Quando a viagem faz bem para o viajante e para o lugar visitado

O contato com realidades diferentes pode trazer benefícios mais profundos do que apenas relaxar nas férias

23 out 2021 - 05h10

A convivência com um ex-madeireiro que virou defensor da Amazônia deu ao casal paulista Aline Polete e Thiago Attilio da Costa a certeza de que podiam fazer mais pela preservação do meio ambiente. "Você vê que, se eles que dependiam disso para viver conseguiram mudar, também tem de ser possível para a gente, com mais possibilidades", conta a dentista, sobre o despertar ocorrido após a visita à comunidade do Tumbira, no Amazonas, feita com o marido e o filho, Leonardo, de 7 anos.

Organizada pela Poranduba, empresa de turismo responsável localizada na mesma comunidade, a viagem foi realizada no início de 2021. De lá para cá, muito aconteceu na vida da família, que vive em São Paulo. "Eles mudaram tanto a gente que compramos um terreno em São Francisco Xavier. A viagem fez pensar no que podemos fazer para preservar. Todo mundo tinha de ir para a Amazônia uma vez na vida", afirma Aline, que resolveu montar um projeto de agrofloresta com o marido no espaço adquirido no distrito da paulista São José dos Campos. No lugar, também estão construindo casinhas para lançar em breve o Lake View Cabanas. "A gente quer que as pessoas possam alugar para fazer turismo na Mata Atlântica."

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Da mesma forma que o contato com os moradores da Amazônia mudou a história da família paulista, o rumo da comunidade do Tumbira foi alterado com a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro, em 2008. Surgiram, desde então, a Pousada do Garrido e, recentemente, a Poranduba. "Os visitantes ficam encantados por terem uma experiência muito próxima de uma realidade totalmente diferente, em que têm a oportunidade de ouvir histórias e sentir um pouco do que é a vida em uma comunidade dentro de uma unidade de conservação. A possibilidade de ter essas trocas enriquece a viagem, e muitos voltam transformados", conta Bruno Mangolini, que fundou a empresa em 2019, com a mulher, Raquel.

Os moradores, diz ele, sentem orgulho de poder mostrar o lugar onde vivem e em compartilhar suas histórias e as tradições ribeirinhas. "Além disso, a renda gerada pelas visitas é fundamental para a qualidade de vida das famílias, que podem conseguir seu sustento por meio de atividades aliadas à conservação do meio ambiente", diz Bruno.

A Poranduba mantém um calendário com viagens programadas para todo mês, mas também organiza o roteiro de quem busca diferentes tipos de experiência. Com sete dias, o Pacote Imersão inclui uma gama maior de atividades na região da comunidade do Tumbira, de visitas a uma artesã e a um viveiro de pirarucu até um passeio noturno de bote.

Novos sonhos na vida e na viagem

O senso de comunidade que vivenciou no feriado de 7 de setembro na Floresta Nacional dos Tapajós, no Pará, levou Carol Campari a buscar criar as próprias raízes. Depois de fazer home office na pandemia em diversos pontos do litoral brasileiro, a publicitária percebeu que nada disso fazia sentido se não estivesse perto dos amigos. "Eu tinha muita vontade de morar na praia, mas me perdi de mim por querer conhecer tudo. Estava vivendo de um modo individualista só atrás da realização dos meus sonhos", afirma Carol, que acaba de alugar um apartamento no bairro paulistano de Santa Cecília.

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Segundo a publicitária, o contato com a comunidade de Maguari, experiência na parte amazônica do Pará que ela teve com a agência Vivalá, também mexeu com outro aspecto. "A maneira como eu estava consumindo viagens não era sustentável. Não consigo pensar em qualquer tipo de viagem agora que não seja essa. Já quero ir com eles para a Chapada dos Veadeiros." O roteiro para Goiás é a nova expedição da Vivalá; a agência anuncia em breve as datas para 2022.

"É bem impressionante como as pessoas voltam da Amazônia com uma perspectiva do que é o meio ambiente, com uma consciência expandida sobre a dimensão da floresta. Ao entender a realidade das populações ribeirinhas e quilombolas, normalmente elas também voltam mais engajadas com causas sociais", diz Pedro Gayotto, cofundador da Vivalá, agência escolhida em 2021 pela Fundação Grupo Boticário para expandir o trabalho de turismo sustentável no País.

De 3 a 5 de novembro, a Fundação Grupo Boticário faz o evento Destino Natureza - Turismo em Unidades de Conservação, online e gratuito. Especialistas de várias áreas vão se reunir para abordar o potencial transformador de viagens nessas regiões.

Mais sobre as viagens

Poranduba: Oferece sempre viagens mensais, com quatro ou cinco dias. O roteiro de dezembro, entre os dias 1º e 5, custa a partir de R$ 2.890 por pessoa, com transporte em lancha rápida saindo de Manaus, hospedagem, todas as refeições e todos os passeios.

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Vivalá: Atua na Amazônia e lança roteiro na Chapada dos Veadeiros. Quanto custa. A expedição Amazônia-Rio Tapajós sai desde R$ 1.845 por pessoa (à vista), com transporte de van partindo de Santarém, cinco dias de hospedagem, alimentação, material do voluntariado e seguro-viagem.

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