Líder do PSL: governo não barraria convocação de Sergio Moro

Major Olímpio diz que vazamento pode atrasar projetos do Planalto e que Moro explicaria tudo aos congressistas; leia entrevista exclusiva

11 jun 2019 - 12h06

Após passar oficialmente o comando do diretório paulista do PSL para o deputado Eduardo Bolsonaro, o senador Major Olímpio, 57 anos, deu sinais de estar plenamente adaptado à política atual. Ao fim da cerimônia, atendeu, um por um, os incontáveis militantes, simpatizantes e correligionários que queriam uma selfie ou vídeo curto com o líder do partido no Senado.

Entre um sem número de pequenos discursos improvisados e sinais de arma e positivo com os dedos, mandou abraços, falou sobre o governo e pediu apoio para pares menos famosos que talvez disputem as eleições municipais do ano que vem.

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Major Olímpio atende pedido de apoiadora e tira foto após cerimônia de transmissão de cargo do PSL-SP
Major Olímpio atende pedido de apoiadora e tira foto após cerimônia de transmissão de cargo do PSL-SP
Foto: Caio Spechoto / Equipe portal

“Futuro governador de São Paulo!”, disse a ele um pesselista. “Lembra quando você puxava o hino na academia?”, perguntou a ele outro apoiador, referindo-se ao tempo do político como integrante da Polícia Militar. Até um cinturão de MMA apareceu.

Praticamente de MMA pede que Major Olímpio tire foto com o cinturão
Foto: Caio Spechoto / Equipe portal

Com a agenda apertada, o senador convidou o Terra para entrar em seu carro. No trajeto entre o refinado hotel Renaissance, que abrigou a cerimônia do partido, e o Theatro Municipal, local de desembarque do repórter, falou sobre os vazamentos de conversas do ministro Sergio Moro com o coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba – Major Olímpio ainda seguiu para a Zona Norte da capital paulista, onde tinha outro compromisso na noite desta segunda-feira (10).

Segundo ele, não há problemas nas interações entre o hoje ministro da Justiça Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Na época, Moro era juiz responsável por julgar as denúncias elaboradas pela força-tarefa. Atualmente, o ex-magistrado é o principal fiador moral da gestão de Jair Bolsonaro.

Perguntado se o governo barraria uma possível convocação do ministro para prestar explicações no Congresso – e ficar exposto às perguntas dos opositores –, respondeu: “Eu acho que não, mas não vejo o menor problema”. Segundo o senador, Moro se sairia bem e esclareceria tudo.

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“Se eventualmente se partisse para o caminho de uma CPI talvez seja uma oportunidade de se buscar como é que foram feitos esses grampos, esses vazamentos seletivos”, diz Major Olímpio.

O político também diz duvidar que o caso tenha potencial para inviabilizar a indicação de Moro ao Supremo Tribunal Federal (STF), ainda distante mas já anunciada por Jair Bolsonaro.

Segundo ele, é possível que a turbulência desencadeada pela publicação das reportagens do site The Intercept Brasil no domingo (9) atrasem votações do interesse do governo.

O senador Major Olímpio na tribuna do Senado
Foto: Fátima Meira / Futura Press

A mais urgente é uma autorização para emprestar dinheiro para pagar benefícios sociais sem incorrer em crime de responsabilidade. “Não se pode misturar as circunstâncias. Os mais prejudicados a partir da semana que vem são as pessoas que mais precisam”.

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Ele também aponta a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) como possível e mais viável candidata do partido à Prefeitura de São Paulo no ano que vem –Janaína Paschoal diz que não tentará o cargo. Ainda, negou haver constrangimentos na bancada de senadores do PSL devido às investigações contra Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), parlamentar e filho do presidente.

Jair Bolsonaro e Major Olímpio em 2017, quando ambos eram deputados federais
Foto: Hélvio Romero / Estadão Conteúdo

Major Olímpio é líder do PSL no Senado e aliado próximo do presidente da República. Leia os principais trechos da entrevista a seguir:

Terra: Há opositores falando em CPI por conta das informações publicadas pelo site The Intercept Brasil. O senhor acha que essa ideia vai para frente?

Major Olímpio: Não consigo fazer essa avaliação. Eu vou estar amanhã cedo [terça-feira, 11] no Congresso. Acho que é mais do que próprio que representantes da chamada oposição tentem fazer uma mobilização que possa desestabilizar o governo ou tentar inviabilizar o ministro Sergio Moro, mas eu não acredito que isso prospere. Até porque o Moro tem uma figura inabalável. Mesmo aquelas comunicações vazadas não ferem as comunicações de ordem pessoal dele, de procuradores. Como eu já disse, são pessoas de carne e osso. Trabalham juntos, se tornam amigos, jantam juntos, as esposas se conhecem, fazem um churrasco juntos. A coisa mais natural é um conversar com o outro e até se espelhar em algumas informações ou sugestões que são passadas. Agora, eu vejo muito mais uma preocupação em tentar se diminuir a imagem do Sergio Moro, dos procuradores da Lava Jato, justamente para tentar descaracterizar os crimes e as condenações de muita gente dentro da área política, empresários que foram condenados, denunciados ou ainda investigados. Naturalmente é uma estratégia usar um episódio desses para desqualificar.

O senhor conversou com o ministro de domingo para cá [quando a reportagem foi publicada]?

Não. Não falei com o ministro. Ele mesmo fez uma declaração, não vê nenhuma irregularidade a não ser os próprios vazamentos realizados. Eu não vejo que o ministro precise de defesa. Se fizerem convocação dele na Câmara, no Senado...

