O influente ex-vice-presidente americano Dick Cheney, número dois durante os mandatos de George W. Bush (2001-2009), faleceu aos 84 anos, anunciou a família nesta terça-feira (4). O conservador é considerado o grande arquiteto da guerra contra o terrorismo, que impulsionou os Estados Unidos a invadirem o Iraque, em 2003.
Ex-deputado federal e ex-secretário de Defesa, ele "faleceu devido a complicações de uma pneumonia e doenças cardíacas e vasculares", segundo o comunicado da família. "Durante décadas, Dick Cheney serviu à nossa nação, como chefe de gabinete da Casa Branca, congressista por Wyoming, secretário de Defesa e vice-presidente dos Estados Unidos", acrescenta a nota.
Aclamado por sua grande influência nos bastidores, Cheney foi considerado um dos vice-presidentes mais poderosos da história dos Estados Unidos. O republicano foi o companheiro de chapa de George W. Bush em duas campanhas presidenciais bem-sucedidas e seu conselheiro mais influente na Casa Branca durante um período marcado pelo terrorismo, a guerra e as crises econômicas no país.
Para Bush, Cheney foi "um dos melhores servidores públicos de sua geração". Um comunicado assinado pelo ex-presidente o descreve ainda como "um patriota que trouxe integridade, alta inteligência e seriedade de propósito a cada cargo que ocupou".
Republicano convicto
Nascido em Lincoln, Nebraska, em 30 de janeiro de 1941, Cheney cresceu no estado pouco populoso do Wyoming, na região oeste dos Estados Unidos. Iniciou seus estudos na prestigiosa Universidade de Yale, mas abandonou a faculdade e acabou obtendo um diploma em Ciências Políticas pela Universidade do Wyoming.
Republicano convicto, Cheney se dedicou à política e, em 1978, foi eleito pelo estado de Wyoming à Câmara de Representantes, posição que manteve durante a década seguinte.
Nomeado secretário de Defesa pelo presidente George W. Bush em 1989, o conservador comandou o Pentágono durante a Guerra do Golfo de 1990-91, na qual uma coalizão liderada pelos Estados Unidos expulsou as tropas iraquianas do Kuwait.
Vítima de problemas coronários durante quase toda sua vida adulta, ele sofreu cinco ataques cardíacos entre 1978 e 2010 e usava um marca-passo desde 2001.
Pai do neoconservadorismo na Casa Branca
Como vice-presidente, levou sua ideologia neoconservadora à Casa Branca e desempenhou um papel mais relevante na tomada de decisões do que a maioria de seus antecessores no cargo. O vice de Bush contribuiu para introduzir uma noção agressiva do Poder Executivo, segundo a qual o presidente deveria operar quase sem restrições por parte dos congressistas ou dos tribunais, especialmente durante períodos de guerra.
A abordagem levou George W. Bush a envolver o país em conflitos prolongados no Afeganistão e no Iraque, provocando uma grande polêmica sobre seu impacto nas liberdades civis. Também promoveu o uso de tortura em interrogatórios, como as simulações de afogamento, suscitando muitas críticas internacionais.
Cheney é também apontado como um dos principais responsáveis pela decisão de invadir o Iraque após os ataques de 11 de setembro de 2001, executados pela Al-Qaeda. Suas alegações imprecisas de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa alimentaram a pressão pela guerra antes da invasão americana de 2003.
Apoio a Kamala Harris
Cheney nunca simpatizou com Donald Trump, principalmente após os ataques ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021. O ex-vice de Bush chegou a chamar o magnata de "ameaça à república" e "covarde".
Nas eleições presidenciais de 2024, Cheney surpreendeu os americanos ao anunciar que votaria na candidata democrata, Kamala Harris. Para ele, Donald Trump não estava apto para ocupar a Casa Branca. "Temos o dever de colocar o país acima de nossas divisões para defender a Constituição", declarou ao apoiar Kamala.
Apesar da relevância da figura de Cheney, até o fechamento desta matéria, Trump não havia publicado nenhuma mensagem oficial, nem feito qualquer comentário público sobre a morte do ex-vice-presidente.
RFI com AFP