As dicas de redação da professora que acerta o tema do Enem há 11 anos

Raquel Siufi é professora de redação e contou ao GUIA quais são as principais técnicas de estudo que ensina para seus alunos

24 jun 2022 - 10h54
(atualizado em 5/10/2022 às 18h29)

Acertar o tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é uma dádiva e tanto. Todo ano, algum candidato viraliza nas redes sociais dizendo, por exemplo, que dias antes do exame sonhou com o tema. Tem candidato que faz até bolão com os amigos! Acertar uma vez é um evento. Dar o palpite certo duas ou três vezes já pode ser considerado um aptidão. Agora, imagine cravar o tema 11 vezes consecutivas? Esse feito é só de Raquel Siufi, 44. Desde 2011, a professora de Mato Grosso do Sul sopra o tema de redação do Enem no ouvido de seus alunos em algum momento do ano.

Foto: Acervo pessoal/Raquel Siufi/Reprodução / Guia do Estudante

Mas calma, ela garante que não tem nenhuma magia envolvida: apesar dos apelidos que recebeu ao longo dos anos, Raquel está longe de ser vidente. É tudo baseado na interpretação, no treino constante e na construção de repertório. "Já me apelidaram até de Mãe Diná do Enem. Eu acho engraçado, claro, mas sempre explico que não tem nada disso". Raquel é a fundadora de um curso de redação que leva o seu nome, em Campo Grande (MS), e por lá os vestibulandos a procuram em busca do tal segredo para o sucesso.

Publicidade

Menos fantástica e mítica, a realidade das aulas é outra. É treino atrás de treino. Para além da gramática, as aulas semanais de redação são focadas em cobrir o máximo de temas possível, para que candidato nenhum seja surpreendido ao abrir o caderno de provas. Com tanta prática, em algum momento do ano os alunos acabam esbarrando com o assunto que, não por coincidência, é o que vão encontrar mais tarde no exame.

Sobre o tema da última edição do Enem, "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", a professora conta que durante o ano havia dado uma aula abordando questões de cidadania, identidade, inclusão e registro civil. Seus alunos, ao contrário de muitos candidatos que apontaram o tema como complexo e difícil, afirmaram não ter tido grandes dificuldades. E os números refletem isso; a professora diz que já perdeu a conta de alunos com notas acima de 920.

O GUIA DO ESTUDANTE conversou com Raquel Siufi e pediu algumas dicas para quem está estudando redação para o Enem.

Construção intensa de repertório

Em algum momento você já deve ter escutado que o segredo para o sucesso é ser consistente e disciplinado. O mesmo vale quando estamos falando da redação no Enem. Treinar redações semanais e construir repertório é a receita mais repetida entre aqueles que conseguiram alcançar a façanha. Mas para a professora Raquel, as medidas dessa receita são dobradas - ou melhor, triplicadas.

Publicidade

No curso dela, em Campo Grande (MS), a professora afirma passar para os seus alunos cerca de 600 temas por ano. O número assusta, mas ela garante que o ritmo de escrita não ultrapassa três textos por semana.

"Eu trabalho com tudo que pode aparecer durante o ano. E na aula de véspera do Enem, que é o grande aulão, eu passo quatro horas e meia falando sobre mais de 200 temas e os seus desmembramentos. Não dá para ficar na superfície se você quer ser o melhor, não é?", indaga a professora.

Além das aulas de gramática e o ensino da estrutura da redação, o principal método da professora Raquel consiste em uma construção intensiva de repertório. É treinar, além dos grandes assuntos em si, os seus desmembramentos - razão que explica o alto número de temas.

"Se eu vou trabalhar o tema de bebida alcoólica, eu vou falar sobre bebida alcoólica e o jovem, bebida alcoólica e o desemprego, bebida alcoólica e o trânsito, bebida alcoólica e a violência, bebida alcoólica como porta de entrada para as drogas, e por aí vai", explica.

Publicidade

Mas não se engane: durante as aulas, os alunos não escrevem redação nenhuma. As três horas semanais são exclusivamente destinadas a dinâmicas de exposição e reflexão de temas. O momento de escrever fica para a tarefa de casa, em que o estudante deve redigir de 1 a 3 redações sobre os temas discutidos em classe para entregar na semana seguinte.

Raquel esclarece que o objetivo de passar tantos temas durante o ano não é fazer os estudantes decorarem trechos, citações ou autores para usar na redação. A professora busca a partir da exposição intensa capacitar os alunos a terem bagagem para tratar sobre qualquer assunto. Isso porque o fator surpresa que envolve o tema de redação do Enem, como o GUIA DO ESTUDANTE já falou neste texto, pode causar ansiedade ou o famoso "branco".

