Sudão: Darfur pede ajuda internacional devido à crise humanitária gerada pelo fluxo de deslocados internos

Voluntários das células de emergência em Tawila, no oeste do Sudão, sobrecarregados pelo fluxo de deslocados internos, fizeram um apelo à ONU e à comunidade internacional em busca de ajuda. Após os massacres de civis durante a captura de El Fasher (capital do estado do Darfur do Norte, no Sudão) por paramilitares, milhares de pessoas fugiram para a cidade vizinha. De acordo com um comunicado da Human Rights Watch, organização de defesa dos direitos humanos, desta quinta-feira (30), os civis que fogem "são submetidos a maus-tratos severos ao longo do caminho, incluindo estupros, saques e assassinatos".

30 out 2025 - 12h48
(atualizado às 12h54)

Voluntários das células de emergência em Tawila, no oeste do Sudão, sobrecarregados pelo fluxo de deslocados internos, fizeram um apelo à ONU e à comunidade internacional em busca de ajuda. Após os massacres de civis durante a captura de El Fasher (capital do estado do Darfur do Norte, no Sudão) por paramilitares, milhares de pessoas fugiram para a cidade vizinha. De acordo com um comunicado da Human Rights Watch, organização de defesa dos direitos humanos, desta quinta-feira (30), os civis que fogem "são submetidos a maus-tratos severos ao longo do caminho, incluindo estupros, saques e assassinatos".

Uma família em um campo para deslocados internos que fugiram de El Fashir para Tawila, Darfur do Norte, Sudão, em 27 de outubro de 2025.
Uma família em um campo para deslocados internos que fugiram de El Fashir para Tawila, Darfur do Norte, Sudão, em 27 de outubro de 2025.
Foto: REUTERS - Mohammed Jamal / RFI

Até sua queda no domingo (26), El Fasher era a última das cinco capitais de Darfur controlada pelo exército regular, que está em guerra desde abril de 2023 com as Forças de Apoio Rápido (FSR), paramilitares que agora controlam toda a região.

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Desde o fim de semana passado, mais de 36 mil civis fugiram dos combates, muitos se dirigindo para Tawila, uma cidade a 70 quilômetros de distância, que já abrigava cerca de 650 mil deslocados, segundo estimativas da ONU.

"Se o mundo não agir com urgência, os civis podem sofrer crimes ainda mais hediondos", alertou a organização. "A região de Tawila enfrenta uma situação humanitária crítica", acrescentou a Equipe de Resposta a Emergências (ERT) da cidade, um dos grupos de voluntários locais mobilizados para auxiliar civis nesta área remota.

A ERT pediu que as autoridades locais da ONU no Sudão, "organizações nacionais e internacionais e atores humanitários" respondam às "necessidades urgentes no terreno". Somente nos últimos dois dias, "milhares de famílias deslocadas chegaram", relataram os voluntários, "a maioria a pé, em busca de segurança, abrigo e itens de primeira necessidade".

Desde a queda de El Fasher, a comunidade internacional vem alertando sobre a deterioração da situação humanitária, particularmente o "crescente risco de atrocidades", motivado, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, "por considerações étnicas".

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Com as comunicações interrompidas, é muito difícil entrar em contato com fontes locais independentes.

Em abril, uma ofensiva contra o campo de deslocados de Zamzam, perto de El Fasher, provocou um fluxo massivo de civis para Tawila, que já enfrentava uma epidemia de cólera. A região acolheu "mais de um milhão de deslocados" nos últimos dois meses, de acordo com voluntários da ERR (Rede de Resposta a Emergências), que descrevem uma "pressão imensa" sobre os escassos recursos e serviços básicos.

Os sobreviventes relatam massacres

A ONU e organizações humanitárias temem massacres e ataques étnicos em El Fasher, cidade sufocada por mais de 18 meses de cerco e isolada da ajuda humanitária, onde ainda permanecem cerca de 177 mil civis.

Os relatos dos sobreviventes relembram o passado sombrio de Darfur, quando, no início dos anos 2000, as milícias Janjaweed — que deram origem às RSF — mataram mais de 300 mil pessoas e deslocaram 2,5 milhões.

Muitos reconhecem familiares mortos em vídeos que circulam na internet e em contas ligadas às RSF.

"É quase impossível descrever o que nós, nativos de Darfur, estamos sentindo. Muitos de nossos parentes continuam presos na cidade. Não sabemos quem está vivo ou morto", disse um dos sobreviventes à AFP sob anonimato. "Temos vídeos e relatos de pessoas que foram mortas. É terrível, porque reconhecemos nossos parentes e amigos nos vídeos que a RSF compartilha, celebrando a perspectiva de continuar o genocídio dos anos 2000".

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta quinta-feira o fim da "escalada militar" no Sudão e o "fim imediato das hostilidades".

Manchas de sangue

Resultados da análise de imagens de satélite feita pelo Laboratório de Pesquisa Humanitária (HRL) da Universidade de Yale revelaram a amplitude do massacre na cidade de El Fasher, por meio de manchas de sangue no chão e marcas de explosões.

O líder paramilitar sudanês Mohamed Daglo reconheceu uma "catástrofe" na cidade na noite de quarta-feira, afirmando: "A guerra nos foi imposta".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou estar "consternada com os relatos do trágico assassinato de mais de 460 pacientes e seus acompanhantes na maternidade saudita em El Fasher". Segundo a entidade, o hospital era o único que ainda permanecia parcialmente operacional na cidade.

O conflito de 2003 opunha o governo central do Sudão e milícias a grupos rebeldes do Darfur. Atualmente, as Forças Armadas estão em guerra com os paramilitares.

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A falta de resolução dos problemas estruturais, como marginalização, disputas por terra, desertificação e impunidade, alimenta a nova onda de violência.

Com AFP

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