Profissionais da saúde e redes sociais: quais os limites da prática?

Médicos, dentistas e nutricionistas ampliam a presença nas mídias digitais com humor e informação, mas há questões éticas

2 jul 2022 - 17h06

Faça um teste e digite a palavra "médico" no campo de busca do TikTok. Você irá assistir a performances como a de um médico que dança funk na frente de uma ambulância do SAMU, outro que comenta e mostra de perto uma infecção no olho de uma paciente, além do médico que usa peruca, filtros e humor para contar histórias de pacientes - todos eles com registro no conselho regional médico ativo. Goste você ou não, o fato é que profissionais e estudantes da área da saúde estão experimentando novas formas de se comunicar com o público pelas redes sociais e têm atraído milhões de seguidores. Isso ajuda a preencher a agenda do consultório, mas às vezes resulta em desvios do código de ética da classe, sujeitos a punições.

Sensacionalismo, promessas de resultados, divulgação de informação sem embasamento científico, quebra de sigilo médico, conflitos de interesses são preocupações intensificadas com a presença dos profissionais de saúde nas redes sociais. Na sua posição de autoridade, os especialistas fazem publicações que podem ter um impacto na saúde pública amplificado pelos mecanismos digitais que "viralizam" os conteúdos mais populares e atingem milhões de pessoas. Um dos casos mais emblemáticos de desvio ético é o da cirurgiã plástica que teve o seu registro médico suspenso no ano passado por publicar no TikTok um vídeo em que aparecia na sala de cirurgia dançando e exibindo um pedaço de pele com gordura do paciente que havia operado, com o texto "troféu do dia".

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"Em tempos de superexposição, no afã de ser lembrado, o profissional comete publicidade indevida", comenta o advogado Igor Mascarenhas, especializado em Direito Médico. "O aumento desse tipo de caso tem preocupado os conselhos de medicina", diz. Ele afirma que metade dos casos judiciais aos quais se dedica são de acusações de irregularidades na publicidade médica, geralmente nas publicações em redes sociais. Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), qualquer comunicação com o público de atividade profissional de iniciativa, participação ou anuência médica, por qualquer meio, é considerada "publicidade médica".

Só no Estado de São Paulo, foram investigadas 235 denúncias relacionadas à publicidade em 2021 pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). A maioria dos erros de publicidade médica está relacionada ao trabalho com estética, feito por cirurgiões plásticos, dermatologistas, cirurgiões vasculares, endocrinologistas e nutrólogos. "Eles fazem promessas de resultados quando publicam fotos de 'antes e depois' de um procedimento. Mas a medicina é uma ciência complexa, não é exata. Não dá para saber se o resultado ficará como o prometido, pois irá variar para cada organismo", diz Maria Camila Lunardi, uma das diretoras do Cremesp.

De acordo com a resolução 1974/2011 do CFM que rege a publicidade médica, não é permitido publicar fotos de "antes e depois" mesmo com a autorização do paciente - norma que gera insatisfação em muitos profissionais. "Esses princípios existem para proteger o médico e a população, não para cercear o direito à publicidade. Trabalhamos com uma profissão que mexe com vidas e o respeito ao nosso paciente deve estar acima de qualquer coisa", diz a conselheira do Cremesp.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) está se empenhando para elaborar uma nova resolução sobre publicidade médica junto ao CFM, afirma o cirurgião-plástico Alexandre Kataoka, membro-titular da SBCP, mas ele já tolhe as expectativas: "Por mais que haja um clamor para a liberação de fotos de 'antes e depois' temos que ter em mente que a profissão médica deve respeitar o Código de Ética e o Código de Defesa do Consumidor. Algumas características do Código de Ética Médica não podem e não serão mudadas."

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Técnicas nas redes

No cabeçalho do seu perfil do Instagram, a cirurgiã plástica Daniela Pinho já deixa claro: "Não exponho pacientes. Não faço sorteios." Ela fez isso porque é sempre cobrada para ter um grupo de WhatsApp para fotos de "antes e depois" das cirurgias. "É triste, mas muitos profissionais fazem isso, que é expressamente proibido", diz.

