Chevrolet brinca com fogo ao mexer nos preços do Tracker

Há 7 meses custava R$ 90 mil ter um Tracker 1.2; hoje custa R$ 121 mil. Entenda o porquê da diferença de R$ 31 mil (não é só a pandemia)

26 out 2020 - 05h00
(atualizado às 22h25)
Tracker Premier 1.2 Turbo: motor de 133 cavalos ficou inacessível para muitos clientes da Chevrolet.
Tracker Premier 1.2 Turbo: motor de 133 cavalos ficou inacessível para muitos clientes da Chevrolet.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

A General Motors já sabe quem vai pagar a conta dos prejuízos causados pela pandemia de coronavírus: o cliente Chevrolet. Isso mesmo. A exemplo do que vem acontecendo com outras marcas, os preços dos carros da GM aumentaram bastante este ano, mas no caso do fabricante americano existe um componente extra: a mudança na comercialização do Chevrolet Tracker, um sucesso comercial que se transformou em novo líder dos SUVs.

Faz sentido aumentar os preços para reduzir os prejuízos? Claro que faz! Porém, o malabarismo que a GM encontrou para modificar totalmente a estratégia comercial do Chevrolet Tracker coloca a conta só nas costas do consumidor que se encantou com o Tracker 1.2. Ora, foi a própria Chevrolet que criou uma narrativa poderosa sobre as qualidades do motor 1.2 turbo de 133 cv de potência e 210 Nm. Com ele, o Tracker passou de mero figurante no mercado de SUVs a líder. Agora, entretanto, para ter um Tracker 1.2, o cliente Chevrolet precisa desembolsar R$ 121.290.

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Motor 1.2 é importante em estradas de pista simples, mas para ter um agora custa quase R$ 32 mil a mais.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

Com os novos preços da linha Tracker -- divulgada em primeira mão pelo GUIA DO CARRO no dia 2 de outubro --, o SUV compacto 1.2 se tornou um carro inatingível para a maioria dos consumidores. Quando foi lançado, no dia 18 de março, o novo Tracker tinha três versões com motor 1.2 e câmbio automático: a de entrada por R$ 90.500, a LTZ por R$ 99.900 e a Premier por R$ 112.000. Em outubro, entretanto, as duas versões mais acessíveis foram eliminadas do catálogo e restou apenas a Premier, que agora custa os já citados R$ 121.290. Num período de sete meses, o acesso do consumidor ao Tracker 1.2 teve um aumento de R$ 31.700.

A GM argumenta que os clientes queriam a versão Premier -- que é mais bem equipada -- num carro mais acessível. Por isso, o Tracker Premier passou a ser oferecido também com motor 1.0 turbo de 116 cv e 165 Nm por R$ 114.590. Até aí, tudo bem. A questão aqui não é o preço de cada versão, mas sim a eliminação das versões com motor 1.2, o mais potente, o mais eficiente e o mais adequado para o peso do carro. O Tracker LTZ, que antes era 1.2 e custava R$ 106.490, agora é 1.0 e custa quase a mesma coisa: R$ 105.490. São R$ 1.000 a menos por 17 cavalos a menos (uma conta correta por parte da GM).

Chevrolet Tracker Premier: versão topo de linha é a única disponível com motores 1.0 e 1.2.
Foto: GM / Divulgação

Em termos mercadológicos, a GM brinca com fogo ao mexer nos preços do Tracker. Seria perfeitamente compreensível que a versão de entrada do motor mais potente saísse de linha, mas tirar também a LTZ é dar uma exclusividade ao Tracker 1.2 que não se justifica. A versão Premier 1.2 não é nada barata para existir sozinha. Mas existe uma razão. E a razão é que a GM quer pagar menos impostos na venda do Tracker, por culpa de uma defasada lei brasileira que obriga carros 1.2 a pagarem mais IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) do que os carros com motor 1.0. É injusto, mas o consumidor não tem nada com isso! Os preços estão assim:

  • Tracker 1.0 Turbo MT: R$ 88.790
  • Tracker LT 1.0 Turbo: R$ 97.290
  • Tracker LTZ 1.0 Turbo: R$ 105.490
  • Tracker Premier 1.0 Turbo: R$ 114.590
  • Tracker Premier 1.2 Turbo: R$ 121.290

Notem que a diferença da versão Premier 1.0 para a Premier 1.2 é de R$ 6.700. Portanto, caberia na linha um Tracker LTZ 1.2 Turbo por R$ 112.190. Mas ele não existe, pois a GM não quer ter uma margem menor. Na prática, a GM prefere vender o Tracker 1.0 com o preço apimentado para ter maior margem de lucro. Porém, o fã do Tracker que não está nadando em dinheiro agora terá que se contentar com o modelo de 116 cv. E a verdade é que, perante a concorrência, o Tracker se torna menos competitivo. 

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Interior do Tracker Premier 2021: ótima conectividade é um dos pontos altos do carro na versão 1.0.
Foto: GM / Divulgação

O Chevrolet Tracker entra na última semana de outubro liderando as vendas de SUVs. Está em 1º lugar com 5.182 emplacamentos. Sustenta uma distância boa para 2º colocado, o Jeep Compass, que tem 4.731 e é de uma categoria superior. Em 3º lugar vem o Jeep Renegade com 4.333, seguido do Hyundai Creta (4º lugar com 4.130) e do Volkswagen T-Cross (5º lugar com 3.956). 

Ninguém quer que a GM faça caridade, mas sim que mantenha em sua linha de carros a opção de um Chevrolet Tracker com seu bom motor 1.2 turbo também numa versão mais acessível -- afinal, nem todos pensam só em multimídia ou em equipamentos de luxo. Muitos consumidores ainda prezam a velha e boa potência, sempre útil na hora de uma ultrapassagem em estrada de pista simples ou mesmo quando se pretende fazer uma viagem longa.

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