O que estão compartilhando: que o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, propôs adiar as eleições de 2026 e dar mais um ano de mandato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Wagner disse em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, que é pessoalmente favorável a uma mudança na legislação brasileira que faça com que as eleições ocorram a cada cinco anos, sem direito à reeleição, para todos os cargos. A declaração foi feita no último dia 1º de outubro. O senador não disse que isso deveria ser adotado já em 2026. Ela afirmou que espera que o Senado possa votar para 2030 projetos que tramitam na Casa com possíveis mudanças. Para o ano que vem, ele defendeu a candidatura de Lula.
Saiba mais: A alegação enganosa sobre a declaração do senador petista aparece em diversos posts virais no X (antigo Twitter), Instagram e Facebook: eles somam cerca de 65 mil interações na última semana. A publicação com o maior número de curtidas foi feita pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara.
A postagem do parlamentar foi compartilhada por outros usuários nas redes sociais. Ele foi procurado pelo Verifica, mas não respondeu até a publicação desta matéria.
Outras publicações viralizaram com teor parecido: algumas vão além e afirmam que Wagner propôs conceder mais um ano de mandato a Lula, enquanto outras dizem que a prorrogação seria para dar tempo de cumprir promessas.
Wagner não se referia à eleição de 2026 quando falou em mandato de cinco anos
As postagens analisadas compartilham um trecho da entrevista de dois minutos de duração, e não mostram a declaração completa do senador sobre uma eventual mudança na legislação brasileira que permita mandatos de cinco anos. Wagner falou sobre o assunto ao ser questionado pela jornalista Andreia Sadi o porquê de a esquerda não debater um sucessor a Lula assim como a direita faz.
De acordo com o líder do governo no Senado, a ex-presidente Dilma Rousseff foi uma sucessora de Lula, assim como o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, candidato à Presidência em 2018. Para 2026, contudo, ele afirmou que Lula está com "vigor físico e mental" excepcionais, e com disposição para continuar. Pela legislação atual, o presidente pode tentar a reeleição.
Em seguida, a jornalista pergunta sobre um sucessor para Lula em 2030, e Wagner responde que, pessoalmente, é favorável à renovação, citando como exemplo o fato de não ter se candidatado a governador da Bahia em 2022. Wagner continua:
"Então, é difícil realmente para 2030 você pensar. Eu espero que aquelas mudanças que estão previstas no Senado da República, a gente consiga votá-las para 2030, quais sejam. Eu sou defensor de cinco anos sem reeleição e com coincidência de todas as eleições, de vereador a presidente da República. Isso não é unanimidade no PT, não é unanimidade na esquerda. Eu tô emitindo a minha opinião. Porque nós acabamos uma eleição em outubro do ano passado, os prefeitos acabaram de tomar posse em janeiro desse ano. Você conhece outra conversa entre políticos que não seja eleição 2026?".
Andreia Sadi diz desconhecer outros assuntos, e o senador continua a fala, afirmando que o País não aguenta o atual modelo de eleições a cada dois anos:
"A gente está vivendo de eleição em eleição. Eleição é bom, porque é a festa da democracia? É. Mas tudo que é demais, como a gente diz aqui na Bahia, é sobra. Então, tá tendo... Não é de dois em dois anos, porque você já está preparando a do ano que vem. Então, nós saímos de uma eleição, o cidadão tomou posse e já está todo mundo perguntando: 'Vai votar em quem pra deputado federal? Vai votar em que deputado estadual?'. Não tem quem aguente isso, não. Então, pra mim, tem que ser cinco anos sem reeleição com coincidência total. Aí vai ter que ampliar eventualmente aqueles que forem eleitos pra poder ter a coincidência. Mas, pra mim, isso é o mal menor. Eu acho que a gente ficaria livre da reeleição, que não fez bem pro Brasil, e ficaria livre dessa loucura que é sair de uma eleição... Nós estamos em outubro de 2025. Faz um ano, menos de um ano da última eleição, e a gente só pensa naquilo".
PEC que propõe fim da reeleição tramita no Senado
Existe atualmente uma proposta em tramitação no Senado Federal para acabar com a reeleição para os cargos do Poder Executivo - ou seja, presidente, governadores e prefeitos. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 12/2022 tem como primeiro autor o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) e conta com as assinaturas de outros 28 senadores.
O texto propõe algo bem parecido com o que Wagner defende na entrevista: o fim da reeleição para cargos do Executivo e a fixação do tempo de mandato em cinco anos. O que o petista aponta de diferente da proposta é que o mesmo valha para todos os cargos: de vereador a presidente da República.
Em 21 de maio deste ano, a PEC foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. De lá para cá, ela recebeu uma emenda do senador Ciro Nogueira (PP-PI), propondo que:
Os prefeitos eleitos em 2024, para primeiro ou segundo mandato, poderão se candidatar à reeleição;O presidente da República e os governadores eleitos em 2026 poderão se candidatar à reeleição se não tiverem exercido a titularidade do mandato no período imediatamente anterior;A partir de 2028, para o cargo de prefeito, e de 2030, para os cargos de governadores e presidente da República, não haverá possibilidade de reeleição;O mandato dos prefeitos e vereadores eleitos em 2028 será de seis anos e, a partir do pleito de 2034, de cinco anos.