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Ex-investidor do Facebook, Peter Thiel quer destruir gigantes da tecnologia

Maior doador do Partido Republicano, americano largou o conselho do Facebook para fortalecer a direita dos EUA

27 jun 2022 - 05h10

Em uma manhã de verão de 2019, o deputado republicano Matt Gaetz estava tomando café da manhã na mansão do investidor bilionário Peter Thiel, que viria a se tornar um dos maiores doadores do Partido Republicano. Na época, Thiel estava envolvido em discussões ao estilo de "ser ou não ser" sobre se deveria deixar o conselho do Facebook. Como sabia do amor de Thiel por Shakespeare, Gaetz brincou apelidando-o de Hamlet.

Como muitos republicanos, Gaetz via a gigante das redes sociais como cada vez mais monopolizadora e perigosa. Ele e outro convidado, o empresário e ex-provocador de direita Chuck Johnson, encorajaram Thiel a deixar a empresa. Mas o bilionário se recusou, dizendo aos dois que esperava mudar a rede social estando dentro da empresa, de acordo com duas pessoas a par da conversa.

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No mês passado, Thiel finalmente deixou a rede social, dando fim de modo formal a uma das parcerias mais poderosas na história do Vale do Silício. Como o primeiro investidor externo do Facebook, participante mais antigo do conselho da empresa e um conselheiro próximo do CEO Mark Zuckerberg desde que ele a lançou em seu segundo ano em Harvard, em 2004, Thiel ajudou a mudar o rumo da empresa cujos produtos atendem a bilhões.

A ambição de Thiel em servir como um arquiteto da direita americana vinha crescendo cada vez mais em desacordo com sua posição no conselho de um dos principais inimigos do movimento - uma mudança política que se encaixava com sua própria alienação crescente do Vale do Silício.

Reportagens na época diziam que Thiel deixara o conselho do Facebook para focar na política, inclusive em uma lista de candidatos ao Congresso de 2022 alinhados com o ex-presidente Donald Trump.

Mas entrevistas com algumas pessoas próximas a ele indicam que sua saída foi ensaiada durante anos, motivada por uma crescente rixa filosófica entre Thiel e o Facebook, conforme os conservadores se sentiam incomodados com a disposição da indústria da tecnologia em policiar o discurso online. Thiel, de acordo com aqueles próximos a ele, foi perdendo a vontade de atuar como defensor do Facebook à medida que suas aspirações políticas amadureceram.

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Esta reportagem é baseada em entrevistas com mais de uma dezena de pessoas familiarizadas com as opiniões de Thiel, que falaram sob a condição de anonimato para poder mencionar conversas privadas.

Desde março de 2021, Thiel injetou mais de US$ 20 milhões em 16 campanhas políticas, entre elas a da disputa pela vaga no Senado por Ohio, onde o sócio e parceiro J. D. Vance no mês passado ganhou as primárias republicanas, em parte atacando as gigantes da tecnologia e a censura nas redes sociais. Thiel também doou pelo menos US$ 13,5 milhões para Blake Masters, candidato republicano ao Senado pelo Arizona que atua como presidente da Fundação Thiel e se posicionou como um adversário das gigantes da tecnologia.

Novas reportagens mostram que Thiel tem como objetivo transformar a cultura americana - e financiar suas guerras culturais - por meio do que seus parceiros chamam de empreendimentos comerciais "antiwoke"(contrários a questões relacionadas à justiça social e racial), incluindo um festival de cinema de direita, um aplicativo de relacionamentos gay para conservadores fundado por um ex-aliado do governo Trump e uma empresa, a Strive Asset Management, que "pressionará os CEOs a se afastar de causas ambientais, sociais e políticas", disse Vivek Ramaswamy, cofundador da empresa - como petrolíferas "comprometendo-se a reduzir a produção para atingir metas ambientais".

Mais desses investimentos estão a caminho, disseram as fontes - embora o próprio Thiel não tenha certeza da etapa final do plano.

