Brasileira relata rotina de medo e tensão em Israel devido a conflitos com o Irã, destacando impactos emocionais e medidas de segurança em meio a bombardeios e sirenes constantes.
"Nunca havia imaginado antes como a palavra paz é importante". Essa é a opinião da brasileira Nathalie Levy, que mora em Petach Tikva, cidade a 20 minutos de Tel Aviv, em Israel. Ao Terra, ela relatou que um míssil iraniano atingiu seu bairro, a apenas duas quadras de seu prédio. O impacto foi tão forte que estilhaços quebraram janelas, portas e vidros de seus vizinhos do edifício.
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Nascida em São Paulo, Nathalie é casada com um israelense, com quem tem uma filha de três anos. Ela relata que, desde 7 de outubro de 2023, quando combatentes do Hamas lançaram centenas de foguetes e invadiram território israelense, os moradores vivem em apreensão.
Segundo ela, em cenários como esse, incluindo o recente conflito entre Israel e Irã, o procedimento é o mesmo: primeiro, chega uma notificação oficial no celular, alertando para que todos se dirijam a áreas protegidas, como bunkers. "No centro do país, temos apenas um minuto e meio para chegar a um bunker ou a um quarto seguro", explicou.
No meio da entrevista, porém, a rotina de emergência falou mais alto. Nathalie interrompeu a ligação para correr até um bunker familiar. "Vou ter que cortar a ligação. Estou chamando todo mundo porque acabou de tocar o alarme", disse, com voz acelerada. Uma hora depois, ao retomar o contato, relatou aliviada: "Abateram todos os mísseis".
Medo de estar em casa
Quando o míssil iraniano atingiu sua vizinhança em Petach Tikva, ela já estava a caminho da casa da cunhada, que mora em um Kibutz próximo à Gaza, uma decisão preventiva que tomou com o marido por medo dos ataques na região de Tel Aviv. Ela afirma que preparou rapidamente uma mochila com três mudas de roupa para cada integrante da família, acreditando que a ausência de casa seria breve.
Durante o trajeto, recebeu ligações e mensagens angustiadas dos sogros, preocupados com os ataques na região. No meio da estrada, sem abrigos por perto, decidiram parar em um posto de gasolina, mas chegaram justamente quando as sirenes começaram a tocar.
Com a filha ainda dormindo no carro, Nathalie a pegou no colo e correu para o bunker, lotado devido ao alerta. Apenas mulheres e crianças foram autorizadas a entrar, seu marido e outros homens tiveram que permanecer do lado de fora.
"Fiquei angustiada com medo de acontecesse alguma coisa com meu marido e minha família chorando assustada. Agora estamos no Kibutz que minha cunhada mora, que é tipo uma fazenda comunitária, é uma casa grande, um lugar bem afastado. Como os mísseis lançados em Israel são mais focados em áreas com mais população, a gente mora no Centro e acaba sendo alvo", relata. "São estrondos tão fortes que ouvimos quando estamos lá no prédio que moramos, que até tremem as paredes", acrescenta.
Segundo ela, durante o ataque em Petach Tikva, amigos que moram no mesmo prédio dela começaram a enviar mensagens sobre o impacto violento do míssil. Fotos mostravam janelas estilhaçadas e portas destruídas em vários apartamentos, embora o dela, no sexto andar, tenha sido poupado, como confirmou uma vizinha que acessou o local com sua chave.
O peso emocional
Nathalie descreve um estado de alerta desde outubro de 2023, mas ressalta que o medo se tornou maior com os mísseis balísticos lançados pelo Irã, que são mais potentes. Ela explica que os ataques criaram uma rotina de angústia: algumas noites trazem mísseis, e há noites em que nada acontece --mas o corpo, condicionado pelo medo, acorda na expectativa do pior.
Desde outubro de 2023, a brasileira afirma que não dorme uma noite inteira. "Se a sirene tocar, não dá tempo nem de ir ao banheiro. Acordo várias vezes só para evitar acidentes", desabafa.
Sua filha de três anos e meio, que já passou mais da metade da vida em guerra, começou a desenvolver comportamentos atípicos. "Era uma criança independente, agora quer colo o tempo todo. Chorou pela primeira vez com os estrondos". A rotina escolar foi suspensa, e as tentativas de normalidade esbarram na realidade. "Ela percebeu que alguma coisa está diferente."
Enquanto isso, ela mantém um grupo de WhatsApp com familiares no Brasil. "Prefiro que saibam a verdade por mim: mando fotos, vídeos, detalhes de cada alerta. No começo da guerra, meus pais foram parar no hospital de nervosismo", relata.
"Não estou de acordo com a maneira que Netanyahu está lidando com a guerra, mas eu acho que com relação ao Irã, a partir do momento que eles declararam que estavam próximos a finalizar as bombas nucleares, se a gente não atacasse, seríamos atacados, e de uma forma muito pior", afirma ela. "A gente lida com isso porque não tem outra alternativa. E me perguntam se eu sairia do país, mas ai eu saio e deixo meu marido? Porque ele tem que trabalhar, não pode sair. É uma decisão muito difícil", diz a brasileira.
Conflito entre Israel e Irã
O Irã disparou uma nova leva de mísseis e drones contra diferentes regiões de Israel na noite desta segunda-feira, 16, informou a TV estatal iraniana. Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF, em inglês), sirenes de emergência foram acionadas nas imediações de Tel-Aviv, Haifa e Bersebá.
Os novos ataques sucedem as agressões mútuas entre Israel e Irã, que entram no 4º dia de conflitos à medida que as tensões escalam no Oriente Médio.
No ataque mais recente até então, mísseis israelenses atingiram a sede da TV estatal IRIB, em Teerã, na manhã de segunda-feira. Segundo a rede Al Jazeera, a emissora é uma das mais famosas e mais assistidas do país. O ataque aconteceu enquanto a âncora Sahar Emami estava no ar ao vivo.
Netanyahu sugere que morte do líder supremo do Irã daria fim a conflito iniciado por Israel, que lançou ataques surpresa contra o Irã na última sexta-feira, 13, matando 78 pessoas e deixando outras 329 feridas na capital Teerã. Ao todo, o país registrou 224 mortes e mais de mil feridos até a segunda-feira.
Em retaliação, mísseis iranianos deixaram 24 mortos em Israel, de acordo com as últimas atualizações das IDF.
Ainda nesta segunda-feira, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu não descartou o assassinato do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmando que a morte acabaria "de uma vez por todas" com o conflito entre os países.