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WhatsApp Pay não vai rivalizar com bancões e fintechs, diz setor financeiro

Empresa de maquininhas de cartão se preparou durante 2 anos e meio para operar o meio de pagamentos do Facebook

5 mai 2021 - 15h34

Após quase um ano do seu lançamento, o WhatsApp conseguiu reestrear no disputado universo de pagamentos brasileiro. Mais do que um rival para as inovações como Pix, do Banco Central, iti, do Itaú Unibanco, além de meios tradicionais para receber e enviar dinheiro, os parceiros do Facebook, dono do aplicativo de mensagens, veem na novidade uma nova arma para diminuir a circulação de dinheiro no País, considerada ainda elevada, e turbinar a 'veia instantânea' no sistema financeiro.

A corrida, agora, é, assim como aconteceu com o Pix, para ser o banco emissor escolhido pelos usuários do WhatsApp para transferir dinheiro. Maior mercado da big tech no mundo, o aplicativo tem 120 milhões de usuários no Brasil. "Queremos ser o primeiro cartão no WhatsApp Pay", diz o diretor do Itaú Unibanco, Rubens Fogli, ao Estadão/Broadcast. "Quem chegar primeiro lá, a gente entende que será mais difícil (de outro banco conseguir)", acrescenta.

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De três emissores, a solução de pagamentos do WhatsApp foi relançada ontem, dia 04, com um apoio mais robusto, com a adesão de nove instituições financeiras: Banco do Brasil, Inter, Bradesco, next, Itaú, Mercado Pago, Nubank, Sicredi e Woop Sicredi, além das bandeiras internacionais Visa e Mastercard, e a Cielo, como a maquininha oficial. Em paralelo ao processo de aval do BC, a big tech iniciou um trabalho para atrair pesos pesados para a ferramenta, conforme antecipou o Estadão/Broadcast, no fim do mês passado.

O Itaú diz que nunca questionou a entrada na ferramenta, mas que julgava necessário evoluir em alguns pontos de segurança. A discussão com o BC foi importante nesse sentido, para o banco se preparar, diz Fogli. Testada por funcionários em São Paulo e no Rio de Janeiro, a expectativa é que a solução esteja em uso em larga escala, convite a convite, em até 60 dias.

"Você recebe pedidos de transferência de dinheiro por apenas um canal? Não. É por e-mail, WhatsApp, telefone. Agora, a maioria é por WhatsApp. Imagine fazer a transferência a partir dali?", raciocina o diretor do Itaú. "Vemos como um canal relevante e não concorrente", diz, sem precisar um potencial na base do banco.

Apesar de a entrada das big techs no sistema financeiro brasileiro ter sido dificultada, há um discurso unificado de que o WhatsApp não vem para competir, mas para completar as formas de transferir dinheiro no País. Um dos motivos que teria levado o BC a ser mais duro na autorização para o WhatsApp teria sido, conforme fontes, exatamente uma eventual concorrência ao Pix, sistema de pagamentos instantâneos do BC.

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"Temos uma grande necessidade de acabar com o dinheiro. Precisamos colocar na mão do consumidor todas as formas possíveis", diz o presidente da Mastercard, João Pedro Paro Neto, ao Broadcast.

A pandemia foi na contramão do esforço feito pelo setor de desenvolver os meios de pagamentos eletrônicos, reduzindo o papel moeda no Brasil. Com o empurrão do pagamento do auxílio emergencial, distribuído a uma grande parcela de não-bancarizados, a circulação de dinheiro teve um aumento de 10% no ano passado em relação a 2019, atingindo um valor recorde, segundo o Banco Central.

Apesar do potencial da ferramenta do WhatsApp, os parceiros não revelam suas expectativas. "É mais uma forma de pagar. Vamos ver como o consumidor vai decidir. Importante era a gente lançar", diz o presidente da Mastercard. "É prematuro falar em volume".