"Peter acredita fortemente que há uma enorme oportunidade na criação de uma economia paralela", disse Ramaswamy, ex-CEO de biotecnologia e autor do livro "Woke, Inc.: Inside America's Social Justice Scam" (Woke LTDA: Por dentro do golpe de justiça social dos Estados Unidos, em tradução livre).

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"Servir aos americanos que estão insatisfeitos com o mundo corporativo americano hoje seria o pilar da próxima geração de grandes empresas - e quase ninguém está indo atrás dessa oportunidade com seriedade", disse ele.

A influência política crescente de Thiel é semelhante a de outro bilionário do Vale do Silício, Elon Musk, libertário autodeclarado que defende cada vez mais opiniões de direita para seus 94 milhões de seguidores no Twitter, ao mesmo tempo em que finaliza a transação para comprar a rede social. Eles não são amigos - Thiel demitiu Musk quando os dois estavam à frente do PayPal -, mas têm se tornado mais alinhados politicamente, muitas vezes ecoando a retórica um do outro enquanto criticam o investimento "socialmente responsável" e expressam preocupação com o controle das gigantes da tecnologia sobre a liberdade de expressão.

Eles têm um amigo em comum da época em que trabalhavam no PayPal, David Sacks, que avaliou indivíduos interessados em oportunidades políticas com ambos os bilionários, de acordo com uma das fontes. Thiel está entusiasmado com a compra do Twitter por Musk, disseram dois colaboradores.

Thiel e Musk talvez indiquem o surgimento de uma nova geração de bilionários da tecnologia, retirando seus generosos investimentos e ideologias distintas das empresas que proporcionaram suas fortunas para construir uma nova versão da direita americana. É um grupo poderoso que tem o potencial de consagrar uma geração crescente de líderes políticos, transformando o Partido Republicano e o Vale do Silício.

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Durante o governo Trump, reportagens mostraram que o relacionamento de Thiel com o Facebook se tornou cada vez mais tenso, assolado por conflitos que o deixaram com a sensação de que a empresa estava agindo contra seus valores, de acordo com quatro pessoas. Em uma palestra de 2021 ao lado do ex-secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, Thiel criticou o Facebook por apoiar "políticas woke" e "tentar boicotar" a conta do ex-presidente Trump.

"Desde pelo menos 2018, ele está muito preocupado com o Facebook. Ele estava incomodado com a forma como a empresa estava usando seu poder monopolizador", disse outra das pessoas familiarizadas com as opiniões de Thiel. "Mas estava relutante em sair porque sentia que podia fazer mais, influenciar mais mudanças estando dentro da empresa."

Em 2022, Thiel foi convencido: a mudança que ele queria seria conquistada com ele fora do Facebook.

Influência

Thiel se recusou a dar entrevista. O Facebook encaminhou ao Post os comentários públicos de Zuckerberg a respeito da saída de Thiel do conselho. "Peter foi um integrante valioso do nosso conselho e sou profundamente grato por tudo o que ele fez pela nossa empresa - desde acreditar em nós quando poucos o fizeram, até me ensinar tantas lições sobre negócios, economia e o mundo", disse Zuckerberg em um comunicado à imprensa.

O bilionário sempre foi um caso atípico entre a equipe em grande parte progressista do Facebook e o conselho de administração. Um autodeclarado libertário gay e imigrante alemão que veio para os EUA quando jovem, ele conquistou seu patrimônio inicial no Vale do Silício ao cofundar o processador de pagamentos PayPal em 1998. Ele fez o investimento anjo de US$ 500 mil no Facebook em 2004, quando Zuckerberg ainda era um universitário de Harvard.

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Ele também foi um dos primeiros e entusiasmados participantes das guerras culturais. Como estudante de graduação na Universidade Stanford, ele fundou o jornal de direita do campus, o Stanford Review, que publicava artigos chamando professores progressistas de marxistas disfarçados e protestava contra a inclusão de autores não brancos no currículo da escola, de acordo com o jornalista Max Chafkin, autor da biografia de Thiel, "The Contrarian" (O do contra, em tradução livre).

