China e Rússia reiteraram, nesta sexta-feira (29), oposição à ativação do mecanismo de "snapback" - que prevê a reativação automática de sanções - contra o Irã, classificando a medida como "ilegítima" e "desestabilizadora". Moscou alertou para "consequências irreparáveis", enquanto Pequim afirmou que a decisão europeia prejudica o processo político e diplomático em curso.
Clément Therme, pesquisador associado à Universidade Paul Valéry, de Montpellier, ouvido pela RFI, avalia que o "snapback" representa um "revés estratégico" para o regime iraniano e um "fracasso da tentativa de evitar o retorno das sanções da ONU", destacando que os efeitos das punições já são sentidos mesmo antes de sua reativação.
Berlim, Paris e Londres, signatários do acordo nuclear de 2015 (JCPOA), ativaram o mecanismo na quinta-feira (28), alegando que o Irã está em "descumprimento significativo" de seus compromissos, com base em "provas factuais". Segundo os europeus, os avanços nucleares de Teerã se afastaram das características de um programa civil, elevando o risco de desenvolvimento de uma arma atômica.
A ativação do "snapback" abre um prazo de 30 dias para negociações. Caso não haja acordo, sanções internacionais suspensas há uma década serão restabelecidas, especialmente sobre bens de dupla utilização - produtos industriais que podem ser usados tanto civil quanto militarmente.
Colapso diplomático
A decisão ocorre após o colapso diplomático provocado pela guerra entre Irã e Israel em junho, que incluiu bombardeios a instalações nucleares iranianas por Israel e EUA, levando Teerã a restringir sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O Irã classificou a medida como "injustificada e ilegal" e prometeu responder, afirmando que ela comprometerá o acesso da AIEA às usinas iranianas. Rússia e China reforçaram que a prioridade deve ser a retomada do diálogo, e não a escalada da crise.
Segundo Therme, o Irã tinha três objetivos principais: primeiro, "evitar uma guerra" - o que não foi alcançado, já que houve "uma guerra com Israel em junho de 2025, com intervenção americana em apoio a Israel"; segundo, "evitar o retorno das sanções da ONU" - um objetivo que "ainda não está completamente perdido", pois há um período de negociação em curso; e terceiro, "conseguir um acordo com o presidente Trump" para melhorar a situação econômica e superar a crise de legitimidade - o que também não se concretizou.
Com informações da RFI e da AFP