A fotógrafa Sheyla Pinheiro, que fez uma cirurgia plástica há 6 meses com Daniela, disse que a cirurgiã deixou claro para ela que não publicava fotos de pacientes na internet. "Sei que imagens podem ser manipuladas e não servem para avaliar resultados da cirurgia. Para saber se um cirurgião trabalha bem, vale mais uma boa indicação de conhecidos. Eu acho que os médicos não devem publicar fotos de "antes e depois" das cirurgias. Não gostaria de ver fotos minhas nas redes sociais de nenhum médico", diz.

Daniela acredita que a postura firme atraiu pacientes. Com 123 mil seguidores no Instagram, já recebeu comentários irônicos de colegas, ao ser chamada de "blogueirinha", mas acredita na importância de sua presença digital. Prefere administrar suas redes sociais sozinha, com a ajuda de uma designer que prepara as artes dos posts. "Já contratei uma agência, mas custava caro e o perfil não ficava com a minha cara."

Poucos médicos sabem como se posicionar de forma ética e eficaz nas redes sociais, observa a publicitária Maeve Nóbrega, especialista em marketing médico. Porém, ao perceber que estão perdendo espaço para aqueles que têm forte presença digital, eles ficam preocupados. "Eles se queixam que perderam pacientes para 'blogueiros'", conta ela, que já atendeu 43 clientes da área médica. Maeve conta que muitos médicos de longa carreira se sentem forçados a embarcar nas redes sociais, mas sentem dificuldade. "No desespero, eles seguem conselhos de pessoas não qualificadas e fazem qualquer gracinha para ganhar seguidores. Não percebem que podem estar sendo ridicularizados."

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O profissional de saúde que decidir investir no seu perfil nas redes sociais não precisa apelar para as dancinhas, mas deve dedicar algum tempo diário ao projeto. "Nas redes sociais, as pessoas querem se relacionar com pessoas, então uma dose de conteúdo sobre a vida pessoal traz identificação e aproximação. É preciso colocar a sua voz para engajar o público, o que não significa ter uma superexposição", diz o professor de Marketing Digital e Influencer Marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) João Finamor.

"As redes sociais são a maior vitrine que o médico tem do seu trabalho", diz a pediatra Kelly Oliveira, que ganhou fama com o blog e perfil Pediatria Descomplicada no Instagram, que também está no TikTok e YouTube e tem podcast. No Instagram, tem 508 mil seguidores, principalmente mães. Conquistar esse público não foi nada fácil, diz Kelly. "Exigiu sangue, suor e lágrimas. Dedico bastante tempo a isso, mas faz parte do meu trabalho." Ela montou uma equipe dedicada a produzir e gerenciar conteúdo para seus canais e para sua plataforma de ensino para pediatras, o Instituto Pediatria Experts.

Público ampliado

O reumatologista João Alho é ativo no Twitter, onde mescla assuntos pessoais com profissionais. Para não publicar nada por impulso, ele estabeleceu para si que só posta quando está no computador. "As redes sociais permitem compartilhar um sentimento efêmero e milhares podem reagir a isso. Se não se policiar, as consequências podem ser ruins." O alerta de Alho é importante: em maio, uma médica de Almirante Tamandaré (PR) virou alvo de sindicância pelo CRM-PR por ter xingado um paciente no Twitter.

No Instagram, João Alho tem um perfil pessoal e outro profissional, com 23 mil seguidores, no qual ele publica informações sobre doenças como lúpus e fibromialgia. "Pelas redes sociais, essa informação chega a pessoas de todo o Brasil que não têm acesso a especialistas. Ajudá-las não tem preço", diz. O reumatologista dedica pelo menos 1 hora por dia ao Instagram, com cuidado de não extrapolar esse tempo e comprometer o seu lazer e descanso.

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Com mais de 1 milhão de seguidores no canal do YouTube, o neurologista Saulo Nader e sua esposa Maria Fernanda Caliani, psiquiatra, reservam muitas horas de sua semana para produzir vídeos e outros conteúdos, que também são publicados no Instagram e no TikTok. "Todo mês, passamos um dia todo filmando vídeos. Produzir um roteiro leva muitos dias, pois corremos atrás de atualizações científicas", diz Nader.

A dupla vê os canais como um projeto social, sonhado desde o início da carreira, quando eles trabalhavam para o Sistema Único de Saúde (SUS). "A gente era obrigado a atender rápido, mas mesmo com aquela pouca atenção os pacientes diziam que era o melhor atendimento que eles tinham recebido na vida. Percebemos a carência de informação da população", conta Nader, conhecido como Doutor Tontura. Por mês, ele recebe do YouTube cerca de R$ 12 mil reais em troca das visualizações de anúncios antes dos vídeos do canal, que são reinvestidos na produção dos vídeos. As empresas costumam abordá-lo para fazer publicidade de serviços e produtos, mas eles resolveram negar por considerar que havia conflito ético.

