PGR arquiva investigações sobre offshores de Guedes e Campos Neto

1 dez 2021 - 20h24
(atualizado às 22h10)

Procuradoria-Geral da República não vê indícios de crimes cometidos pelo ministro da Economia ou pelo presidente do Banco Central, que já possuíam empresas em paraísos fiscais antes de assumirem cargos públicos.A Procuradoria-Geral da República (PGR) arquivou as investigações preliminares que apuravam possíveis crimes cometidos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Ministro da Economia, Paulo Guedes, teve sua offshore revelada nas reportagens dos pandora papers
Ministro da Economia, Paulo Guedes, teve sua offshore revelada nas reportagens dos pandora papers
Foto: DW / Deutsche Welle

Ambos possuíam empresas em paraísos fiscais antes de assumirem cargos públicos, o que gerou suspeitas de que teriam se beneficiado de decisões do Conselho Monetário Nacional (CMN), onde ambos participam e têm direto a voto. O caso veio à tona em uma série de reportagens divulgadas por veículos de imprensa internacionais em outubro - os Pandora Papers.

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A PGR concluiu que Guedes e Campos Neto informaram as autoridades brasileiras da existência de suas offshores e de contas bancárias no exterior a elas vinculadas. Dessa forma, não teria havido crime, uma vez que o prazo previsto na legislação foi cumprido e nenhuma informação teria sido omitida.

"Os bens e valores que [Guedes e Campos Neto] possuem em cada uma das offshores mencionadas nas reportagens relativas aos Pandora Papers foram informados à autoridade competente na forma, limites e condições estabelecidos pela legislação de regência, não há razão para se instaurar um procedimento investigatório propriamente dito, sem que se tenha demonstrada nem a infração penal nem mesmo qualquer indicativo idôneo de sua existência", escreveu o procurador Aldo de Campos Costa.

O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) que analisou centenas de documentos em parceria com 149 veículos de comunicação, revelou que cerca de 2 mil brasileiros são sócios de empresas abertas em paraísos fiscais.

Além de Guedes e Campos Neto, são citados nas reportagens os nomes de empresários bolsonaristas investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o financiamento de redes de disseminação de notícias falsas, como Luciano Hang, proprirtário da Havan, e Otávio Fakhoury.

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Conflito de interesses

O ministro, que chefia a pasta à qual está subordinada a Receita Federal, responsável pela arrecadação de tributos e atuações fiscais, admitiu que abriu a Dreadnoughts em 2014. Segundo as reportagens, a offshore tinha patrimônio de 9,5 milhões de dólares.

Por sua vez, Campos Neto é proprietário de três offshores, nas Bahamas e nas Ilhas Virgens Britânicas.

À PGR, Guedes disse que havia se afastado da administração da offshore em dezembro de 2018, logo após a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. O ministro assegura que, desse então, não fez nenhuma movimentação nessas empresas.

Campos Neto também diz que não realizou nenhuma movimentação suas offshores após ter sido nomeado para o BC. Segundo a PGR, ambos apresentaram documentos que comprovam que informaram às autoridades brasileiras a propriedade das empresas.

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Em novembro, em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Economia do governo Bolsonaro admitiu que criou empresa em paraíso fiscal para driblar impostos nos EUA.

À Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, ele disse que a empresa, chamada Dreadnoughts, é totalmente legal. Entretanto, a prática de driblar impostos através de offshores faz com que a taxação de tributos seja evitada também no Brasil.

Entretanto, existem suspeitas de um possível conflito de interesses, pelo fato de Guedes ter participado, como ministro, das decisões do CMN que afetam as empresas offshore, como a que afrouxou a exigência de declaração dos recursos no exterior às autoridades.

Há ainda outro inquérito em andamento no Ministério Público Federal do Distrito Federal sobre as offshores de Guedes e Campos Neto. As investigações são realizadas em primeira instância, uma vez que não há foro privilegiado para casos de improbidade.

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rc (ots)

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