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'Interesse no feminismo cresce como os ataques'

Segundo especialista, a causa ganha alcance online, mas mulheres continuam sendo vítimas de violência

22 jun 2021 - 05h10

Impulso na carreira, habilidade para mudar de rumo profissional, aprimoramento para manter a empregabilidade. Os cursos livres ajudam em tudo isso. Mas podem ter outras funções tão importantes quanto, como ser espaço de experimentação de novos interesses, aumentar a bagagem cultural e abrir a cabeça para discussões muito pertinentes ao momento.

"O nosso objetivo é levar a educação feminista e popular para o universo digital. Mas não numa relação de consumo de informação, mas de troca, de conhecimento coletivo. Isso tudo é muito desafiador", afirma Sophia Branco, educadora e pesquisadora na Universidade Livre Feminista.

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Formada em Ciências Sociais, mestre e doutoranda em Sociologia, Sophia explica nesta entrevista a proposta da Universidade Livre Feminista e diz que observa o aumento do interesse pelo feminismo na mesma medida em que crescem os ataques contra as mulheres. O objetivo, ao fim de tudo, é contribuir para a construção de uma sociedade justa, igualitária, não hierárquica, criativa e libertária.

Como nasceu a Universidade Livre Feminista?

Foi em 2009, momento em que o feminismo estava se expandindo na internet. Surge como uma proposta de EAD feminista com base na educação popular. Vimos que havia espaço para o aprofundamento dessas discussões. A internet é um espaço de debates rápidos, de textos curtos. A Universidade Livre Feminista surge para explorar a potência do alcance da rede, mas com a proposta de sair da lógica imediatista para elaborar encontros mais longos e reflexivos. O nosso objetivo é levar a educação feminista e popular para o digital. Mas não numa relação de consumo de informação, e sim como construção de conhecimento coletivo. Isso tudo é muito desafiador.

Quem é o público?

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São mulheres que atuam em movimentos e coletivos ou que estão interessadas em discutir e se engajar na luta feminista. Temos cursos abertos, mas nossa atuação busca principalmente fortalecer os movimentos sociais, fortalecer grupos de mulheres que atuam nas periferias, nas cidades do interior, nas áreas rurais.

A formação mais emblemática, neste sentido, é a Feminismo Com Quem Tá Chegando? Fale um pouco sobre ela.

Discutimos o feminismo como projeto coletivo de transformação da sociedade. Falamos sobre o que significa, sobre sua história no Brasil, quais são as diferentes correntes e perspectivas. Porque nossa ideia de fortalecimento de movimentos tem uma via que é dar suporte a quem já atua, mas também queremos convidar novas mulheres, mostrar que feminismo não é apenas um processo individual, mas um espaço de troca com mulheres de realidades diferentes. Afinal, o feminismo nos ajuda a elaborar as transformações que queremos fazer na gente, mas também aquelas que queremos ver no mundo.

Como o feminismo pode ser uma ferramenta para combater o autoritarismo crescente no País?

Construir pontes entre mulheres é primordial para sobrevivermos a estes tempos, para entendermos as violências que vivemos e conseguirmos reagir individualmente e coletivamente. Do ponto de vista coletivo, o feminismo responde a isso com irreverência e resistência, de fato. As nossas pautas estão sendo atacadas e deturpadas enquanto estamos numa luta pela existência, pelo direito de existir e ser respeitada como mulher no mundo.

Na pandemia, por exemplo, vimos um aumento avassalador da violência contra as mulheres. Toda vez que ocorre um feminicídio, não tem como não se indignar e exigir que isso pare. Casos como o que ocorreu no ano passado, no Espírito Santo, em que foi necessária toda uma mobilização para que uma criança que foi estuprada e engravidou tivesse direito ao aborto legal, também nos mostram a necessidade de aprofundarmos a discussão sobre o respeito à vida e à dignidade das mulheres e das meninas. E mostra como a violência sexual também está presente na vida das crianças e precisa ser discutida. Esses são problemas que precisam ser discutidos por toda a sociedade, não são problemas individuais. Essas violências precisam ser combatidas. O feminismo busca ampliar a discussão sobre esses temas que são tão urgentes, e construir uma sociedade em que todos possamos viver melhor.

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Há um aumento do interesse das mulheres pelo feminismo?

Sim. O interesse cresce na mesma proporção em que aumentam os ataques. No ano passado, começamos a usar as redes sociais para divulgar conteúdo e conseguimos crescer muito de forma orgânica (sem publicidade). A procura é permanente pelos cursos. Juntas somos fortes na nossa luta pela existência, pela construção de uma sociedade justa, igualitária, não hierárquica, criativa e libertária.

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