Fenômeno do TikTok

Estudante de medicina, Niwandson Barbosa é um fenômeno do TikTok: em 18 meses, ele conquistou 4,6 milhões de seguidores com vídeos de temas médicos. No ano passado, foi considerado o tiktoker com mais visualizações nos vídeos. Em outra rede, Kwai, tem 1,8 milhão de seguidores. Aluno da Universidade Potiguar, em Natal (RN), ele afirma que começou o seu canal com a intenção de levar conhecimento para as pessoas. "Os médicos usam linguagens que o paciente não entende. Eu gosto de explicar as coisas de forma que a massa da população possa entender, principalmente aqueles mais carentes de informação. Presencialmente, não consigo ajudar tantas pessoas", diz.

Um dos seus vídeos mais assistidos, com 20 milhões de visualizações, é um desafio para testar o fôlego, que pode ser desafiador se a pessoa tiver algum problema no pulmão. "Depois disso, fiz vários desafios em cascata, para testar audição, visão."

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Niwandson, que tem planos de ser obstetra, dedica 1 hora do seu dia para produzir os seus vídeos, após os seus plantões de 12 horas. Sozinho, ele produz animações gráficas do corpo humano e de procedimentos médicos, de forma a driblar a proibição de exposição de pacientes. "Por enquanto, é um hobby para mim, no futuro eu não sei o que será", diz. A fama já valeu a parceria publicitária de um app de música. Participar de anúncios publicitários valendo-se da condição de médico é proibido pelo código de ética, mas Niwandson diz que leu o Código de Ética Médico e o Código de Ética do Estudante de Medicina para entender os seus limites, além de consultar um advogado. "Sei até onde posso ir", diz.

A advogada Michelle Benedetti Teixeira, focada em Direito Médico e da Saúde, criou um serviço em que revisa os conteúdos que serão publicados nos canais nas mídias sociais dos médicos, para avaliar se há desvios ao Código de Ética e ao código do consumidor. "É uma blindagem para que o médico não tenha problemas na justiça, já que os conselhos de classe estão atuantes."

Nutricionista vovó

Com 20 anos de carreira como nutricionista, livros publicados e títulos acadêmicos, Sophie Deram tenta não ficar atrás dos jovens quando o assunto é presença digital, mas confessa que não é fácil. Com 143 mil seguidores no seu perfil do Instagram, ela tem se desafiado a gravar vídeos de 1 minuto para responder dúvidas do público. Resolveu falar profissionalmente nas redes sociais em 2013, indignada com um post de uma blogueira. "Ela dizia que se você colocasse algo na boca e achasse gostoso deveria cuspir. Foi quando decidi estar presente nas redes sociais também", conta. Hoje a mesma blogueira tem 4 milhões de seguidores.

"Sou vovó, meu discurso não é sensacionalista, por isso não vende. Mas pelo menos me orgulho de ser coerente, de falar sobre a alimentação sem restrições ou terrorismo", diz.

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Sophie contratou um profissional de marketing para ajudá-la no canal e não descarta fazer publicidade, desde que não haja conflito de interesses. "Quero ser livre para falar o que eu quero falar, o que não acontece com quem recebe dinheiro da indústria. O público precisa estar atento aos interesses comerciais que estão por trás do que os influenciadores dizem."

A publicidade de marcas nas redes sociais por nutricionistas é preocupante, diz a nutricionista Carmem Kieling Franco, conselheira do Conselho Federal de Nutrição (CFN). "Somos formadores de opinião das pessoas em suas escolhas alimentares. Devemos contribuir para boas escolhas de alimentos, não de marcas." Segundo ela, o CFN recebe pressões dos dois lados: enquanto alguns reclamam da falta de ética dos nutricionistas que fazem publicidade de produtos, outros lamentam as restrições do conselho - geralmente os mais jovens.

"Os nutricionistas se sentem em desvantagem diante dos influenciadores que não têm conhecimento e dão dicas de alimentação. Mas somos profissionais e fizemos um juramento de cuidado com a saúde", diz a conselheira do CFN.

