O que estão compartilhando: vídeo em que um homem diz que a Amazônia representa apenas 1% da superfície global. Por este motivo, a floresta não faria nada em relação ao clima no mundo. A legenda da postagem afirma que um "cientista destrói toda narrativa da COP-30 e do aquecimento global".
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo não foi gravado na 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática (COP-30), mas sim no 62º Encontro Ruralista do Pará, que ocorreu em dezembro de 2024. O material foi desmentido pelo Projeto Comprova, parceiro do Verifica. Especialistas explicaram que, na verdade, a influência da floresta amazônica para a regulação climática mundial é um consenso científico.
As declarações enganosas são atribuídas a um geólogo e professor aposentado da Universidade Federal do Pará (UFPA). O Verifica entrou em contato com a universidade, mas não obteve retorno até o encerramento desta checagem.
Saiba mais: após o início da COP-30 nesta segunda-feira, 10, viralizou um vídeo com declarações atribuídas a um cientista, com a afirmação de que ele teria desmascarado a "farsa" da Cúpula do Clima. A conferência ocorre em Belém, capital do Pará, e é a primeira vez que o evento é sediado em uma cidade amazônica.
Na gravação, o homem fornece dados de proporção da Terra e da Amazônia. Ele conclui o raciocínio avaliando que a floresta "não faz nada com relação ao clima do mundo". Ao contrário do que sugerem os posts virais que usam o conteúdo, o material não foi gravado na COP-30.
A declaração foi dada no 62º Encontro Ruralista do Pará, que foi chamado de "COP-30 do Agro". O evento ocorreu em dezembro de 2024, em Belém. O vídeo que subestima a importância da Amazônia viralizou ainda naquela época, e foi desmentido p Projeto Comprova, coalizão da qual o Verifica faz parte.
Veja abaixo a transcrição de um dos trechos do vídeo:
"A globosfera tem 570 milhões de km². Os oceanos, 360 milhões de km², e os continentes, 150 milhões de km². A Amazônia brasileira tem 5 milhões de km², e a internacional, 6 milhões de km². Então, isso representa, a nível de superfície global do planeta, 1%. A Amazônia não muda, não equilibra, não altera, não faz nada com relação ao clima do mundo".
Como mostrou o Projeto Comprova, a Amazônia tem cerca 6,92 milhões de km² de extensão. Ela abrange nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Do total, 5 milhões de km² ficam no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
A superfície da Terra tem uma extensão de 510 milhões de km² - 149,4 milhões de km² são de continentes. A Amazônia corresponde, portanto, a aproximadamente 1,3% do total do globo e 4,6% da área continental.
Ao Comprova, especialistas explicaram que a Amazônica é importante para a regulação climática do planeta e isso é um consenso da comunidade científica global. Os pesquisadores ressaltaram que a floresta é fundamental na absorção do carbono e no controle de chuvas.
Como mostrou o Estadão, uma pesquisa publicada na revista Nature demonstrou que o desmatamento na Amazônia provoca mais chuvas na estação chuvosa e menos chuvas na estação seca. A publicação ressalta que a floresta é "essencial" na regulação do clima global.
Já um estudo liderado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) detalhou que o desmatamento da Amazônia brasileira é responsável por cerca de 74,5% da redução de chuvas. Há, ainda, um aumento de 16,5% na temperatura da floresta durante a seca.
O Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (Ccarbon/USP) também classifica a Amazônia como fundamental para manter o equilíbrio ecológico por "sequestrar" carbono da atmosfera. Da mesma forma, a organização internacional Global Citizen explica que a Amazônia tem um papel vital no combate às mudanças climáticas por absorver dióxido de carbono (CO2) e liberar oxigênio.
Além de negar o impacto da Amazônia, o homem no vídeo também alega que o CO2 não representaria "nada" na composição atmosférica. Como mostrou o Verifica, o CO2 é classificado como um dos gases do efeito estufa por absorver parte da energia infravermelha (calor) que a Terra reflete para o espaço após receber a luz do sol.
O efeito estufa é um fenômeno natural de aquecimento térmico da Terra. No entanto, ele vem sendo potencializado por humanos por meio de atividades que aumentam a quantidade de CO2 na atmosfera. Esse é o perigo alertado pela comunidade científica global.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado no último dia 4, mostrou que as emissões de gases de efeito estufa bateram novo recorde em 2024. O aumento de 2,3% em relação a 2023 foi estimulado pela poluição atmosférica de países como China, Índia, Rússia e Indonésia.
Pela redução no desmatamento da Amazônia, o Brasil, por outro lado, registrou diminuição nas emissões. Foi uma queda recorde de 11% no último ano, como mostrou o Estadão.
Este vídeo também foi checado pelas agências Aos Fatos e Boatos.org.
Como lidar com postagens do tipo: para além da negação explícita, os desinformadores climáticos subestimam dados e informações concretas para diminuir o impacto do aquecimento global. Existem evidências científicas sólidas de que a atividade humana tem influência na mudança do clima.
O Estadão Verifica levantou tendências da desinformação climática que circulam nas redes sociais. Veja aqui.
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