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O governo barraria? Teria condição de barrar?

Não é questão de barrar ou não. Eu acho que não, mas não vejo o menor problema. Ele vai lá e vai prestar os esclarecimentos. Não tenho a menor dúvida disso. Se eventualmente se partisse para o caminho de uma CPI talvez seja uma oportunidade de se buscar como é que foram feitos esses grampos, esses vazamentos seletivos. Esses grampos de juízes, procuradores, e não sei mais quantas pessoas podem ter sido gravadas ou grampeadas nessas comunicações.

E esses vazamentos têm potencial para eventualmente inviabilizar uma indicação do ministro Sergio Moro ao STF ou aprovação dele pelo Senado?

Eu duvido. Porque transborda nele capacidade. Os pré-requisitos para eventualmente ter uma indicação são notório saber jurídico e reputação ilibada. Ele transborda isso. Eu não veria uma reprovação numa sabatina dentro do Senado. Acho que onde ele for acaba dando demonstrações de sua capacidade, integridade e respeito à lei. Não vejo preocupação em relação a isso.

E há chance desse caso atrapalhar o andamento de projetos do governo? Tem agora a questão do crédito fora da Regra de Ouro, a reforma da Previdência e um projeto que ainda não está na prioridade do governo mas é do próprio ministro Moro, a lei anticrime, que agora está com o autor sob fogo.

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Eu digo para você, tem gente que está na lei Tim Maia: "me dê motivo" para arrumar uma encrenca. Então muitas vezes não quer justificar para a opinião pública porque na verdade está se colocando contrariamente ao governo ter crédito suplementar para pagar benefício de prestação continuada, Plano Safra, coisas que são fundamentais, benefícios assistenciais. O governo não tem outra forma de pagar se não com alteração legislativa. Na semana passada houve alguns integrantes de alguns partidos fazendo obstrução pela obstrução.

Mas o senhor acha, objetivamente, que isso pode atrasar algo?

Ah, poder, pode. Eu só posso lamentar. Tanto que nós estamos pedindo a todos. Não se pode misturar as circunstâncias. Os mais prejudicados a partir da semana que vem são as pessoas que mais precisam.

Mudando um pouco de assunto, senador, entrando em um caso do Congresso. Como é a relação do senhor com a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP, líder do governo no Congresso)? O senhor e ela tiveram um desentendimento no Congresso recentemente.

Ela pertence ao meu partido, é líder do governo no Congresso. O desentendimento foi justamente pelo governo não ter cumprido um acordo que fez. Eu retirei um destaque de votação em separado que seria apreciado amanhã num momento em que ela, representando o governo, o presidente do Congresso, David Alcolumbre, e o Fernando Bezerra (MDB-PE, líder do governo no Senado) me pediram. "Está tudo acordado, então não é necessário o destaque". Eu fui até para meu gabinete atender pessoas na certeza de que seria cumprido o acordo. E não houve um esforço para que, na planilha de votação, estivesse manifesto o acordo. E eu, quando tenho que dizer uma coisa, digo com toda a transparência. Quer goste, quer não goste. Se ela não gostou naquele momento, paciência. Ela toca a vida dela, eu toco a minha.

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O senhor vê hoje um nome forte do PSL para ser candidato à Prefeitura de São Paulo?

Filiados ao PSL, hoje... a [deputada estadual] Janaína Paschoal...

Líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann
Foto: Amanda Perobelli / Reuters

Mas ela diz que não quer.

Pois é. A Joice... quem fez mais de um milhão de votos é sempre um candidato forte em potencial. Eu era o presidente do partido e tinha convidado o José Luiz Datena, depois o Eduardo [Bolsonaro] conversou com ele também. O Datena até afirmou uma vontade de ser candidato ano que vem, mas ele não fechou nem conosco nem com partido nenhum. Ao que consta, ele ainda é filiado ao Democratas.

O senhor se candidatar, sem chance?

Totalmente sem chance.

Então a candidatura mais viável que não negou querer concorrer seria da deputada Joice Hasselmann.

É. Ao que me consta ela não negou a possibilidade. Então, eu vejo como potencialmente a candidata mais forte no PSL.

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Qual a possibilidade de o decreto das armas ser derrubado no Congresso?

Eu pedi o apoio de toda a população porque eu vejo uma possibilidade muito forte de ser derrubado já no Senado. Na CCJ, nessa semana, eu pedi uma audiência pública para sentir a temperatura dentro da CCJ. Tomei um cacete de 16 a 4. Por isso que estou pedindo. Se a população não se mobilizar em defesa do decreto ele vai cair.

Entendi. O governo e o PSL sem essa mobilização não têm meios de manter isso no Congresso?

Olha, a sinalização que eu vi ali dentro da CCJ é que seremos derrotados.

Flávio Bolsonaro durante cerimônia em Brasília
Foto: Adriano Machado / Reuters

As investigações, que cresceram recentemente, do caso Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), causam algum constrangimento à bancada do PSL? Limita a atuação ou algo assim?

Não. Eu tenho visto o senador Flávio Bolsonaro absolutamente tranquilo, transmitindo para a gente que ele tem como refutar e rebater todas as acusações. Eu vejo a tranquilidade dele em plenário, nas comissões, nas reuniões conosco. Ele está fazendo um trabalho brilhante como senador. Somos absolutamente unidos, os quatro senadores [do PSL] nas votações, nas lutas travadas. No momento certo, da forma apropriada, o Flávio vai apresentar o conjunto probatório que justifique a sua alegação permanente de inocência completa.

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Fonte: Redação Terra
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