Ao justificar demissão, ex-premiê francês diz que excesso de egos e falta de humildade dificultaram o trabalho

"As condições já não estavam mais reunidas", declarou Lecornu no pátio do Palácio Matignon, em Paris, nesta segunda-feira (6). A demissão aconteceu cerca de 12 horas após o anúncio parcial do novo gabinete e antes mesmo de seu primeiro discurso na Assembleia Nacional e do primeiro Conselho de Ministros.

6 out 2025 - 09h02
(atualizado às 13h53)

"As condições já não estavam mais reunidas", declarou Lecornu no pátio do Palácio Matignon, em Paris, nesta segunda-feira (6). A demissão aconteceu cerca de 12 horas após o anúncio parcial do novo gabinete e antes mesmo de seu primeiro discurso na Assembleia Nacional e do primeiro Conselho de Ministros.

"Ser primeiro-ministro é uma tarefa difícil, sem dúvida neste momento, mas não é possível ser primeiro-ministro quando as condições não estão reunidas", declarou Lecornu.

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Segundo ele, três fatores motivaram sua saída, menos de um mês após a nomeação. A primeira razão, de acordo com Lecornu, foi a falta de reconhecimento, por parte dos partidos, de sua promessa de submeter o orçamento de 2026 à votação dos deputados no plenário. O segundo motivo evocado foi a persistência das legendas em agir como se tivessem maioria absoluta na Assembleia Nacional. Por fim, a composição do governo, que, segundo Lecornu, reacendeu ambições partidárias ligadas à eleição presidencial.

Lecornu havia prometido uma nova forma de dividir o poder com o Parlamento e desistido de usar o artigo 49.3 para aprovar o orçamento de 2026. Ele acredita que "bastaria pouco para que funcionasse", com mais desprendimento, humildade e menos egos.

Críticas da direita e da esquerda

A renúncia, anunciada após a apresentação de um gabinete enxuto de 18 membros — criticado tanto pela direita quanto pela esquerda —, agravou a crise política. Lecornu sequer chegou a ocupar fisicamente o gabinete do Palácio de Matignon, sede do governo em Paris, desde sua nomeação em 9 de setembro.

Após o anúncio, Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical, pediu o exame imediato da moção de destituição de Macron, assinada por 104 deputados. Já o partido de extrema direita Reunião Nacional exige a dissolução da Assembleia Nacional ou a renúncia do presidente. Jordan Bardella, líder do RN, declarou que "não pode haver estabilidade sem retorno às urnas e dissolução da Assembleia", com a convocação de novas eleições legislativas.

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Os mercados reagiram fortemente: o índice CAC 40 da Bolsa de Valores de Paris caiu mais de 2% na abertura do pregão, e ações de bancos como BNP Paribas, Société Générale e Crédit Agricole recuaram entre 4% e 5%. O euro também caiu 0,7%, cotado a 1,1665 dólar.

Após semanas de negociações, Lecornu havia apresentado no domingo os principais nomes do governo, incluindo o deputado Roland Lescure na Economia e Bruno Le Maire, que esteve na pasta da Economia durante sete anos, na Defesa. Menos de duas horas depois, o ministro do Interior, Bruno Retailleau, homem forte da direita republicana, criticou publicamente a composição, dizendo que ela "não refletia a mudança prometida".

Com a agência Reuters

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