Os desvios éticos mais comuns dos nutricionistas, denunciados ao Conselho Regional de Nutrição da 3ª região (SP e MS), estão relacionados à exposição de resultados obtidos por pacientes e associação da imagem profissional à divulgação de marcas de produtos alimentícios, suplementos nutricionais, farmácias e empresas ligadas à alimentação e nutrição, segundo Selma de Britto, coordenadora do Setor de Ética do CRN 3. Das denúncias recebidas, foram infringidos 537 artigos do Código de Ética e Conduta do Nutricionista, sendo que 512 estão relacionados a divulgações inadequadas em redes sociais.

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"Os desvios éticos estão sendo normalizados nas mídias sociais, causando danos à população", lamenta a advogada e nutricionista Luciana Aragão, que tem 20,5 mil seguidores no seu perfil do Instagram e 402 no TikTok. "O posicionamento do nutricionista nas mídias sociais é importante porque elas são uma das principais fontes de insatisfação corporal."

Luciana defende que os conselhos reforcem a punição a quem publica imagens de "antes e depois" e trabalhem a conscientização dos profissionais. "O problema desse tipo de comparação é que ela vende a ideia de que existe um corpo errado, que precisa ser corrigido. A perda de peso não é o único resultado de um cuidado com a alimentação e não é sinônimo de saúde", diz ela, que é colaboradora da Associação Brasileira de Transtornos Alimentares (Astral BR).

A psicóloga Patricia Gipsztejn Jacobsohn, que também faz parte da equipe da Astral BR, denuncia que há alguns psicólogos nas redes sociais que prometem emagrecimento. "É uma falha ética gravíssima, já que eles prometem algo que a ciência dele não abarca", diz. Nas redes sociais, ela também encontra outro tipo de infração ao Código de Ética dos Psicólogos: a publicação de conteúdo religioso ou de técnicas não científicas. Em 21 de junho, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançou sua primeira nota técnica em relação ao uso profissional das redes sociais.

Já existem muitos psicólogos que se arriscam a quebrar tradições com sua presença no mundo digital. Com 688,4 mil seguidores no TikTok, 22,7 mil no Instagram, a psicóloga clínica Larissa Borges aborda a saúde mental de forma descontraída, com muitos vídeos de humor. "Eu produzo um conteúdo que não passa a imagem de que o psicoterapeuta é careta, nem que terapia é 'coisa de louco'. Acho importante humanizar a imagem do psicólogo, mostrar que ele não é inacessível", diz.

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Ela gerencia seus canais no intervalo de seus atendimentos e reserva alguns minutos para gravar vídeos pelo menos duas vezes por semana. "Penso 1 milhão de vezes antes de publicar qualquer conteúdo. Sei que não sou uma influencer, que tenho responsabilidade nas vidas que eu toco", diz. A psicóloga afirma que nunca ganhou dinheiro por meio de seus canais e não pretende fazer publicidade. "Meu objetivo sempre foi ser agente de mudança na vida das pessoas. Pelas mídias sociais sei que posso trazer mais gente para o bonde da saúde mental."

A pedagoga Clarissa Gonçalves de Souza Merelles, de 37 anos, acompanha o conteúdo publicado por médicos, psicólogos e nutricionistas no Instagram. "Aprecio tanto profissionais que falam da saúde de forma séria como aqueles que têm uma linguagem mais divertida. Não tenho preconceito. O humor é uma estratégia boa para popularizar esses assuntos", diz. No entanto, ela já deixou de seguir o perfil de uma nutricionista que considerava antiética. "Ela só publicava posts de alimentação perfeita, mas ninguém é assim. O discurso dela me soava de uma pessoa que tinha medo de engordar, que vivia de dieta. Me trazia desconforto."

Sorriso largo

Odontopediatra há mais de 20 anos, Simone Cesar, mais conhecida como Dentista Musical, entrou no TikTok quando o famoso aplicativo de vídeos ainda se chamava Musica.ly, há 4 anos. "Meu filho me apresentou o app, que permitia fazer dublagens. Pensei que seria legal fazer a brincadeira com os meus pacientes", recorda-se. E não parou mais de gravar vídeos: "Achei que era um bom jeito de ajudar as crianças a enfrentarem o medo do dentista."

