Família síria batiza filha em homenagem a Angela Merkel

6 dez 2021 - 14h36
(atualizado às 14h57)

Uma família síria que chegou à Alemanha, em 2015, deu o nome da chanceler federal à filha como agradecimento pela postura de Merkel na crise dos refugiados.No final de 2015, os refugiados sírios Widad e Mohammed tiveram uma consulta com um ginecologista na Alemanha. Widad já estava grávida quando o casal e seus três filhos fugiram da guerra em sua terra natal, Latakia, para a Alemanha de carro e, depois, a pé.

Angela Merkel  ao lado de crianças durante visita a uma escola em 2016
Angela Merkel ao lado de crianças durante visita a uma escola em 2016
Foto: DW / Deutsche Welle

Depois de ver as imagens da ultrassonografia, os médicos parabenizaram o casal: uma filha estava a caminho. Os sírios não tiveram que pensar muito sobre como sua filha deveria ser chamada: como a chanceler federal alemã Angela Merkel, seu anjo de resgate, é claro.

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Seis anos depois, uma menina de cabelos longos e escuros usando um vestido vermelho-vinho atravessa o centro de aconselhamento para refugiados da organização Cáritas, em Gelsenkirchen, e é saudada com alegria por todos.

"Oi, Angie", "Olá, Angie", "Bom dia, Angie" - Angela, a quem todos chamam de "Angie", sorri e os cumprimenta de volta. Uma criança que notoriamente chegou à Alemanha e tem um primeiro nome que é tanto uma fonte de orgulho quanto um fardo.

"Todos amam nossa filha Angela, mesmo as mulheres mais idosas de nossa vizinhança ficam sempre muito felizes quando veem a Angela", diz o pai, Mohammed. "E amamos Angela Merkel pelo que ela tem feito por nós."

Admiração pela gerente da crise de refugiados

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É um pouco estranho: enquanto muitos alemães ainda se estranham com a chanceler federal que está deixando o poder depois de 16 anos, uma família síria, que agora vive na região do Ruhr, adoraria construir um memorial para ela. De casa, Angie vê sua famosa homônima todos os dias através da televisão.

"Enquanto outros países fecharam suas fronteiras, Merkel nos deu e especialmente às crianças uma nova vida aqui", conta Mohammed. "Todos os nossos amigos sírios estão tristes por Merkel estar deixando o poder. Minha mãe na Síria sempre me diz ao telefone: 'Que pena, o que será dela agora?'"

A pequena Angela ainda frequenta o jardim de infância e, em agosto do próximo ano, irá com seus três irmãos mais velhos para a escola. Ela adora contar histórias, pintar, de preferência flores, e também já esteve duas vezes no estádio da equipe de futebol alemã Schalke 04. O que Angie quer fazer quando crescer? "Algo como Angela Merkel, ou seja, ajudar outras pessoas", diz ela timidamente.

A Alemanha realmente conseguiu?

Quando Angela nasceu em Gelsenkirchen, no início de 2016, a Alemanha estava em processo de mudança de uma cultura de boas-vindas reconhecida globalmente para um sentimento de medo.

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Assim nasce uma garotinha síria com o nome da chanceler federal no meio da mudança de humor da Alemanha: num dia em Colônia - após o registro de centenas de agressões sexuais contra mulheres na passagem de Ano Novo -, foi relatada uma enxurrada de pedidos de licença para armas de pequeno porte.

Mesmo assim, Angela Merkel disse "Sim, nós conseguimos" quando fez um balanço da política de migração da Alemanha. Mas talvez a vida da pequena Angela capture bem em pequena escala como a integração dos refugiados que chegaram em 2015 tem funcionado em grande escala: as crianças falam alemão fluente, têm amigos alemães e boas notas na escola.

Por outro lado, seus pais ainda estão lutando para se firmar em sua nova casa: Mohammed planeja abrir em breve um quiosque, e sua esposa, que era professora na Síria, quer trabalhar como educadora. De acordo com estatísticas do Instituto de Pesquisa do Emprego (IAB), apenas um em cada dois refugiados que chegaram em 2015 está empregado.

Gelsenkirchen, um ímã para refugiados

"Se eu tivesse que dar à família de Angie uma nota para a integração numa escala de um a dez, eu lhe daria cinco", diz Marwan Mohamed. Ele sabe bem, pois, em 1995, veio da Síria para a Alemanha - para um país onde, como ele diz, não havia na época nenhum centro de aconselhamento para recém-chegados.

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Agora, Mohamed, como advogado do serviço de aconselhamento de refugiados da organização Cáritas, é responsável por tudo o que tem a ver com o direito de residência. A pequena Angela e a sua família têm autorização de residência e, em três anos, pretendem pedir o passaporte alemão.

Mohamed não pode reclamar do trabalho: cerca de 10 mil refugiados vivem em Gelsenkirchen, dos quais 7 mil vieram da Síria. Esta é a cidade mais pobre da Alemanha, com uma renda média anual de pouco mais de 16 mil euros (cerca de 102 mil reais). "Muitos refugiados se mudaram para cá porque não conseguiram encontrar nenhum apartamento vago em Munique ou Colônia, mas ainda há habitações suficientes aqui."

Língua alemã, a chave para a integração

Isso, por sua vez, torna a integração mais difícil, critica Mohamed. "Refugiados em outras cidades costumam se integrar mais rapidamente porque são forçados a falar alemão e fazer contato com os moradores locais. Para muitos, aqui é como em seu país de origem, porque eles podem falar árabe nas lojas. E, por outro lado, há muitos alemães que não querem nada com os refugiados."

Mas Marwan Mohamed e sua equipe da organização Cáritas não desistem. Quando a pandemia de coronavírus surgiu no ano passado e as máscaras de proteção também eram necessárias em Gelsenkirchen, os refugiados produziram 7 mil peças em velocidade recorde.

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Os homens compravam o tecido, e as mulheres cortavam e costuravam usando instruções achadas na internet. Depois, os homens distribuíam as máscaras nos lares de idosos. Há alguns meses, um grupo de sírios foi ajudar nas áreas afetadas pelas inundações mais devastadoras em décadas nos estados alemães da Renânia do Norte-Vestfália e da Renânia-Palatinado.

"Nós vamos conseguir", portanto, poderia também ser o lema de Mohamed. A frase famosa de Merkel continuará viva em Gelsenkirchen após a saída de Merkel do cargo de chanceler federal, até mesmo entre os próprios refugiados. O advogado tem certeza disso quando se trata da família da pequena Angela, bem como dos outros. "Nunca conheci ninguém aqui que falasse mal de Angela Merkel. Todos os refugiados a respeitam. A exemplo de Angie, ela deu às crianças um novo lar", frisa.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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