Há 20 anos a família de Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort, busca respostas sobre seu desaparecimento. O caso voltou à tona em um documentário lançado na plataforma Disney+, que narra não só a história de Priscila, como também do sofrimento de aproximadamente 80 mil famílias de pessoas que desaparecem no Brasil todos os anos, afirmou a mãe Jovita Belfort ao programa Terra Agora nesta quinta-feira, 26.
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Atualmente, Jovita atua como superintendente de Pessoas Desaparecidas e Documentação da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva, a mãe de Priscila se emocionou ao dar detalhes sobre o caso e orientou famílias que sofrem com o desaparecimento de entes queridos.
"O sentimento no início é geral, é quando você começa a perceber que seu ente querido está fora daquele contexto. Foi quando eu comecei a ver que a Priscila não voltou do almoço, ela sempre ligava e naquele dia, não. O namorado dela ligou perguntando por ela, e eu comecei a sentir que aquilo tudo estava fora de contexto. Aí começa a angústia", contou Jovita.
"Quando vira o outro dia, e você vê que nada aconteceu, que sua filha está realmente desaparecida, dá vontade de gritar para o mundo 'Onde está minha filha?', e nisso já se vão 20 anos me fazendo a mesma pergunta sem resposta", destacou.
O caso de Priscila expõe as complexidades de situações de desaparecimento que, segundo a mãe, ainda estão longe de serem compreendidas pela população: "Em 2019, você tem uma lei que tipifica o que é um desaparecido e fala, pela primeira vez, que não se pode arquivar um caso até haver uma resposta, mas chega uma hora em que não tem mais novidade, o caso fica encostado e é praticamente abandonado".
Jovita destacou o peso emocional de um desaparecimento dentro de um núcleo familiar: "Desestruturação, tem mães que perdem o emprego, o empregador acha que ela vai sair a qualquer hora, as mães perdem a saúde. Eu mesma perdi a minha saúde. O Volta, Priscila é muito mais que o caso da Priscila Belfort, é que uma família sofre quando tem uma pessoa desaparecida" .
"O caso foi aberto, eu espero que os jornalistas realmente instiguem, perguntem, eu não quero esperar mais 20 anos, nem vou estar viva, mas tem um ano que o caso foi reaberto, e eu realmente espero que venha alguma coisa", desabafou a mãe de Priscila.
Ela ainda ressaltou que as primeiras horas são fundamentais nas buscas de pessoas que desapareceram: "Hoje, a gente sabe que não tem que esperar as 24 horas, quanto mais cedo você perceber que seu ente querido está desaparecido e for à polícia fazer um B.O., melhor, porque é nas primeiras horas que você tem mais chances de encontrar aquele seu parente".
Como foi o caso
Priscila Vieira Belfort desapareceu no dia 9 de janeiro de 2004, no centro do Rio de Janeiro, onde trabalhava em um prédio próximo à Avenida Presidente Vargas. Ela foi vista pela última vez na Avenida Marechal Floriano, por volta das 13h, por um colega de trabalho que disse que ela parecia desatenta.
A família registrou um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento na 14ª DP, no Leblon. Após buscas ininterruptas, o caso foi noticiado em rede nacional pela primeira vez no Domingo Legal, do SBT. A investigação do caso passou a ser conduzida pela Delegacia Antissequestro (DAS).
Nos meses que se seguiram ao desaparecimento de Priscila, a polícia passou a considerar o envolvimento de uma quadrilha do Morro da Providência. Uma operação chegou a ser feita em busca de uma garagem desativada onde, segundo denúncias, estaria Priscila. No entanto, nenhum vestígio dela foi encontrado.
Em agosto de 2007, após a exibição de um programa especial de Priscila no Linha Direta, uma mulher de 27 anos, Elaine Paiva, se entregou e confessou fazer parte da quadrilha que sequestrou, estuprou, esquartejou e queimou o corpo de Priscila, como consequência de uma suposta dívida de R$ 9 mil. Ela indicou um sítio em São Gonçalo onde estariam os restos mortais da vítima, mas nada foi encontrado no local. Meses depois, Elaine disse que era tudo mentira.
Até hoje, o caso de Priscila Belfort continua sem solução.
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