Com humor, criatividade, efeitos visuais e muitas atuações antenadas às tendências do mundo infantil, conseguiu conquistar 3,2 milhões de seguidores nos últimos 4 anos, mas enfrentou críticas e uma denúncia ao Conselho Federal de Odontologia (CFO), que fez uma visita ao seu consultório para avaliar se estava tudo regularizado. "Não levei advertência do CFO, que só me pediu para colocar meu nome e registro na legenda de todos os posts. Fiquei muito mal com isso, mas aprendi a relevar as críticas e a ficar em ordem com a legislação", diz.

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O Conselho Federal de Odontologia não quer censurar os conteúdos dos dentistas nas mídias sociais, mas se preocupa com as consequências deles na população, explica o conselheiro Luiz Evaristo Volpato. "Um profissional de saúde pode ser irreverente, não tem problema. Mas não dá para fazer qualquer gracinha, tomar como modelo um influenciador qualquer. Fazemos procedimentos técnicos complexos e a forma como o dentista trabalha pode dar uma conotação ruim para toda uma profissão", diz.

O canal da Dentista Musical atrai pacientes para o consultório, afirma Simone, que colocou um intervalo de 10 minutos entre as consultas para poder editar os vídeos - e diz que almoça correndo só para sobrar tempo de gerenciar os seus canais no TikTok e no Instagram, que tem 233 mil seguidores. "É o meu hobby. Me divirto fazendo, as crianças também", diz.

A locutora Daniela Roth Moreno, de 41 anos, leva os filhos Lucas, de 8 anos, e Pedro, de 6 anos, desde 2018 para se consultar com a dentista. Quando uma amiga indicou o trabalho de Simone para Daniela, ela foi consultar os perfis nas redes sociais e gostou do que viu. "Achei ela divertida e antenada", recorda-se. "Ela aborda assuntos relacionados à saúde bucal de forma leve e atual. No meu tempo, ir ao dentista era um sofrimento." Daniela acha positivo quando um profissional de saúde publica conteúdos de saúde nas redes sociais de forma descontraída, contanto que tenha postura, respeito e responsabilidade adequadas.

O sucesso no TikTok também trouxe empresas parceiras, que pagam para produzir conteúdo publieditorial. Atualmente, Simone faz propaganda de uma marca no seu canal, de uma forma que não é considerada antiética pelo CFO - mas que não é permitida por profissionais de outras classes como médicos e nutricionistas.

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Em 2019, o CFO divulgou uma normativa (196/2019) que regulamenta a divulgação de autorretratos (selfies) e de imagens relativas ao diagnóstico e ao resultado final de tratamentos odontológicos. Os profissionais de outras classes consideram que as regras dos dentistas são mais permissivas e propiciam a concorrência desleal, o que acaba por criar uma tensão entre profissionais de saúde e seus respectivos conselhos de classe.

"Muitos médicos têm o desejo de publicar o que quiserem, mas não entendem os riscos da publicidade mais aberta", comenta o advogado Igor Mascarenhas. "Imagine se todo médico começar a exibir fotos de resultados e os pacientes começarem a fazer cobranças na justiça em cima dessas fotos?", exemplifica. O advogado, assim como outros profissionais entrevistados pelo Estadão nesta reportagem, defende a importância de discussões sobre o tema, que incluam todas as partes envolvidas e a atualização das normas. "Precisamos de regras mais atualizadas à nossa realidade, o que não significa negociação a qualquer limite ou a qualquer custo", diz Mascarenhas.

ANTES DE SEGUIR NAS REDES SOCIAIS

  • Qual é a formação e a experiência profissional que esse influenciador tem? Verifique se ele é um profissional validado pelo conselho de classe com uma checagem rápida no site do conselho regional.
  • Não se apegue a imagens de "antes e depois": lembre-se de que as fotos estão sujeitas a edição e que cada corpo terá um resultado diferente.
  • Atenção às promessas milagrosas: não se iluda com resultados de procedimentos perfeitos, sem esforço ou riscos. Não apele para "fórmulas mágicas".
  • Seguir à risca a rotina de um influenciador digital não é uma boa ideia: comer os mesmos alimentos dos posts, nas mesmas quantidades, e realizar os mesmos exercícios pode não ser adequado às necessidades do seu organismo.
  • Rejeite o "terrorismo" na saúde: demonizar alimentos, exigir comportamentos radicais não é uma prática ética de um profissional de saúde.
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