Partido de Moro tenta atrair Deltan, Janot e delegados para montar 'bancada da Lava Jato' em 2022

Joaquim Barbosa (PSB), que conduziu os processos do mensalão no STF, também foi sondado para uma aliança com o ex-juiz, mas seu partido descarta acordo

7 dez 2021 - 22h21

BRASÍLIA - Em um esforço para alavancar a campanha do ex-juiz Sérgio Moro à Presidência, o Podemos tem buscado ex-integrantes do Judiciário dispostos a entrar na corrida eleitoral. Nomes que participaram da Lava Jato, como o do ex-coordenador da operação em Curitiba, Deltan Dallagnol, e do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, também vão se filiar à legenda. Além disso, delegados da Polícia Federal que atuaram na Lava Jato vêm mantendo conversas com o ex-juiz para discutir eventuais candidaturas.

Moro conversou ainda sobre o cenário político com o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que ganhou destaque durante o julgamento do mensalão. Barbosa entrou no PSB em 2018, chegou a ensaiar uma candidatura, mas desistiu.

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Ex-ministro da Justiça Sérgio Moro se filiou ao Podemos no dia 10 de novembro de 2021, em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Ex-ministro da Justiça Sérgio Moro se filiou ao Podemos no dia 10 de novembro de 2021, em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Foto: Robert Alves/ Monumental Foto/ Reprodução Podemos / Estadão

"Vamos juntar forças para fazer uma boa bancada e criar um grupo político que tenha peso, para não deixar o combate à corrupção ser desmantelado", afirmou a presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP).

O objetivo do partido é montar em 2022 uma "bancada da Lava Jato", também chamada de "bancada jurídica" e reforçar o discurso de Moro, ex-ministro da Justiça, de que é preciso mudar o sistema político por dentro. "Quando você percebe que não conseguiu combater o sistema de fora para dentro, é natural que você entenda que tenha de ser de dentro para fora", disse Renata.

Figura quase tão midiática quanto Moro, Deltan Dallagnol vai se filiar ao Podemos na próxima sexta-feira, 10, em Curitiba. Para propagar suas ideias, Deltan lançou recentemente um curso online sobre combate à corrupção. A cúpula do Podemos quer que ele concorra a deputado federal pelo Paraná.

Rodrigo Janot, por sua vez, não definiu se vai ser candidato. Mesmo assim, aceitou se filiar ao Podemos. Foi durante a gestão do ex-procurador-geral da República que a Lava Jato teve seu auge, e denúncias se multiplicaram contra políticos. Às vésperas de encerrar o mandato, em julho de 2017, Janot ainda mostrava disposição de dar andamento às ações. "Enquanto houver bambu, haverá flecha", dizia ele.

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A entrada de Janot no Podemos deve ocorrer no início de 2022. Para fortalecer o nome de Moro, a legenda planeja fazer uma campanha de filiações. No último dia 25, por exemplo, quem assinou a ficha foi o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo.

Composição

Enquanto o Podemos ganha reforços, Moro viaja e, a pretexto de lançar o livro "Contra o Sistema de Corrupção", veste o figurino de candidato. No domingo, 5, por exemplo, ele posou para fotos ao lado de apoiadores, no Recife, com um chapéu de sertanejo.

Um dia antes, no sábado, o ex-juiz esteve em Porto Alegre e se encontrou com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Moro tem se aproximado cada vez mais das várias alas do PSDB, na tentativa de fazer uma composição para a disputa ao Palácio do Planalto.

Eduardo Leite disse ter discutido com Sérgio Moro a 'importância da construção de convergências políticas'.
Foto: Podemos/Divulgação / Estadão

Em Porto Alegre, também foi anunciada a filiação do deputado Maurício Dziedricki, que trocou o PTB pelo partido de Moro. A expectativa do Podemos é crescer no Estado no rastro da debandada do PTB, que vive crise interna após um processo de bolsonarização.

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No grupo de quem já integrou o Judiciário, Joaquim Barbosa ainda está no radar de Moro. Os dois conversaram dias antes de o ex-juiz decidir entrar na política e debateram sobre a necessidade de construir uma terceira via contra a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro, recém filiado ao PL, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Barbosa não quer concorrer, no momento, mas não definiu se terá algum envolvimento ativo nas eleições de 2022. "Acho que o ministro Joaquim Barbosa tem condições de ser o que ele quiser para o País, porque ele é um quadro de absoluta qualidade", elogiou Moro, em entrevista à Rádio Jornal do Recife, na sexta-feira, 3. "É uma grande figura da história brasileira. Estamos conversando."

Se do lado do ex-presidente do Supremo há indecisão, o seu partido, PSB, descarta qualquer aliança com Moro. "Não tem a mínima possibilidade. Tema fora de cogitação", declarou o presidente da legenda, Carlos Siqueira, assediado tanto por Lula como pelo candidato do PDT, Ciro Gomes.

Renata Abreu classificou como "natural" a aproximação do Podemos com ex-integrantes do Judiciário. "A gente sempre esteve ao lado das pautas da Lava Jato, como o fim do foro (privilegiado) e a prisão em segunda instância", disse ela.

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Na avaliação da presidente do Podemos, "é frustrante ver o desmantelamento" das ideias defendidas pela Lava Jato. "Isso tem de estar dentro da política. A política é ferramenta de transformação social do nosso País", insistiu a deputada.

A movimentação do Podemos para montar uma "bancada jurídica", com participação de delegados que atuaram na Lava Jato é alvo de críticas. "Demonizou-se o poder para apoderar-se ele", protestou o ministro do STF Gilmar Mendes.

Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência, foi na mesma linha. "A força tarefa da Lava Lato virou um partido político, que agora está empacotado com uma espécie de novo 'caçador de marajás'", escreveu Ciro no Twitter.

Para não fechar portas nem inviabilizar apoios, Moro foi aconselhado a conciliar o discurso de crítica à corrupção com o raciocínio de que existem "pessoas boas" na política. Nas últimas semanas, o ex-juiz e a cúpula do Podemos se reuniram com dirigentes do PSL e do DEM - que estão prestes a formar o União Brasil - e também do PSDB, Cidadania, Patriota e Novo. Moro conversou, ainda, com o comando do Republicanos, que hoje integra a base de sustentação do governo Bolsonaro no Congresso, mas tem se sentido preterido no Centrão.

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