Alpine: uma equipe emPIASTRIada em sua própria jogada

A Alpine se julgava tranquila na escolha de pilotos, mas levou uma volta de Alonso e Piastri. Mais uma vez a F1 mostra que é para espertos

4 ago 2022 - 15h45
(atualizado às 15h53)
Alpine: um time que poderia estar aproveitando agora o crescimento de desempenho. Mas...
Alpine: um time que poderia estar aproveitando agora o crescimento de desempenho. Mas...
Foto: Alpine F1 Team / Divulgação

Para quem achava que as férias de versão da F1 seriam tranquilas, um engano colossal apareceu diante dos olhos. Em uma semana, um turbilhão foi iniciado na quinta-feira anterior ao GP da Hungria, quando Sebastian Vettel anunciou a sua aposentadoria da F1.

Este movimento detonou um processo febril. E estes dois dias foram desarvorados. Terça foi enlouquecedora e vários textos foram feitos e desfeitos.  Agora é possível escrever de uma forma mais clara.

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Não vou falar do Piastri e do Alonso diretamente. Mas sim pela visão da Alpine. Não é uma questão de “passar pano”, porém de se colocar no lugar dos franceses. Bem como mostrar como todo este movimento é puro suco do “Clube das Piranhas” que é F1.

Se tivesse que fazer uma comparação, tudo se assemelhou a um jogo de pôquer. Até o final de julho, a Alpine se julgava coberta em termos de pilotos. Ocon era algo tranquilo pois tem acordo até 2024. Alonso, mesmo com seus 41 anos, vem entregando bem e estava totalmente integrado à estrutura. Uma renovação era dada como certa e muito bem encaminhada.

Mas se Alonso não fechasse? Esta possibilidade parecia muito pequena. Porém havia Oscar Piastri, o australiano trabalhado cuidadosamente na academia do time e que ganhou os três últimos campeonatos de base que participou. O que se sabia era que o contrato obrigava que ele fosse titular em 2023 e havia negociações para que fosse para a Williams. Se não fechasse com Alonso, havia ele.

Vendo por este aspecto, se entenderia que a Alpine estava muito bem coberta, correto? Fez uma jogada tranquila: tenho o meu principal piloto com a renovação encaminhada e tenho um jovem piloto na minha carteira que pode atender.

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Tudo lindo e maravilhoso. Só que como diria Garrincha, teria que combinar com os russos...

Como diz o ditado, o diabo mora nos detalhes. Alonso foi contactado pela Aston Martin e acertou sua ida. Mas logo depois de ter passado o prazo do contrato de Piastri. Em paralelo, os empresários do australiano (comandados por Mark Webber, que era apoiado por...Flavio Briatore) fecharam um pré-acordo com a McLaren para que tivesse um posto no time em 2023 por entender que a Alpine fecharia com Alonso.

O que aparece é que, além disso, a Alpine não gostaria de um acordo mais longo com Alonso, o garantindo para 2023 e depois o alocando no projeto WEC da marca em 2024, quando teria seu hipercarro.

Todo este movimento deixou a gestão da Alpine com cara de tacho e totalmente em um mato sem cachorro. O atual CEO, Laurent Rossi, é uma cria da Renault (chegou a trabalhar no Google) e veio para comandar o time para ser finalmente vencedor, no lugar de outra cria da marca: Cyril Abiteboul. Otmar Szafnauer não é um iniciante na F1 e veio para recompor a equipe. Mais um caso de “volta” na F1, onde o mais bobo dá nó em pingo de éter usando luvas de box em um quarto escuro...

Agora, se cria uma tremenda saia justa. Alonso simplesmente foi Alonso e arrebentou qualquer clima positivo que havia, embora Szafnauer tenha dado a entender que não morria de amores pelo espanhol. Piastri deu um truco na Alpine, que julga ter direito de exercer o acordo. Agora, o time fica com a possibilidade de receber Daniel Ricciardo de volta, que aparentou ser desprestigiado pela McLaren, mesmo tendo falado que ficaria para 2023.

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Tudo isso em um momento em que a Alpine vinha crescendo de desempenho e passou a McLaren no 4º lugar do Campeonato de Construtores, assumindo o posto de "melhor do resto". Tudo foi perdido em um estalar de dedos...

Não seria surpresa se um nome que surgiu ano passado e ficou meio de lado viesse a aparecer com força agora: David Brivio, que era o responsável pelo programa da Suzuki na MotoGP. O italiano chegou a ser cogitado para voltar este ano, mas foi mantido na Alpine, com um papel definido pelo próprio como “ligação entre a fábrica e a equipe de pista”.

Davide Brivio: o ex-chefe da Suzuki é um nome que pode aparecer no comando da Alpine
Foto: F1 / Divulgação

O fato é que mais uma vez a Alpine se vê forçada a mais um ajuste na rota. E como se criar uma mentalidade vencedora, brigar por vitórias se não encontram o caminho? Tudo bem que agora a pressão de custos reduziu, mas o prejuízo de imagem é imenso.

O fato é que Luca Di Meo, CEO da Renault, deve estar fulo dentro das calças e com certeza deveremos ter novidades na gestão do time. Afinal, a permanência dos franceses na F1 e o fortalecimento da marca Alpine foi uma das pedras angulares do seu programa “Renaulution” de reestruturação da gigante francesa. Não podemos esquecer que a Renault que tem que prestar conta com acionistas e em um ramo que sente com mais força a desaceleração econômica, qualquer tropeço ajuda...

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