O Brasil na imprensa alemã (06/07)

6 jul 2022 - 11h25

Jornal da Alemanha aborda onda de esquerda na América do Sul e o medo "infundado" do comunismo entre populistas de direita como Bolsonaro. Caso de juíza que tentou impedir aborto de criança estuprada também é destaque.Süddeutsche Zeitung - Opinião: A esperança silenciosa (05/07)

Há cerca de duas semanas, Eduardo Bolsonaro postou uma foto no Twitter. O homem de 37 anos tem mais de 2 milhões de seguidores na rede social, em parte porque ele é um dos filhos do presidente brasileiro de direita Jair Bolsonaro, mas também porque Eduardo Bolsonaro sabe exatamente o que seus seguidores esperam dele: tuítes do tipo erro ou acerto.

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E assim ele colocou esta foto na rede: ela mostra a América do Sul, à direita o Brasil, grande e colorido de amarelo como a bandeira nacional, ao lado os vizinhos em cores vivas, com pequenos asteriscos nas capitais, mas também vários símbolos de martelos e foices comunistas pairando sobre a Argentina, bem como sobre Chile, Bolívia, Peru, Venezuela e também Colômbia.

De fato, apenas algumas horas antes Gustavo Petro havia vencido as eleições neste último, tornando-se o primeiro chefe de Estado decididamente de esquerda na história de seu país. Sua vitória veio apenas alguns meses depois que Gabriel Boric, um jovem e tatuado ex-líder estudantil, tomou posse no Chile, e cerca de um ano depois que o ex-professor e sindicalista Pedro Castillo tomou posse no Peru. A América do Sul se voltou para a esquerda nos últimos anos, uma tendência que pode continuar em outubro, quando serão realizadas eleições no Brasil.

Isso enche alguns de preocupação, enquanto outros têm grandes esperanças. Em primeiro lugar, é claro, deve-se dizer que os medos e, acima de tudo, o alarmismo são infundados. Mesmo que o filho do presidente brasileiro de direita goste de colocar desta forma, os novos governos de esquerda na América do Sul estão longe de ser comunistas. Com exceção da Venezuela, todos foram eleitos democraticamente, em eleições justas e livres, e reconhecidos internacionalmente. Só isso já é motivo de esperança.

Ao mesmo tempo, porém, "esquerda" também é um termo amplo hoje e não significa um retrocesso aos tempos de Che Guevara e dos movimentos guerrilheiros de outrora. É claro que há posições básicas compartilhadas pelos novos chefes de Estado de esquerda, mas também há enormes diferenças: o presidente do Chile, Boric, é a favor do aborto, enquanto o chefe de Estado do Peru, Castillo, é contra. Na Colômbia, o novo governo também foi eleito porque prometeu fazer mais para proteger o meio ambiente. Na Argentina, por outro lado, a exploração dos recursos naturais é relativamente implacável.

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[...] A questão é o que vem a seguir. Antipolíticos populistas já estão reunindo apoiadores - homens como Jair Bolsonaro, mas também anarcocapitalistas como o argentino Javier Milei, que quer abolir o banco central, assim como as restrições às armas e o direito ao aborto. Quanto mais o governo de esquerda na Argentina se desintegrar, maiores serão as chances dele [Milei] nas eleições do próximo ano. O perigo é que essa guinada à esquerda seja seguida por uma onda de antipolíticos. E isso, sim, seria realmente um motivo de preocupação.

Die Zeit - Posse de arma aumentou seis vezes desde que Bolsonaro tomou posse (29/06)

As leis sobre armas de Jair Bolsonaro estão tendo um efeito: no Brasil, o número de cidadãos registrados como proprietários de armas aumentou quase seis vezes desde que o presidente de direita tomou posse. Em 2018, pouco menos de 120 mil brasileiros possuíam uma arma registrada; em junho de 2022, o número era de aproximadamente 675 mil, relata a organização Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), citando dados oficiais. Isso corresponde a um aumento de 474%.

"Desde que o governo Bolsonaro tomou posse, o número de armas de fogo em circulação no país aumentou acentuadamente", disse o pesquisador e presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, à agência de notícias AFP. Sua organização estima que um total de cerca de 4,4 milhões de armas sejam de propriedade privada no Brasil.

Bolsonaro, que foi eleito em 2018, flexibilizou fortemente as diretrizes de acesso às armas por meio de decreto logo após tomar posse em janeiro de 2019. Ele fez repetidos apelos para que a população se armasse, afirmando que "um povo armado nunca será escravizado". Em janeiro de 2019, ele permitiu que os brasileiros comprassem até quatro armas de fogo cada e as mantivessem em casa ou no trabalho. Ao fazê-lo, o presidente disse que queria melhorar a proteção da população.

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Cinco meses depois, Bolsonaro liberalizou ainda mais as leis sobre armas em seu país. Desde então, os proprietários de armas foram autorizados a comprar até 5 mil unidades de munição por arma por ano. Anteriormente, a quantidade era limitada a 50 unidades. Além disso, o presidente simplificou a importação e a distribuição de armas no Brasil.

Der Spiegel - Juíza tenta impedir aborto de criança de 10 anos estuprada (03/07)

O vídeo de uma audiência num tribunal gerou alvoroço no Brasil. As imagens, publicadas pelo The Intercept Brasil, mostram uma vítima de estupro de 10 anos sendo interrogada por uma juíza. Ela pergunta à criança: "Quer escolher o nome do bebê?" e "Suportaria ficar mais um pouquinho [grávida]?".

A promotora endossa a juíza e pergunta à criança se ela se imaginaria cedendo o bebê para adoção em vez de deixá-lo morrer uma morte agonizante. Por fim, a juíza determina que a criança deve ser afastada de sua família e internada em uma instituição, a fim de proteger o feto.

O caso gerou discussões emocionais no Brasil. Trezentas mil mulheres assinaram uma petição pedindo que a juíza fosse removida do cargo. Mas o presidente Bolsonaro escreveu no Twitter [referindo-se ao feto]: "É inadmissível tirar a vida dessa criatura indefesa!"

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A lei do aborto no Brasil é muito rígida. Ele só é permitido em casos de estupro ou incesto, e em casos de deformidades graves no feto. Contudo, aqueles que fazem campanha pelo direito ao aborto afirmam que o Judiciário e os hospitais tentam repetidamente impedir o aborto, contrariando a lei.

Segundo dados oficiais, 17 mil meninas entre 10 e 14 anos engravidam todos os anos. A criança de 10 anos do vídeo foi afastada de sua família por 40 dias. No fim, o aborto foi realizado após o Ministério Público Federal brasileiro ordenar que o hospital responsável fizesse o procedimento.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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