Após 41 dias de paralisação, o Senado dos Estados Unidos aprovou um acordo provisório que pode encerrar o mais longo shutdown da história do país. A medida, que ainda precisa passar pela Câmara dos Representantes, reacendeu o otimismo nos mercados globais e promete restaurar serviços públicos essenciais, como o pagamento de salários e a assistência alimentar. O impasse orçamentário expôs divisões políticas e causou prejuízos bilionários à economia norte-americana.
As bolsas mundiais operaram em alta nesta terça-feira (11), impulsionadas pela expectativa de fim do shutdown nos Estados Unidos, que já dura 41 dias. O Senado norte-americano aprovou na noite de segunda-feira (10) um projeto de financiamento provisório que, se ratificado pela Câmara dos Representantes e sancionado pelo presidente Donald Trump, encerrará a paralisação mais longa da história do país.
Em meio à sessão lenta por conta do feriado do Armistício na Europa, os principais índices abriram no verde: Paris subiu 0,54%, Frankfurt 0,19%, Londres 1,12% e Milão 0,59%. Em Nova York, o Dow Jones avançou 0,81%, o Nasdaq 2,27% e o S&P 500 1,54%. O apetite por risco voltou aos mercados com a perspectiva de reabertura do governo federal e retomada da divulgação de dados econômicos, suspensos desde 1º de outubro.
Apesar do avanço, analistas alertam que o acordo ainda enfrenta resistência dentro do Partido Democrata. "Um simples bloqueio parlamentar pode atrasar novamente a retomada das atividades federais", afirmou John Plassard, estrategista da Cité Gestion Private Bank.
Na Ásia, o clima foi mais cauteloso. Tóquio caiu 0,13%, Taipei recuou 0,30% e Shenzhen perdeu 1,03%. A preocupação com o atraso na divulgação de estatísticas oficiais nos EUA, como emprego e inflação, começa a pesar nas projeções de crescimento. Segundo estimativas, o shutdown pode reduzir em até 1,5 ponto percentual o PIB norte-americano no trimestre.
Retomada do pagamento de salários
O acordo aprovado pelo Senado prevê o financiamento do governo até 30 de janeiro de 2026. A proposta inclui a retomada do pagamento de salários a mais de um milhão de funcionários federais, a reativação de programas sociais como o SNAP (vale-alimentação) e a reversão das demissões realizadas durante a paralisação. A decisão final depende agora da Câmara, que deve votar o texto nesta quarta-feira (12).
O presidente Trump comemorou o avanço: "Vamos retomar nosso país muito rapidamente", disse à imprensa na Casa Branca. O líder republicano na Câmara, Mike Johnson, também se mostrou otimista: "Nosso longo pesadelo nacional está chegando ao fim".
A paralisação afetou diretamente o tráfego aéreo, com milhares de voos cancelados e atrasos em todo o país. A Administração Federal de Aviação (FAA) chegou a reduzir operações em 40 aeroportos, incluindo Atlanta, Chicago e Nova York. Trump ordenou o retorno imediato dos controladores de voo e prometeu bônus de US$ 10 mil para quem não tirasse folga durante o shutdown.
Além disso, o impasse orçamentário interrompeu o pagamento de benefícios sociais, suspendeu a coleta de dados econômicos e paralisou museus, parques nacionais e agências governamentais. A crise também dificultou a atuação do Federal Reserve, que ficou sem acesso a indicadores oficiais para definir sua política de juros.
Alívio temporário
O shutdown ocorre quando o Congresso não aprova o orçamento federal ou uma medida provisória para manter o funcionamento do governo. Sem autorização legal para gastar, serviços considerados "não essenciais" são suspensos, e milhões de servidores ficam sem salário — alguns continuam trabalhando, outros são dispensados.
Desde 1981, os EUA enfrentaram 15 shutdowns. O mais longo até então havia ocorrido entre 2018 e 2019, durante o primeiro mandato de Trump, com 35 dias de paralisação. O atual, iniciado em 1º de outubro de 2025, superou esse recorde, chegando a 41 dias.
A crise atual foi provocada por divergências entre republicanos e democratas sobre o financiamento de programas de saúde e assistência social. Os democratas exigiam a prorrogação dos subsídios do Obamacare, enquanto os republicanos queriam negociar esse ponto após a retomada das atividades do governo.
Durante o shutdown, estima-se que a economia norte-americana perdeu entre US$ 10 bilhões e US$ 30 bilhões por semana. Mais de 1 milhão de servidores ficaram sem pagamento, e cerca de 42 milhões de norte-americanos foram afetados pela suspensão do SNAP, a sigla para Supplemental Nutrition Assistance Program, ou Programa de Assistência Nutricional Suplementar, dos Estados Unidos. O impacto também atingiu o turismo, o setor aéreo e a confiança dos investidores.
O acordo provisório aprovado pelo Senado representa um alívio temporário, mas não resolve as disputas estruturais que alimentam os impasses orçamentários recorrentes nos EUA. A expectativa é de que novas negociações ocorram em dezembro, especialmente sobre os subsídios de saúde que expiram no fim do ano.
Com AFP