Um homem 'ferido' que reconhece seus 'erros': ex-rei da Espanha Juan Carlos publica suas memórias

Ele sonha em voltar ao seu país e reconhece erros: o ex-rei da Espanha Juan Carlos, forçado ao exílio após vários escândalos, se descreve como um "homem ferido" em suas memórias inéditas, publicadas nesta quarta-feira (5) na França, e escritas em parceria com a autora Laurence Debray.

5 nov 2025 - 16h08

Ele sonha em voltar ao seu país e reconhece erros: o ex-rei da Espanha Juan Carlos, forçado ao exílio após vários escândalos, se descreve como um "homem ferido" em suas memórias inéditas, publicadas nesta quarta-feira (5) na França, e escritas em parceria com a autora Laurence Debray.

O ex-rei da Espanha, Juan Carlos, em Palma de Maiorca, em 1 de abril de 2018.
O ex-rei da Espanha, Juan Carlos, em Palma de Maiorca, em 1 de abril de 2018.
Foto: © JAIME REINA / AFP / RFI

"Não houve um dia em que a nostalgia não me dominasse. Como se a Espanha estivesse grudada em mim", afirma o antigo monarca, de 87 anos, exilado desde 2020 nos Emirados Árabes Unidos. Ele revela ter tido muito medo "de desaparecer sem ter conseguido contar tudo, explicar tudo".

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No livro de 500 páginas, escrito em primeira pessoa e intitulado Reconciliação (editora Stock), Juan Carlos, que abdicou em 2014, admite ter cometido "erros", como sua relação com uma de suas amantes, a aristocrata alemã Corinna Larsen, mencionada sem ser nomeada.

"Não posso ignorar esse episódio, já que teve um impacto negativo sobre meu reinado e meu destino. Mas falo sobre isso com relutância. E provavelmente será a única vez", confessa Juan Carlos.

Eles estavam juntos em Botsuana, em 2012, durante uma caçada em que o rei se feriu, um incidente que gerou indignação em um país mergulhado na crise econômica e contribuiu para manchar sua reputação.

O ex-rei também relembra os muitos presentes recebidos durante seu reinado e considera uma "grave falha" ter aceitado uma doação de US$ 100 milhões do rei Abdullah, da Arábia Saudita. "Foi um presente que eu não soube recusar."

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"Ele diz publicamente que se arrepende de certas coisas. É bastante claro", destaca Laurence Debray à AFP. Ela conversou com Juan Carlos em francês, idioma que ele domina com elegância, segundo ela: "um belo francês antigo".

"É a versão dele, sua verdade. É realmente a história com H maiúsculo, mas contada de dentro, do seu ponto de vista pessoal", afirma a escritora.

Laurence Debray, que já havia escrito uma biografia do monarca em 2013 e o entrevistado para um documentário pouco antes da abdicação, mudou-se para Abu Dhabi em setembro de 2022 para redigir as memórias.

Voltar para casa

Juan Carlos assumiu a chefia do Estado espanhol em 1975, após a morte do ditador Franco, que o havia escolhido como sucessor.

Ele foi uma figura importante no cenário internacional, admirado e respeitado por décadas, por ter conduzido o retorno da democracia à Espanha.

Pouco antes da morte de Franco, "eu estava ao seu lado, na cama do hospital. Ele segurou minha mão e me disse, como num último suspiro: 'Alteza, peço apenas uma coisa: mantenha a unidade do país'. Eu então tinha liberdade para iniciar reformas", relata o ex-rei.

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"Juan Carlos representa um destino europeu único. É um dos poucos líderes vivos desde a Segunda Guerra Mundial", observa Laurence Debray.

Nas memórias, o ex-rei também fala sobre sua esposa Sofia, que permaneceu na Espanha, onde ele faz visitas ocasionais. "Lamento profundamente que minha esposa nunca tenha vindo me ver. Suspeito que ela não queira desagradar o filho", o atual rei da Espanha, Felipe VI, afirma ele.

Na Espanha, onde o livro será publicado em dezembro, "a imagem que se tinha era de um homem bastante jovial, próximo do povo, simpático". Mas, na verdade, "é alguém que esteve muito só, dividido entre a família e Franco desde a infância mais tenra", diz Laurence Debray.

Para o fim da vida, Juan Carlos deseja "mais do que tudo voltar à Espanha, voltar para casa". "Quero recuperar meu lugar. O de um homem que se dedicou inteiramente ao seu país. Que espera ser enterrado com honra em sua terra", confidencia.

Com AFP

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