Gaza: ONGs lançam campanha em solidariedade a jornalistas palestinos e pretendem criar redação flutuante

As ONGs Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Avaaz, que dá voz a ações da sociedade civil na internet, lançaram nesta segunda-feira (1º) uma campanha de apoio aos jornalistas palestinos em Gaza, com a participação de mais de 150 veículos de comunicação de todo o mundo. As organizações pedem proteção para os profissionais e o acesso da imprensa internacional ao território.

1 set 2025 - 10h57

As ONGs Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Avaaz, que dá voz a ações da sociedade civil na internet, lançaram nesta segunda-feira (1º) uma campanha de apoio aos jornalistas palestinos em Gaza, com a participação de mais de 150 veículos de comunicação de todo o mundo. As organizações pedem proteção para os profissionais e o acesso da imprensa internacional ao território.

A guerra em curso em Gaza tem sido um dos conflitos mais sangrentos para os jornalistas no território.
A guerra em curso em Gaza tem sido um dos conflitos mais sangrentos para os jornalistas no território.
Foto: © - / AFP / RFI

Com Alice Froussard e Amira Soulihem, correspondente RFI em Ramallah

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A iniciativa, programada para coincidir com a Assembleia Geral da ONU neste mês de setembro, tem como objetivo chamar atenção para o grande número de profissionais de imprensa mortos na Faixa de Gaza vítimas da guerra entre Israel e o Hamas.

Há dois anos o enclave vive sob um quase blackout midiático. Os jornalistas palestinos presentes no território são alvos de ataques, enquanto os profissionais de imprensa estrangeiros não são autorizados a entrar.

Além do bloqueio, o ataque aos profissionais de comunicação que estão no território é alarmante. Mais de 200 morreram nos últimos dois anos de conflito em Gaza.

Um dos casos recentes de maior repercussão foi a morte do jornalista da Al Jazeera, Anas al Sharif, durante um ataque israelense no início de agosto. Acusado pelo governo de Benjamin Netanyahu de atuar "secretamente" como terrorista, o repórter tinha 28 anos e cobria a guerra em Gaza desde o início do conflito, após o ataque feito pelo Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023. Na época, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) rebateu dizendo que não há provas a respeito dessas acusações.

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"O que não é documentado é apagado"

A campanha ganhou parceiros valiosos. Criada por um coletivo de imprensa e defensores dos direitos humanos, a Palestine Witness (Testemunha Palestina em tradução livre do inglês) é uma das associações que aderiram à iniciativa e vem atuando fortemente para tentar reverter a situação de bloqueio.

A ONG, que se declara não militante e defensora do direito à liberdade de imprensa, foi criada com um princípio: "O que não é documentado é apagado, e o que é apagado é negado".

Para tentar pôr fim ao bloqueio, o grupo já fez petições e recorreu a tribunais para solicitar o acesso da imprensa estrangeira à Faixa de Gaza, além de fazer manifestações e divulgar publicações de artigos para denunciar a situação no território, mas nada funcionou.

"Sala de imprensa flutuante"

Entre as ações práticas da Palestine Witness está o plano de criar uma embarcação que poderá funcionar como uma "redação flutuante", com jornalistas internacionais, para forçar simbólica e pacificamente o acesso a Gaza. Khalil Sayyad Hilario, fundador e presidente da ONG, explica que seria uma maneira de contornar o bloqueio ao acesso de jornalistas internacionais.

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"Permitir o acesso à imprensa internacional é o calcanhar de Aquiles do Estado de Israel, ele não quer isso (...) Portanto, vamos disponibilizar um barco para jornalistas internacionais, sobretudo da grande mídia, para instalar uma sala de imprensa flutuante provisória", contou Khalil à jornalista da RFI, Alice Froussard.

A embarcação permaneceria na fronteira das águas internacionais, em frente a Gaza. Sem bandeiras palestinas e com uma sala de transmissão e satélites para transmitir 24 horas por dia.

"Somos jornalistas e queremos informar. Temos o direito de informar e as pessoas têm o direito de saber (...) A ideia é ficar parado (no mar) para poder descer com equipes em botes salva-vidas, desembarcá-los em Gaza e enviar seus conteúdos", detalha Khalil.

A ONG não pretende substituir o trabalho dos jornalistas palestinos. O fundador ressalta que a ideia é, acima de tudo, lembrar que a liberdade de imprensa não pode ser colocada entre parênteses, especialmente no momento em que profissionais da mídia estão sendo mortos um após o outro por Israel.

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"É uma questão de memória e de responsabilidade coletiva", Khalil Sayyad Hilario, fundador e presidente da Palestine Witness.

"Estaremos lá para acompanhá-los. A presença de colegas internacionais ao lado de colegas palestinos visa reforçar a sua proteção, dissuadir agressões e garantir que o trabalho deles possa continuar em segurança", esclarece a ONG em um comunicado.

Jornalistas em Israel aderem à campanha

Profissionais de imprensa em Israel também aderiram ao Dia de Solidariedade aos Jornalistas Palestinos. 

Entre os mais de 150 meios de comunicação que aderiram à campanha estão as empresas israelenses +972 e Local Call, a convite da Repórteres Sem Fronteiras. Os dois sites de notícias em hebraico se destacam por sua oposição à guerra em Gaza. 

"Queríamos mostrar nossa solidariedade com os jornalistas incrivelmente corajosos e dedicados que trabalham em Gaza. Também queríamos mostrar nossa forte oposição aos atos horríveis perpetrados em nosso nome pelo nosso governo contra a população de Gaza", explica Noa Pinto, jornalista do Local Call.

Enquanto a grande maioria da mídia israelense apresenta os jornalistas mortos como terroristas, as equipes da Local Call tentam, à sua maneira, proteger seus colegas palestinos. O site israelense também disponibilizou aos seus leitores artigos de jornalistas palestinos traduzidos para o hebraico.

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