Para o executivo, o tempo de demora de aprovação junto ao BC não diminui o potencial da nova tecnologia, que tem mais condição de "acabar com o dinheiro no Brasil". Lançada em junho do ano passado, a ferramenta do WhatsApp foi suspensa pelo órgão regulador 15 dias depois, que alegou a necessidade de averiguar os riscos de competição e privacidade da novidade, adiando a entrada das big techs no sistema financeiro brasileiro.

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De lá para cá, uma série de reuniões entre integrantes do Facebook, seus parceiros e do BC ocorreu, com frequência mensal - e, às vezes, semanal - para aparar as arestas até que o aval definitivo fosse concedido. Dentre as exigências feitas pelo regulador, a big tech teve de se adequar à nova regulação de iniciador de pagamentos, figura criada pela autoridade monetária, uma espécie de carteira digital, após o lançamento da solução do WhatsApp.

Após nove meses de suspensão e pouco mais de 30 dias para sua estruturação final, a ferramenta da big tech foi liberada ontem a usuários do aplicativo que tenham um cartão de débito ou pré-pago dos emissores parceiros. Os usuários podem transferir até R$ 1 mil por operação, em um total de 20 envios por dia, com limite de R$ 5 mil por mês. O limite poderá ser menor, a depender de cada banco.

A princípio, transferir dinheiro por meio do WhatsApp será possível somente entre pessoas físicas, o chamado P2P, na sigla em inglês. Não haverá custos. O P2M, quando a transferência é feita de pessoa para estabelecimentos, ainda depende de aval do BC para ser lançado e, portanto, ficou para depois.

Além da tecnologia embarcada, que promete escalar os pagamentos instantâneos no Brasil, os parceiros exaltam a segurança da ferramenta, que nasce com meios de proteção como a tokenização - aquela chave aleatória para transações - e a autenticação das transações. "São precauções importantes. Nasce robusta", conclui o presidente da Mastercard.

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Sede da Cielo.
Sede da Cielo.
Foto: Divulgação/Cielo / Estadão

Escolhida como estrutura do WhatsApp Pay, Cielo quer ser reconhecida como empresa de tecnologia

Escolhida pelo Facebook para ser a responsável pela operação do WhatsApp Pay no Brasil, a adquirente Cielo, famosa por suas maquininhas de pagamentos, diz que ter o nome acoplado aos aplicativos de Mark Zuckerberg é uma forma de carimbar a empresa como uma potência nos meios de pagamentos digital.

"Somos uma empresa além das maquininhas. A Cielo é cada vez mais uma empresa de tecnologia do que uma adquirente. Termos sido escolhidos pelo WhatsApp é motivo de orgulho, mas é também um reconhecimento pela nossa capacidade de se adequar à transformação digital", afirma ao Estadão/Broadcast o presidente executivo da empresa, Paulo Caffarelli.

A Cielo passou cerca de 2 anos e meio preparando a estrutura de pagamentos que viria a ser o WhatsApp Pay. Em junho de 2020, quando a novidade foi implementada, o Banco Central barrou a novidade sob a justificativa de que era preciso analisar questões relativas a competitividade e privacidade. Em 30 de março deste ano, a autarquia finalmente deu sinal verde para o Facebook implementar o recurso, que começa a ser gradualmente implementado nos celulares dos brasileiros.

Atualmente, o WhatsApp Pay está disponível apenas para pessoas físicas, em formato conhecido como peer-to-peer. Futuramente, em etapa que segue em análise pelo Banco Central, lojistas poderão se credenciar à rede da Cielo para receber pagamentos feitos pelo aplicativo de mensagens — mas não há previsão para que a função fique disponível ainda.

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"Existe uma população desbancarizada e a gente tem um trabalho grande para fazer a inclusão digital no Brasil", explica Caffarelli, citando iniciativas como open banking, Pix e balcão de recebíveis como positivas para a modernização do sistema e para diminuir a quantidade de moeda em circulação, o que ajuda na redução de custos de transporte e de segurança. "Passamos por uma grande transformação digital tanto no sistema financeiro quanto no meio de pagamentos. E o WhatsApp Pay é um dos passos da nossa empresa nesse sentido." / COM GUILHERME GUERRA

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