e no espanhol, mas o importante é atender bem. Hoje [domingo] foi um pouco mais tranquilo que os outros dias, mas a semana toda foi bem intensa.”
Outra funcionária de uma loja no mesmo terminal, que preferiu não se identificar, confirmou o bom momento. “Estou até cansada, hoje domingo que costuma ser calmo foi corrido. Todos os tipos de gringos. Mas está sendo ótimo para o lucro, aumentou muito desde os dias que antecederam a Cúpula dos Líderes.”
Do outro lado do volante: o impacto nos aplicativos de transporte
Se para o comércio e os serviços do aeroporto o saldo é positivo, para alguns motoristas de aplicativo o cenário foi de altos e baixos. Um deles, ouvido pela reportagem durante o trajeto de saída do aeroporto, relatou queda no faturamento nos primeiros dias da conferência.
“Com o feriado, perdemos nosso público principal: o pessoal que trabalha, das escolas. No início do mês não fiz nem 50% do que costumo fazer. Foi uma quebra”, afirmou.
O ponto facultativo decretado pelo Governo do Pará nos dias 6 e 7 de novembro afetou a rotina da cidade. Escolas e faculdades suspenderam as aulas até o fim do evento, que termina no dia 21. “As escolas pararam mesmo”, resumiu o motorista.
*A repórter viajou a convite da Motiva, idealizadora da Coalizão pela Descarbonização dos Transportes.