Você já pensou em ler um livro enquanto espera para ser atendido no posto de saúde? Isso passou a ser possível na cidade de Rio Branco (AC) graças a uma ideia da empresária Nazaré Cunha, diretora de uma transportadora e presidente do sindicato do segmento da região.
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Em um projeto que mistura cuidados com o meio ambiente, educação e arte, a administradora já espalhou mais de 50 "bibliotecas de geladeira" pela capital acreana desde 2019. A iniciativa é simples: o eletrodoméstico que iria para o lixo é recolhido, personalizado e passa a funcionar como uma verdadeira biblioteca em pontos estratégicos da cidade.
Ao se deparar com a iniciativa, o morador pode tanto ler um livro no local ou fazer a troca por alguma obra levada de casa.
"É troca. Vou em um posto de saúde e a diretora do posto recebe a geladeira pronta, cheia de livros. A gente orienta: 'Não é para levar e não voltar nunca mais'. É uma espécie de troca. Leva, lê, pega outro. E se tiver livro em casa, traz também para repor. As geladeiras estão sempre com livros", conta a empresária ao Terra.
O início da 'biblioteca de geladeira' no Acre
Espalhada em algumas partes do mundo, a ideia chegou até Nazaré durante uma viagem a São Paulo. Enquanto assistia televisão, ela se inspirou ao conhecer a história de um brasiliense que espalhava geladeiras com livros pela cidade.
"Eu viajo muito. Em uma dessas viagens conheci o projeto da geladeira. Estava em São Paulo e vi uma reportagem. O projeto começou em Brasília, expandiu para Minas Gerais e, depois, para São Paulo. Fiquei entusiasmada, gostei muito. Tem aquele projeto de troca de livros no metrô, parada de ônibus", relembra.
Mas se engana quem pensa que foi fácil colocar a ideia em prática. Com recursos próprios da transportadora familiar que dirige, a empresária rapidamente enfrentou o primeiro desafio: encontrar as geladeiras. O conhecimento em logística a ajudou a passar por essa etapa, que ainda é sustentável para o meio ambiente.
"Fizemos tudo com recurso próprio, do sindicato com apoio da transportadora. A geladeira está no lixo. Fizemos um levantamento de onde acharíamos geladeira. Tem muita assistência técnica, a gente foi nessas empresas e as pessoas queriam se livrar da geladeira, jogavam no lixo. A gente fez uma parceria: uma vez na semana passávamos lá para buscar a geladeira", destaca a administradora.
Com as geladeiras em mãos, chegou a hora de pensar em como deixá-las atrativas. A primeira ideia era de adesivar o eletrodoméstico, mas a ajuda de um artista fez com que ela mudasse os planos. O grafiteiro Junior TRZ emprestou sua criatividade e, sem cobrar pelo trabalho, personalizou as novas bibliotecas.
"Conheci um grafiteiro aqui no Acre, chamei ele. Ele pediu o material e a geladeira. Não cobrou pelo serviço, só a divulgação do trabalho. A gente começou a pintar a geladeira, encher de livro e entregar nas escolas, bibliotecas, posto de saúde, centro da juventude. O pessoal via e começava a ligar pedindo", conta a dona do projeto.
Sucesso das bibliotecas alternativas
Dos leitores aos interessados por ter a geladeira em seus espaços, o projeto logo de cara foi um sucesso em Rio Branco, conforme conta Nazaré.
"Tive a ideia e trouxe para a minha cidade. Na época foi o maior sucesso. Começamos a divulgar e pegar livros. Pessoal ligava pra gente colher livro", lembra.
Um momento, no entanto, freou a expansão da iniciativa. Com a pandemia da covid-19, no início de 2020, a distribuição de novas geladeiras enfrentou alguns empecilhos, e só veio a ser completamente retomada em 2024.
De acordo com Nazaré, já são mais de 50 geladeiras espalhadas por Rio Branco. Além destas, há outras que ainda serão distribuídas e livros à espera de novos leitores.
Com tantos pontos alternativos de leitura ao redor da cidade, a empresária tem o cuidado de mantê-los sempre atualizados.
"A cada dois ou três meses, a gente vai colocar mais livros. Ficou uma aceitação muito bonita. As pessoas trocam e levam livros. As pessoas esperam para ser atendidas e pegam o livro", completa.