Mesmo assim, Thiel foi considerado por muito tempo o integrante mais influente do conselho do Facebook, dando a Zuckerberg opiniões que costumavam contrariar o posicionamento dos demais conselheiros, disseram três das pessoas.

"Mark prestava atenção ao que ele dizia", afirmou uma das pessoas. "Mark valorizava a posição contrária [dele]. Peter defendia uma diversidade de opiniões na plataforma, e Mark defendia uma diversidade de opiniões no conselho."

E a influência de Thiel podia ser sentida em toda a empresa. Em seu best-seller de 2014, "De zero a um", ele argumentou que as empresas devem se esforçar para fazer um produto tão singular que elas se tornem monopólios - ao mesmo tempo em que os empresários consolidam o poder administrando suas empresas como monarquias. Segundo várias pessoas, Zuckerberg parecia acatar esses ensinamentos, desde a estrutura do conselho do Facebook, que dá ao CEO a maioria das ações com direito a voto e controle máximo, até suas iniciativas agressivas para comprar ou copiar concorrentes incipientes, uma estratégia que deu origem a acusações de que a empresa é um monopólio. (O Facebook nega essas acusações.)

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Durante anos, Thiel atuou como construtor de pontes com conservadores, de modo especial na primavera de 2016, depois que o site de tecnologia Gizmodo publicou que um pequeno grupo de funcionários estava bloqueando de forma intencional os veículos de comunicação de tendência direitista, um recurso usado para exibir notícias populares na plataforma. Naquele verão, Thiel ajudou a combater as acusações de viés progressista, intermediando uma reunião a portas fechadas entre Zuckerberg e políticos e editores conservadores de destaque, entre eles o apresentador da Fox News, Tucker Carlson.

Alguns executivos do Facebook pensavam que Thiel estava passando dos limites para ajudar seus futuros aliados políticos. Essas tensões viriam à tona mais tarde naquele verão, quando Thiel doou US$ 1,25 milhão para a campanha presidencial de Donald Trump e o apoiou em seu discurso na Convenção Nacional Republicana.

Isso colocou o investidor em rota de colisão com os participantes democratas do Conselho do Facebook e a base progressista de funcionários. Depois do discurso de Thiel na convenção, ele recebeu um e-mail de um colega do conselho, o CEO da Netflix, Reed Hastings, que chamou a decisão de "catastroficamente ruim". Hastings não quis se pronunciar.

Sentindo-se atacado, Thiel compartilhou o e-mail com Johnson, que mais tarde vazou a mensagem para o New York Times, de acordo com duas das pessoas entrevistadas. O vazamento do e-mail recebido por Thiel provocou uma ruptura e um sentimento de traição dentro do conselho, de acordo com duas pessoas a par do tema.

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O apoio de Thiel a Trump - junto com comentários de um livro coescrito com David Sacks, que voltaram a ganhar destaque, de que "uma acusação de estupro multicultural talvez não indicasse mais do que um arrependimento tardio" e que algumas acusações de estupro são "seduções posteriormente arrependidas" - provocou protestos dentro do Facebook durante a época das eleições, mas Zuckerberg continuou a defender seu conselheiro. (Thiel pediu desculpas pelos comentários.)

"Não podemos criar uma cultura que diz se preocupar com a diversidade e, depois, excluir quase metade do país porque eles apoiam um candidato político", escreveu Zuckerberg, de acordo com uma cópia vazada de um memorando de outubro de 2016, fazendo referência a "preocupações com Peter Thiel".

Thiel permaneceu no conselho após o incidente, mas pouco depois começou a falar da vontade de renunciar, disseram três das pessoas entrevistadas. Em 2017, ele vendeu a maior parte das ações que ainda tinha do Facebook.

Depois de Trump ser eleito, Thiel, com a ajuda de Masters, começou a recrutar talentos no Vale do Silício para trabalhar no novo governo. Ao mesmo tempo, ele se tornou cada vez mais inserido em uma filosofia de direita que começou a ver a "censura das gigantes da tecnologia" como um alvo e a criticar bastante a China.

