Com novo fundo de US$ 3 bi, SoftBank coloca os dois pés na América Latina

Dois anos e meio após fundo de US$ 5 bilhões, grupo japonês reforçará investimentos na região

14 set 2021 - 18h30

O SoftBank, nome por trás dos investimentos de algumas das principais startups da América Latina, acaba de colocar os dois pés na região. O conglomerado anuncia nesta terça, 14, que criou um segundo fundo para aportes em empresas de tecnologia. Batizado de "Fund II", o fundo terá valor inicial de US$ 3 bilhões, enquanto o conglomerado estuda opções para aumentar o montante.

Lançado em março de 2019, o primeiro fundo, que contava com valor de US$ 5 bilhões, gestou uma geração inteira de unicórnios (startups avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão) latinoamericanos, incluindo alguns dos principais nomes brasileiros. Entre os unicórnios nacionais apoiados pelo SoftBank estão Loggi, Gympass, QuintoAndar, Creditas, Vtex e MadeiraMadeira. Além disso, outro nome bastante conhecido dos brasileiros está no portfólio do grupo: a Rappi. No total, o SoftBank fez cheques para 15 dos 25 unicórnios latinoamericanos.

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Assim, como na primeira fornada de startups, o conglomerado manterá uma visão ampla de países e segmentos. Entre os setores mencionados pelo SoftBank estão comércio eletrônico, serviços financeiros digitais, saúde, educação, blockchain e software corporativo. Caso mantida a visão, os primeiros unicórnios em educação e saúde do Brasil podem estar no horizonte - em fevereiro, o SoftBank participou da rodada que injetou R$ 450 milhões na Descomplica, startup de educação fundada no Rio de Janeiro.

"Nos últimos dois anos, vimos um tremendo sucesso e retorno do SoftBank Latin America Fund, que superou em muito as nossas expectativas. O trabalho e a visão incríveis que os empreendedores latino-americanos vêm demonstrando na região nos dá confiança de que sua transformação digital continuará a acelerar", diz em nota Marcelo Claure, diretor executivo do SoftBank Group International e responsável por comandar os fundos na América Latina.

"A decisão do SoftBank é interessante. A América Latina não está no seu melhor momento em termos de crescimento, com alguns países ainda sofrendo os danos da pandemia e outros com instabilidade política. Ainda assim, parece que muitos ativos nesses países estão baratos, como o setor elétrico, ou existem segmentos específicos que ainda indicam crescimento, como bancarização. Além disso, há todos os problemas de infraestrutura (urbana, logística, etc) que são, também, oportunidades", avalia Guilherme Fowler, professor de inovação do Insper.

Claure continua vendo com otimismo as startups da região."Esperamos que 2022 seja o maior ano em termos de IPO da história da América Latina", diz ele. Porém, para quem se acostumou a ver o grupo fazendo apenas grandes cheques, o SoftBank indica uma ampliação de foco. No comunicado, o grupo diz que pretende investir em empresas em "em todos os estágios de seu desenvolvimento, desde a fase inicial até se tornarem públicas". A guinada já era esperada pelo mercado desde que se tornou pública a contratação de Rodrigo Baer, ex-Redpoint eventures.

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A mudança vai de encontro a um movimento mais amplo no mercado. Em junho, o Kaszek, que compartilha vários investimentos em unicórnios brasileiros com o SoftBank, anunciou dois novos fundos que somam US$ 1 bilhão. No radar, estão também startups em estágio inicial. Outro peso-pesado que indicou aportes em startups latinoamericanas de tamanhos variados é o Sequoia Capital, que tem entre seus nomes investidos o Nubank.

Além de garimpar novas oportunidades, a ampliação do perfil também ajuda a dar mais equilíbrio na distribuição de recursos no Brasil. Recentemente, os cheques voltados para startups maiores apresentaram grande crescimento, enquanto investimentos voltados para fases iniciais de empresas não tiveram o mesmo ritmo.

De maneira geral, do ponto de vista do SoftBank, a nova estratégia é vista com bons olhos. "O SoftBank poderá entrar nas rodadas antes, aumentando o potencial tamanho da participação e entrando em negócios numa fase em que outros grandes fundos não entram. O lado potencialmente negativo é que isso pode gerar um aumento na avaliação das empresas nessa fase, dependendo do tamanho do fundo e sua estratégia", diz Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) e colunista do Estadão.

Já Fowler avalia que há outro desafio para o novo fundo: "Há indícios de que o Fed vai iniciar um movimento de elevação da taxa de juros no futuro não muito distante. Isso pode colocar uma pressão maior no retorno dos investimentos a serem realizados". Até aqui, o SoftBank afirma que o seu primeiro fundo gerou retorno de 85%.

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"Continuaremos a apoiar o crescimento de empresas de tecnologia em quase três dezenas de países e temos orgulho de ser o investidor em tecnologia mais ativo na região. Agora é a hora de dobrarmos nosso compromisso com a região", diz Claure.

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