Hospital A.C.Camargo decide manter atendimento a pacientes do SUS após negociação com governo

Referência no tratamento de câncer em São Paulo previa a interrupção dos serviços dos pacientes da rede pública a partir de dezembro deste ano

18 ago 2022 - 11h55
(atualizado às 12h15)
Fachada do A.C.Camargo em São Paulo; hospital deve deixar de atender pacientes do SUS a partir de dezembro deste ano
Fachada do A.C.Camargo em São Paulo; hospital deve deixar de atender pacientes do SUS a partir de dezembro deste ano
Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 15/08/22

Depois de anunciar que suspenderia o atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), o Hospital A.C. Camargo, referência no tratamento de câncer em São Paulo, mudou sua posição e decidiu manter o atendimento oncológico para o sistema público da capital. O acordo foi anunciado nesta quinta-feira, 18, pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição, após reunião com as secretarias do Estado e do Município e com a direção do A.C. Camargo.

"Concluímos uma reunião que buscou um entendimento para o que o AC Camargo continue prestando os relevantes serviços para o SUS. A boa notícia é que chegamos a uma entendimento. O diálogo prevaleceu. O Governo de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo se comprometem a continuar complementando aquilo que é pago pelo SUS para que ele possa fazer esse grande serviço", afirmou o governador.

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O médico Victor Piana de Andrade, CEO do hospital, mostrou satisfação com o acordo. "Somos uma fundação privada sem fins lucrativos. Fomos idealizados por médicos e viabilizados pela própria sociedade. Ficamos felizes de poder retornar para a sociedade e permanecer cuidandos dos pacientes", afirmou.

Os valores repassados ainda serão discutidos nos próximos meses. Também não foi informado o número de pacientes que serão atendidos pelo hospital.

Defasagem dos pagamentos levou ao anúncio de suspensão do atendimento

O hospital A.C.Camargo informou no início da semana que deixaria de atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de dezembro deste ano, encerrando o contrato com a Prefeitura de São Paulo.

Entre os motivos da decisão está a defasagem do modelo de pagamentos por consultas e procedimentos feitos pelo poder público aos prestadores de serviço particulares, de acordo com o médico Victor Piana de Andrade, CEO do hospital, em entrevista ao Estadão.

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"A inflação médica está muito acima do que a inflação usual da população e, de fato, uma tabela sem reajuste nos dificulta. A gente vem ano a ano tendo de subsidiar cada vez mais, e o nível desse subsídio não pode arriscar a subsistência, a perenidade da instituição", declarou o médico antes do acordo.

Há quatro anos, a instituição informa que conseguia receber cerca de 1,2 mil novos pacientes atendidos via SUS em um só ano. À época, para cada R$ 1 investido pelo Ministério da Saúde, a instituição calcula que tinha de gastar praticamente o mesmo valor.

Nos últimos anos, no entanto, o valor que o hospital deve despender para conseguir atender um paciente que chega pelo SUS aumentou consideravelmente, o que já vinha se refletindo na diminuição dos pacientes recebidos. Neste ano, por exemplo, a previsão é abrir apenas 96 novos tratamentos de câncer pelo SUS - medida tomada para não aumentar o prejuízo.

No ano passado, o A.C.Camargo recebeu R$ 36 milhões ao longo de um ano para atender pacientes do SUS, mas teve de investir quase R$ 100 milhões adicionais para conseguir atendê-los. Os valores que o Governo de São Paulo e a Prefeitura vão desembolsar como compensação financeira para a manutenção do atendimento não foram divulgados.

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