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Ele se tornou amigo do conselheiro de Trump, Stephen Bannon, um dos falcões antiChina, antes da eleição de 2016. Depois de voltar de uma turnê de divulgação de seu livro pelos EUA, Thiel começou a defender opiniões antiChina cada vez mais fortes, inclusive a ideia de que as empresas de tecnologia americanas estavam escondendo espiões chineses. Em 2019, ele afirmou que o Google, um alvo de longa data dos ataques de Thiel, estava sendo "impregnado" de inteligência chinesa e chamou a empresa de "traidora". Depois, ele atacou a Apple por depender da China para sua cadeia de suprimentos.

Durante anos, Zuckerberg cortejou a China na esperança de entrar em seu mercado lucrativo.

Pouco depois de Thiel intensificar seu discurso antiChina, Zuckerberg mudou completamente de comportamento. Em uma audiência no Congresso de 2020, o CEO acusou a China de roubar tecnologia dos EUA. Novas provas sugerem que isso pode ter acontecido em parte devido à influência de Thiel: ele e Zuckerberg conversaram a respeito da China, e a súbita postura antiChina do Facebook foi, de certo modo, fomentada pelo desejo entre os executivos da empresa de ganhar a simpatia de pessoas próximas a Trump, disseram as fontes.

Enquanto isso, a posição da direita nas redes sociais já estava começando a mudar. Após revelações em 2017 de que os agentes russos usaram o Facebook para espalhar desinformação de forma generalizada, e a manifestação Unite the Right em Charlottesville, na Virgínia, que foi organizada e promovida nas redes sociais, as empresas de tecnologia criaram novas regras para o discurso de ódio e a desinformação, contratando milhares de moderadores de conteúdo para aplicá-las.

A consequência: uma série de medidas severas que impactaram de modo desproporcional os conservadores, que eram mais propensos a desrespeitar essas regras. Entre os primeiros alvos estavam o teórico da conspiração e personalidade da mídia Alex Jones e o influenciador da extrema-direita Milo Yiannopoulos, que foi expulso do Twitter depois de participar de uma campanha de assédio contra a atriz Leslie Jones.

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"Para as pessoas da direita, tudo isso foi visto como vingança pela vitória nas eleições de 2016", disse Amalia Halikias, gerente de campanha de Masters e ex-diretora de política de campanha do senador republicano Josh Hawley, outro beneficiário de longa data da generosidade de Thiel.

Os protegidos de Thiel estavam aproveitando essa suposta perseguição para ganhar força. Hawley se tornaria um dos maiores críticos das gigantes da tecnologia no Senado, junto com o senador republicano Ted Cruz, outro representante formado em uma faculdade de Direito de elite que recebeu centenas de milhares de dólares de Thiel desde sua primeira candidatura ao Senado em 2012.

Movimentação

Em 2018, Thiel tinha se tornado tão avesso ao Vale do Silício que mudou o endereço de sua casa e de suas empresas de investimento para Los Angeles, segundo várias pessoas entrevistadas.

As conexões dele com a extrema-direita, por outro lado, só aumentavam. Thiel, que já era há muito tempo um doador discreto de think tanks conservadores, tornou-se um financiador da Conferência Nacional do Conservadorismo, um espaço emergente para figuras populistas da direita em ascensão. Ele se aproximou de Johnson, que conheceu Thiel em uma conferência quando era universitário, e que está proibido de usar o Twitter desde 2015, por supostamente atacar um ativista do movimento Black Lives Matter. (Johnson, que processou o Twitter por sua suspensão, diz que sua expulsão foi injusta e que seu tuíte era "parte de um projeto jornalístico".)

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Por meio de Johnson, Thiel tornou-se amigo de Gaetz, então visto como uma estrela em ascensão no Partido Republicano. A dupla teve longas conversas filosóficas a respeito do que viam como o poder das empresas de tecnologia para silenciar as pessoas e ameaçar a democracia americana, disseram duas fontes. No ano passado, Gaetz sugeriu que seus apoiadores reivindicassem seus direitos garantidos pela Segunda Emenda para lutar contra a capacidade do Vale do Silício de "cancelar" pessoas que não "se conformam com sua maneira de pensar". (Um porta-voz de Gaetz disse na época que a interpretação era uma "interpretação extremamente irresponsável" de seus comentários.)

