Vettel, sobre motor híbrido da F1: “Eficiente, mas inútil”

Piloto da Aston Martin teme pelo futuro da Fórmula 1 se categoria não liderar o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis

13 out 2021 - 09h13
(atualizado às 09h16)
Na Turquia, Vettel usou camiseta com mensagem sobre a preservação da água
Na Turquia, Vettel usou camiseta com mensagem sobre a preservação da água
Foto: Aston Martin / Twitter

Sebastian Vettel, tetracampeão de Fórmula 1 e atualmente correndo pela Aston Martin, tem se tornado um dos pilotos mais ativos em causas sociais. E uma pauta em especial tem sido a que mais lhe chama a atenção: o meio ambiente. O piloto tem usado sua voz para abordar temas relacionados à preservação do meio ambiente, além de participar ativamente de ações e organizações relacionadas ao tema. 

Durante o fim de semana do GP da Turquia, Vettel falou sobre o futuro da Fórmula 1, e se mostrou preocupado. Para ele, a organização ainda tem feito menos do que deveria para caminhar em uma direção mais sustentável, o que pode custar até mesmo a sobrevivência da categoria. 

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Tudo começou quando, em entrevista à Motorsport Itália, Vettel foi questionado se achava que havia algum conflito entre o fato de ser um ativista do meio ambiente e piloto de corridas de carros. O alemão concordou, e aproveitou para se aprofundar no tema. “Claro que há. E acho que é válido, porque a F1 não é verde. Acho que vivemos em um período em que temos inovações e possibilidades para, sem dúvidas, fazer a F1 ser verde sem perder o espetáculo, a empolgação, a velocidade, o desafio ou a paixão.” 

Uma das críticas do piloto foi direcionada à atual unidade de potência da F1, um intrincado conjunto composto por um motor V6 turbo de 1,6 litro de deslocamento somado a baterias que armazenam energia cinética e térmica captadas por sistemas de recuperação. Para Vettel, o modelo é interessante, mas não pode ser aplicado em carros de rua, o que faz com que perca a relevância para o setor automotivo. 

“Sobre as regras atuais, acho que são empolgantes, o motor é super eficiente, mas é inútil. Não é uma configuração de motor que você vai ter nas ruas em dois anos quando for escolher um novo carro para comprar. A partir disso, podemos discutir: qual é a relevância?” 

A Fórmula 1 pretende aplicar mudanças em seu regulamento de motores a partir de 2025, oficialmente, mas se fala nos bastidores que as novas regras devem ficar apenas para o ano seguinte. Até lá, o desenvolvimento dos motores ficará congelado, tendo como única novidade o uso de gasolina E90 (com 10% de etanol na gasolina) a partir do ano que vem. Para Vettel, esse é mais um erro. 

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“Temos um motor para o ano que vem em que teremos o acréscimo de só 10% de combustíveis ecológicos, o que não é nenhuma revolução tecnológica”, afirmou o piloto. “Você já pode comprar esse combustível há vários anos em vários lugares do mundo. Não é novidade alguma.” 

Vettel afirmou que, em sua visão, a Fórmula 1 não está mais ditando o caminho em termos de tecnologias automotivas, mas apenas reagindo às tendências. Seu temor é que, com o congelamento do desenvolvimento de motores, mais uma vez a categoria perca tempo: “Isso não combina com as ambições da F1 de ser líder em tecnologia. Estamos reagindo, não sendo proativos em liderar o caminho.” 

Ainda não há uma definição de como seria a configuração dos novos motores pós-2025, mas uma coisa que está definida é que a categoria pretende se tornar neutra em emissão de carbono até 2030 com o uso de combustíveis sintéticos. Para Vettel, essa é outra oportunidade que a F1 pode estar perdendo de assumir protagonismo: “Sobre os combustíveis sintéticos, sinto que temos a mesma oportunidade, mas receio que vamos acabar apenas reagindo também, não liderando.” 

O cenário, para o tetracampeão, é preocupante. Se a Fórmula 1 não se movimentar de forma proativa em direção a um futuro sustentável e apenas seguir pressões, tais pressões podem se tornar grandes demais. E aí, o risco não é só de perda de relevância no futuro. 

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“Até há algumas conversas de que algo possa mudar antes, mas está tudo congelado até 2025, mais provável até 2026, o que significa mais cinco anos sem progresso”, disse Vettel. “Acho que isso vai colocar nosso esporte sob uma pressão enorme, porque sinto que haverá muita mudança em todo o mundo nesse período, espero, e isso pressionará quem não mudou junto.” 

Por fim, o piloto da Aston Martin ressaltou a urgência de se buscar mudanças significativas nos rumos da Fórmula 1. Para ele, se essas mudanças não acontecerem, podemos esperar até pelo fim da categoria. 

“Acho que há certas coisas que tem sido faladas para o futuro do esporte em termos de regulamento que podem impulsionar uma mudança e direcionar para mudanças ainda mais relevantes. Acho que, se isso vier, será não só algo bom para a Fórmula 1, mas também vital. Mas, se não vierem, não sou muito otimista. Nesse caso, acho que a Fórmula 1 vai desaparecer. E, provavelmente, com razão.” 

Em tom preocupado, Vettel concluiu afirmando não haver mais margem para erros no que diz respeito aos cuidados com o meio ambiente. E não apenas a Fórmula 1, mas a humanidade como um todo: “Estamos em um ponto em que cometemos muitos erros e não temos mais tempo para continuar errando”.

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