A história de José Alberto e José Vieira destaca a importância do acompanhamento médico para o diagnóstico precoce do câncer de próstata, que aumenta significativamente as chances de cura. Especialistas alertam que a prevenção e a superação de preconceitos são fundamentais para combater a doença.
José Alberto e José Vieira têm mais em comum do que só o primeiro nome. Os dois decidiram que o preconceito não ditaria o rumo de suas vidas e fizeram o acompanhamento anual com o urologista. E foi assim que conseguiram descobrir o câncer de próstata em estágio inicial, garantindo as chances de cura.
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José Alberto, de 64 anos, começou o acompanhamento logo após os 30. A urgência se deu porque o seu pai já tinha tido a doença, o que fazia de Alberto um candidato em potencial para o câncer de próstata. “Eu confesso que, com 64 anos, eu não achava que fosse ser com 64. Meu pai, quando teve o câncer de próstata, tinha mais de 70 anos”, lembrou ele.
Três décadas depois de iniciar o rastreio com o urologista, veio o diagnóstico. “Foi um choque, faltou chão. No momento, a gente pensa mil coisas, por medo da doença. Mas eu resolvi encarar de frente e procurar a cura”, contou Alberto.
Apesar do susto inicial, ele descobriu, logo na primeira consulta, que o seu prognóstico era animador. Como tinha descoberto a doença cedo, sua chance de cura era de 70%.
O mesmo ocorreu com José Vieira aos 61 anos. Sem histórico familiar, ele seguiu a recomendação médica e começou os exames aos 50. Foi em um de seus exames de rotina que, em maio, recebeu o diagnóstico.
Vieira conta que, embora fizesse os exames regularmente, não estava preparado para a notícia: “Você se sente muito perdido. Passei um mês muito difícil”. Segundo ele, o diagnóstico chegou acompanhado do medo. Mas, depois da sua primeira consulta, também descobriu que as chances de vencer a doença eram grandes.
“A minha cirurgia foi um sucesso. Todo mundo sabe que após uma cirurgia, principalmente uma prostatectomia, você tem uma série de dificuldades, inclusive a incontinência. E eu fui zero incontinência, eu não cheguei a usar fralda um dia”, revelou José Vieira.
Tanto José Alberto quanto José Vieira tiveram uma segunda chance porque não abriram mão do cuidado. “Se eu não sou uma pessoa que faz a prevenção, que procuro todos os anos fazer os exames, talvez, hoje eu não estivesse aqui, talvez a minha história fosse outra”, disse José Alberto.
Três meses depois da cirurgia para a retirada do tumor, José Vieira lembra que “o importante é estar vivo e com saúde”.
Taxa de cura é maior quando o diagnóstico é precoce
Estima-se que o Brasil registre cerca de 71.730 novos casos de câncer de próstata anualmente entre 2023 e 2025. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), os números revelam um aumento de 8,5% em relação à estimativa anterior de 65.840 casos entre os anos de 2020 e 2022.
O líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos do A.C. Camargo Cancer Center, Stênio Zequi, explica que a doença está relacionada ao envelhecimento. Segundo ele, a grande maioria dos homens com mais de 80 anos terá câncer de próstata.
No entanto, ele também reforça que o tumor, quando descoberto cedo, tem grandes chances de cura. Por isso o acompanhamento se torna fundamental, uma vez que esse tipo de câncer é silencioso, ou seja, não tem sintomas na grande maioria dos casos.
“Ele é tratável e curável quando não está dando sintomas. Quando o paciente só vai ao médico quando começa a sentir alguma coisa, pode ser muito tarde. Se forem os sintomas causados pelo câncer, infelizmente ele não vai conseguir se curar”, explicou Stênio Zequi.
Isso acontece porque o tumor afeta uma área pouco sensível e distante de outros órgãos. Os sintomas começam a aparecer quando o câncer cresce e começa a atrapalhar o fluxo de urina, por exemplo. Em casos mais extremos, só é possível perceber a presença do câncer quando ele já compromete outros órgãos.
Stênio Zequi reforça que os homens devem fazer consultas urológicas a partir dos 50 anos, mesmo que não apresentem sintomas. Já pacientes que têm histórico familiar de câncer de próstata devem começar as visitas a partir dos 40 anos.
“Aqueles homens que têm parentes de primeiro grau na família, como pai, tio, irmão, avô ou primo de primeiro grau que tiveram câncer de próstata, devem procurar o urologista a partir dos 40 a 45 anos”, reforça Zequi. Segundo ele, pessoas com histórico de câncer na família têm três vezes mais chances de ter a doença.
Ele ainda lembra que homens com afrodescendência têm mais chances de ter câncer de próstata, por isso, também devem começar o acompanhamento a partir dos 40, mesmo que não tenham casos da doença na família. “Pessoas negras têm mais câncer de próstata do que pessoas brancas no mundo inteiro. Além disso, o câncer costuma ser mais agressivo”, explica.
Quando o câncer de próstata é descoberto em estágio inicial, a chance de cura chega a 90% ou mais. Quando a doença está em estágio avançado, com metástase, a chance de cura é menor, mas a taxa de sobrevida ainda pode ser alcançada caso haja um tratamento adequado.
O preconceito que custa vidas
Uma pesquisa realizada pela empresa Nexus, a pedido do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, revelou que um em cada três homens com mais de 45 anos nunca fez e não pretende fazer o exame de toque retal
Segundo Stênio Zequi, o resultado da pesquisa não é uma surpresa, pois ainda existe muito preconceito envolvendo o toque retal. Ainda assim, ele lembra que aumentou a procura pelo check-up preventivo nos últimos anos. “O toque retal nos permite avaliar se há um aumento da próstata ou, até mesmo, se já existem nódulos palpáveis no órgão, a fim de detectar precocemente o câncer. E sabendo disso, a grande maioria que chega às consultas não se nega a passar pelo exame”, explica o médico.
O câncer de próstata é o tipo de câncer mais frequente entre os homens, perdendo apenas para o câncer de pele. Segundo dados do INCA, o ano de 2024 registrou, aproximadamente, 48 mortes por dia --uma taxa de mortalidade considerada alta. O número representa um aumento de 21% em uma década.
E a melhor forma de reduzir o risco da doença é realizar o diagnóstico precoce. O rastreamento é feito através do toque retal e do exame de PSA (Antígeno Prostático Específico), um exame de sangue que ajuda a identificar problemas na próstata, inclusive o câncer. O PSA também é feito para monitorar homens que já foram diagnosticados e tratados.