Algumas horas após o primeiro-ministro Sébastien Lecornu apresentar sua demissão do cargo, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu que ele continue à frente dos assuntos administrativos e conduza negociações até quarta-feira (8) para tentar formar "uma nova base de apoio político". Lecornu, de 39 anos, tornou-se o chefe de governo mais efêmero da história recente da França, ficando apenas 27 dias no cargo - e o sétimo premiê nomeado por Macron desde sua chegada ao Palácio do Eliseu, em 2017.
Desde junho de 2024, quando Macron dissolveu a Assembleia Nacional - equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil - e convocou novas eleições legislativas, o país ingressou em uma fase de forte instabilidade política. O partido do presidente e seus aliados de centro-direita perderam a maioria no plenário e passaram a depender de alianças para governar. No entanto, nenhum dos governos formados desde então conseguiu reunir uma maioria suficiente e estável para governar.
Nesta segunda-feira (6), Macron afirmou estar disposto a "assumir suas responsabilidades". Ele aceitou a demissão de Lecornu, mas pediu a ele que permaneça no cargo até que uma última rodada de negociações com a oposição seja esgotada.
Segundo fontes próximas ao presidente, essa declaração indica que Macron pode estar cogitando uma nova dissolução da Assembleia Nacional - como já fez em 2024, caso não consiga estabilizar o governo.
O que está em jogo?
A França é uma das principais economias da Europa e um ator relevante na política internacional. A instabilidade política no país pode afetar decisões econômicas, políticas externas e até a relação com o Brasil, especialmente em temas como meio ambiente, comércio e cooperação internacional.
Além disso, o enfraquecimento de Macron pode abrir espaço para o avanço da extrema direita, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, depois de acumular vitórias em eleições locais. Uma nova dissolução da Assembleia pode resultar em um Parlamento ainda mais fragmentado - ou com maioria da oposição.
E se Macron cair?
Caso Macron renuncie ou seja destituído, a França teria de convocar uma nova eleição presidencial. Isso abriria um cenário imprevisível, com risco de polarização e avanço de forças populistas. Por enquanto, o presidente resiste às pressões e tenta salvar seu governo com negociações de última hora.
Mas o tempo está contra ele. Se até quarta-feira não houver acordo, a França pode entrar em uma nova fase de instabilidade - com consequências internas e externas.
Com AFP