O julgamento do recurso de um dos acusados no processo dos estupros coletivos de Mazan começa nesta segunda-feira (6), em Nîmes, no sul da França. O caso continua gerando grande atenção da mídia e mobilizações feministas em apoio à vítima, Gisèle Pelicot.
Um ano após a repercussão mundial do caso dos estupros coletivos de Mazan, Pelicot retorna aos tribunais, mas desta vez enfrentará apenas um dos 51 acusados. Inicialmente, entre os 51 condenados em dezembro de 2024, 16 homens recorreram da sentença. No entanto, apenas um manteve o recurso, alegando ser inocente: Husamettin Dogan, de 44 anos. O operário da construção civil comparecerá em liberdade. Em primeira instância, ele foi condenado a nove anos de prisão pelo tribunal criminal de Vaucluse, mas permaneceu em liberdade por motivos de saúde, conforme lembra a imprensa francesa.
A defesa de Dogan pretende repetir a estratégia usada no julgamento anterior, alegando que ele foi manipulado por Dominique Pelicot, ex-marido de Gisèle, informa Libération. A francesa, hoje com 72 anos, foi casada por 50 anos com Dominique. Durante uma década, ela foi drogada com ansiolíticos por ele e posteriormente estuprada por ele e por dezenas de homens recrutados pela internet. Os estupros ocorreram principalmente na casa do casal, em Mazan, no sudeste da França.
Dominique Pelicot, considerado o mentor dos crimes e condenado a 20 anos de prisão, não recorreu da sentença. Ele será ouvido como testemunha. A convocação de Dominique pela acusação é considerada "paradoxal" por sua advogada, que alerta que este não é um segundo processo contra ele.
Júri popular
Ao contrário do primeiro julgamento, realizado exclusivamente por juízes profissionais, o novo processo será julgado por um júri popular, formado por três juízes e nove cidadãos, detalha o jornal Le Monde. A Corte de Apelação de Nîmes adotou medidas especiais para proteger os jurados da influência da mídia, buscando evitar que o contexto geral interfira na decisão. Cem jornalistas de cerca de 70 veículos de comunicação estão credenciados. O julgamento deve durar quatro dias, com o desafio de condensar uma enorme quantidade de informações em um curto período.
Gisèle Pelicot estará presente, determinada a "ir até o fim" nesse processo, garantiu seu advogado Stéphane Babonneau ao Le Figaro. Ela espera, com esse novo julgamento, "escrever a última página dessa história". Embora o julgamento não seja o mesmo, a "simbologia" do caso, que gerou intensos debates sobre violência sexual, consentimento, submissão química e a banalização do estupro na sociedade, permanece, como destaca o Le Parisien.
Na primeira instância, Gisèle Pelicot renunciou ao direito de um julgamento a portas fechadas em Avignon para que "a vergonha mudasse de lado", tornando-se, sem querer, um ícone mundial da luta contra o estupro.