Raquel acredita que já tendo contato prévio com um assunto semelhante - ou que ao menos esteja dentro do mesmo guarda-chuva do tema cobrado -, a probabilidade de o candidato conseguir traçar uma linha de raciocínio com facilidade é maior.

"Eu ensino meus alunos a pensar, eu não ensino a engessar. Não sou aquela professora que só ensina o aluno a fazer conta com goiaba, e que se mudar para laranja ele já não sabe", brinca. "Meu objetivo nunca foi acertar os temas, meu objetivo é o aluno abrir a prova e se deparar com um assunto que ele já viu".

Publicidade

Caçadora de temas

A professora conta que a inspiração para encontrar tantos temas e assuntos para abordar em classe vem da sua própria vivência: "Eu não paro. Eu caço temas todos os dias, eu já acordo pensando 'vamos lá, possíveis temas'", relata.

Raquel garante que essa busca por temas não tem segredo: todos eles vêm da interpretação de livros, artigos, jornais, revistas e sites como o GUIA DO ESTUDANTE. "Eu tento ficar sempre ligada com tudo. Eu faço muita prova, leio muita pesquisa de campo". Essa leitura é sempre acompanhada de um processo de análise dos textos e, por isso, a professora sempre tem um caderno em mãos para fazer anotações. "Se você espremer uma revista de atualidades já consegue encontrar o tema do ano."

Ela afirma que estar em contato com o cenário atual do mundo é fundamental para se dar bem na redação. Práticas simples como ler o jornal do dia vão construindo no estudante não apenas repertório, mas uma habilidade de interpretação que vai além da leitura.

Uma outra técnica que Raquel pratica e recomenda é o que chama de trabalho de busca."Eu separo um dia, boto uma roupa confortável e simplesmente saio andando pela cidade. É assim que a gente enxerga as coisas. Você vê, por exemplo, uma pessoa cega tendo dificuldade para atravessar a rua, ou um carro estacionando em uma vaga para pessoas com deficiência. Só nisso você já conseguiu ver na prática alguns desdobramentos do tema da acessibilidade", diz. No final das contas, trata-se de exercitar o olhar crítico sobre a realidade e ter a capacidade de refletir sobre diversas temáticas.

Publicidade

Papel das redes sociais

Raquel também enxerga as redes sociais como aliadas na hora de entender o que está acontecendo. Neste meio, o maior companheiro da professora é o próprio WhatsApp, que ela utiliza para enviar conteúdos por escrito e tarefas para seus estudantes praticarem a escrita da redação. "Faço listas de transmissão, leio todos os jornais e textos, e faço muita pesquisa, e o que interessa para meus alunos eu envio por meio das redes", afirma.

Para quem estuda sozinho e quer aderir à dica da professora, as opções são quase infinitas. É possível entrar em grupos de estudo de redação no Facebook, inscrever-se em newsletters de notícias e atualidades ou até participar de grupos no Whatsapp com o propósito de compartilhar notícias - verdadeiras, é claro!

Em redes como Twitter e Instagram, mais dinâmicos, seguir perfis de jornais para se atualizar diariamente pode ser uma boa pedida. Também existem os famosos studygrams ou mesmo perfis de veículos especializados em vestibulares, como o próprio GUIA DO ESTUDANTE.

Na hora de construir repertório consistente, aconselha Raquel, todo os meios valem. "O importante é analisar tudo, estar antenado em tudo, seja o meio que for".

Publicidade

Temas para ficar de olho em 2022

Antes de mais nada, a professora ressalta que, mais importante que saber os temas que mais podem cair, é o estudante não ficar apenas na superfície dos assuntos. Ou seja, fugir do famoso senso comum. "Tem que ir atrás de conhecimento, dar uma olhada no panorama dos assuntos e buscar saber de verdade sobre eles", afirma.

Raquel conta que costuma dar palpites mais fechados sobre o tema da redação em meados de agosto, mas que desde o começo do ano já pensa em assuntos que são pertinentes para o Brasil em 2022. Ao GUIA DO ESTUDANTE, a professora indicou quatro temas que acredita serem relevantes para o ano.

  • Educação à distância e os impactos da pandemia no sistema de ensino online
  • O voto como ferramenta de transformação da sociedade
  • O abuso nos trotes universitários
  • A importância da empatia e da prática do voluntariado

Raquel também destaca o meio ambiente como um dos eixos temáticos com maior chance de aparecer em temas de redação nos vestibulares em 2022 - não apenas pelas notícias recentes, mas também porque assuntos ambientais não aparecem nos vestibulares há algum tempo. Neste texto, falamos sobre assuntos de meio ambiente que podem cair e como realizar propostas de intervenção, dicas de estudo e repertório.

Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações