Após o encerramento, na segunda-feira (13), da cúpula sobre a Faixa de Gaza em Sharm el-Sheikh, no Egito, o presidente norte-americano Donald Trump afirmou nesta terça-feira (14) que "decidirá o que acha justo" para o futuro do enclave e dos palestinos. Em Israel, o Exército informou que os corpos dos quatro reféns entregues na véspera pelo Hamas foram identificados.
As declarações de Trump foram feitas no retorno aos Estados Unidos, após uma viagem de um dia a Israel e ao Egito. Segundo ele, muitos são favoráveis à solução de dois Estados na região, mas a questão ainda não foi definida.
Na véspera, uma declaração para a consolidação do cessar-fogo em Gaza foi assinada no Egito, estabelecendo três prioridades: o reforço da ajuda humanitária ao enclave; a futura administração da Faixa de Gaza, com um conselho palestino cujos nomes já foram definidos, mas não divulgados; e a estabilização da segurança no território, o que inclui o desarmamento do Hamas.
O presidente francês Emmanuel Macron, que participou das discussões em Sharm el-Sheikh, defendeu a inclusão da ONU nas decisões sobre o futuro de Gaza.
"Há consenso entre os participantes sobre a necessidade de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU", declarou Macron.
O presidente francês informou que já havia abordado o tema anteriormente com o presidente Trump e com o secretário de Estado Marco Rubio, com o objetivo de avançar nessa direção.
Para Macron, esse esforço conjunto visa "aprovar uma resolução que estabeleça bases sólidas e forneça um arcabouço jurídico para Gaza, permitindo também o envio de diversas forças internacionais de apoio."
Corpos de reféns identificados
Israel anunciou nesta manhã que identificou os corpos dos quatro reféns entregues na véspera pelo grupo Hamas, como parte da primeira fase do acordo de paz na Faixa de Gaza. Entre eles, há um cidadão nepalês. O país ainda aguarda os restos mortais de outras 24 pessoas.
O Fórum das Famílias dos Reféns, que celebrou a libertação dos 20 israelenses sequestrados pelo Hamas ainda vivos, afirmou que a luta ainda não terminou. Ela só será encerrada quando todos os corpos dos reféns mortos em cativeiro e ainda em Gaza forem restituídos e enterrados com dignidade.
Já o Exército israelense informou que atirou contra duas pessoas no norte da Faixa de Gaza nesta manhã, que teriam acessado uma área proibida pelo acordo de paz — o que o governo israelense considera uma violação do compromisso.
Dúvidas sobre o futuro de Gaza
A libertação dos reféns israelenses e dos prisioneiros palestinos, prevista na primeira fase do acordo de paz na Faixa de Gaza, é analisada pela imprensa francesa nesta terça-feira. Alguns jornais levantam questões sobre o futuro do território.
"O primeiro dia seguinte" é a manchete do jornal Libération, que acompanhou as comemorações na famosa "Praça dos Reféns", em Tel Aviv. Para o diário, "o povo israelense recupera a vontade de viver, após dois anos de guerra e angústia". Já a correspondente do jornal em Gaza relata o retorno dos moradores palestinos ao norte do enclave: "o início de um longo combate para tentar se reconstruir", diz.
As mesmas cenas são descritas nas páginas do jornal Le Figaro, que também aborda a libertação dos palestinos por Israel. "Enquanto os israelenses celebravam a volta de seus reféns, os palestinos acolheram os prisioneiros como heróis" em Khan Yúnis e Ramallah, afirma a matéria. O diário ressalta que quase dois mil palestinos só puderam deixar as prisões em Israel após a libertação de todos os reféns ainda vivos.
"Libertações" é a manchete do jornal La Croix, que avalia que as imagens da volta dos reféns israelenses e dos prisioneiros palestinos são "inconciliáveis" com as do presidente americano Donald Trump e do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu comemorando no Parlamento israelense. "Os traumas, de uma parte ou de outra, não se calarão jamais", e "a possibilidade de paz não significa o fim da guerra", avalia o diário em editorial.
No mesmo tom, o jornal Le Parisien considera que este momento intenso é acompanhado pelo temor sobre o que acontecerá a partir de agora. "Dois anos de guerra transformaram a Faixa de Gaza em um campo de ruínas e provocaram dezenas de milhares de mortos", diz. "No entanto, todos os objetivos militares de Israel não foram atingidos", pondera, reproduzindo a fala de uma israelense na segunda-feira, na Praça dos Reféns: "o caminho será longo".
(RFI com AFP)