Além de seu apoio a candidatos que atacavam o Facebook, Thiel também prejudicou a empresa e a pessoa de Zuckerberg, mostram novas reportagens. Ele ficou chateado porque Zuckerberg e sua esposa, Priscilla Chan, deram mais de US$ 400 milhões a organizações sem fins lucrativos para ajudar a financiar a realização das eleições de 2020, uma doação vista pela direita como uma ajuda desproporcional aos democratas. Isso levou a um artigo de opinião furioso publicado pelo jornal New York Post e escrito por Vance e Masters, que debateram a questão com Thiel, disseram as pessoas entrevistadas.

Em 2021, Thiel seguiu os passos do amigo do Stanford Review e colega investidor Keith Rabois e mudou-se para Miami, onde compraram mansões à beira-mar e abriram uma filial da empresa de capital de risco de Thiel, a Founder's Fund.

Embora Thiel tenha em grande parte se mantido afastado das eleições presidenciais de 2020, em março de 2021 ele deu US$ 10 milhões para a candidatura com poucas chance de sucesso de Vance, um ex-funcionário que escreveu o best-seller "Era uma Vez um Sonho: A História de uma Família da Classe Operária e da Crise da Sociedade Americana". Uma contribuição de US$ 10 milhões para Masters aconteceu em abril.

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Com a ajuda de Thiel para garantir o apoio de Trump e uma injeção de última hora de US$ 1,5 milhão, Vance venceu as primárias de Ohio, disse uma pessoa a par do funcionamento interno da campanha. Vance agora enfrenta o democrata Tim Ryan na disputa para substituir o senador republicano aposentado Rob Portman, político moderado que endossou o principal adversário de Vance.

Embora Thiel tenha expressado dúvidas quanto a se o governo Trump foi caótico demais para atingir seus objetivos, de acordo com duas pessoas, ele mantém laços com Trump e seu genro, Jared Kushner. Thiel almoçou com Trump no resort de luxo Mar-A-Lago em fevereiro, disse uma das fontes. Ele levou Masters para se encontrar com Trump na esperança de garantir um apoio, disseram duas pessoas entrevistadas.

O argumento de Vance - de que ele era um antigo insider do Vale do Silício que se voltou contra as empresas - repercutiu de forma poderosa entre os eleitores das primárias do Partido Republicano, disse Luke Thompson, que dirigiu um comitê político independente financiado por Thiel para apoiar Vance.

Em seus comícios de campanha e nas prefeituras, Vance recebeu seus maiores elogios quando atacou empresas de tecnologia, protestando contra a expulsão de conservadores proeminentes, inclusive o próprio Vance, que foi suspenso durante um breve período devido ao que o Twitter disse ser um mal-entendido em relação à confirmação da autenticidade de sua conta.

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"Aposto que metade das pessoas nesta sala foram alvo de shadow-banned no Facebook", disse Vance em um comício em Dayton durante a última semana de sua campanha.

Mas a ligação de Thiel com o Facebook às vezes prejudicava ambos, de modo especial a Masters. Quando Masters estava fazendo campanha no Arizona, os moradores locais perguntaram por que seu principal financiador era um integrante do conselho do Facebook. Seu adversário publicou recentemente um anúncio em que atacava Masters chamando-o de "fantoche das gigantes da tecnologia da Califórnia".

A resposta de Masters, assim como a de Vance, era dizer que os insiders podem desmantelar o sistema de dentro.

Thiel deu um total de pelo menos US$ 20.188.842 neste ciclo eleitoral, o que lhe transformou no quinto maior doador do Partido Republicano, de acordo com o banco de dados da organização sem fins lucrativos Center for Responsive Politics Open Secrets. Mas o banco de dados tem os registros apenas das divulgações até 31 de março, então o cálculo não leva em consideração as últimas doações de Thiel para Masters e Vance, ou seu investimento em grupos sem fins lucrativos que não são obrigados a divulgar doações (dark money groups) e tentam influenciar a trajetória do Partido Republicano, mas não estão vinculados a um candidato específico.

Ele também deu pequenas quantias a mais para uma dúzia de outros candidatos, alguns dos quais abraçaram a mentira de que a fraude eleitoral generalizada fez com que Trump perdesse a disputa pela presidência.

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Apesar dos generosos cheques, as pessoas que conhecem Thiel dizem que a percepção dele como influenciador na escolha de candidatos a cargos políticos está errada. Ele faz apostas em indivíduos que conhece bem, em vez de investir em uma rede ampla, dizem elas. Ao contrário de outros megadoadores, Thiel não criou uma operação política completa, com funcionários cujo trabalho é verificar oportunidades para doação política.

"A maioria dos doadores está interessada em espalhar sua influência com muitos candidatos", disse Thompson. "Eles não querem colocar todos os ovos na mesma cesta."

Pessoas familiarizadas com o estilo de doação de Thiel salientaram que ele trata a política como capital de risco e candidatos como fundadores de startups, dando grandes quantias desde o início para apoiar ideias e pessoas com potencial.

E Thiel, segundo as fontes, não tem certeza do que ele quer. Ele disse às pessoas que não tem certeza se apoiará Trump em 2024, disse um parceiro de longa data, que mencionou não ser evidente se o próprio Thiel acredita na "grande mentira".

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"Há uma ambivalência em relação ao aparato político como um todo e um foco maior em indivíduos de confiança. Ele está bem distante de estar apenas se aventurando, mas ainda há essa hesitação", disse uma das pessoas entrevistadas.

Ao contrário de Musk, cujo principal megafone para provocação é o próprio Twitter, Thiel é alguém que fica nos bastidores focando em investimentos que atendam aos consumidores, em sua opinião, negligenciados por instituições sociais com tendências esquerdistas.

Além do festival de cinema, ele financiou um aplicativo de orações católicas, o aplicativo de relacionamentos conservador, e uma alternativa de direita ao YouTube, o Rumble. Um investimento recente é a Strive, empresa que visa rivalizar com megaempresas, como a Vanguard, e fará a aquisição de grandes participações em empresas para afastá-las de pautas relacionadas ao meio ambiente, às causas sociais e ao que o grupo descreve como agendas políticas que prejudicam os negócios.

"Ele não é como um general apostando suas fichas e traçando um plano coerente", disse uma pessoa familiarizada com as opiniões de Thiel. "Ele está fazendo apostas com foco em pessoas e coisas com as quais ele se preocupa. Ele é mais como um professor. Mas intelectualmente, ele está no modo de batalha."

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Embora não esteja ativo no Twitter, Thiel se envolve em lançamentos de bombas retóricas. Durante seu discurso na abertura de uma conferência de criptomoedas em Miami, em abril, uma multidão o aplaudiu e o vaiou enquanto Thiel lia com raiva o que descrevia como sua "lista de ódio" pessoal - indivíduos e ideias que ele disse serem os verdadeiros inimigos das criptomoedas e, portanto, do progresso econômico.

Quando o Facebook anunciou a decisão de Thiel de não concorrer à reeleição para o conselho nesta primavera, muitos funcionários do Facebook comemoraram abertamente, disseram duas fontes.

Mas a expectativa é que Thiel continue aconselhando de modo informal Zuckerberg, e é pouco provável que sua influência desapareça completamente. A empresa não queria que ele deixasse o conselho, disseram duas pessoas entrevistadas.

Mas estar livre da conexão formal com o Facebook, disseram essas pessoas, permitirá que Thiel promova suas ideias de formas maiores - mesmo que ele mesmo não saiba bem como será esse futuro.

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"A esquerda quer um vilão. A direita quer alguém que financie seus desejos", disse uma das fontes. "Consigo vê-lo se encaixando nesse papel. Mas não há uma grande perspectiva para isso."

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