Invasão dos EUA à Venezuela pode gerar 'conflito como o do Vietnã', diz Amorim a jornal britânico

Assessor de política externa do governo Lula disse que fechamento do espaço aéreo venezuelano pelos EUA foi como um 'ato de guerra'.

9 dez 2025 - 07h01
Celso Amorim alertou para os riscos de um conflito entre EUA e Venezuela
Celso Amorim alertou para os riscos de um conflito entre EUA e Venezuela
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O assessor de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim, disse que uma invasão ou ataque dos Estados Unidos à Venezuela poderia mergulhar a América do Sul em um conflito semelhante ao do Vietnã.

A declaração foi dada por Celso Amorim ao jornal britânico The Guardian.

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Celso Amorim disse que a recente decisão de Donald Trump de ordenar o fechamento do espaço aéreo venezuelano foi "um ato de guerra" e "totalmente ilegal" — e expressou temores de que a crise possa se intensificar nas próximas semanas.

"A última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra - e uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas uma guerra entre os EUA e a Venezuela. Acabaria tendo envolvimento global e isso seria realmente lamentável", disse Amorim ao jornal.

"Se houvesse uma invasão, uma invasão de verdade… acho que sem dúvida veríamos algo semelhante ao Vietnã - em que escala é impossível dizer."

Ele acredita que em caso de um cenário assim, até mesmo governos inimigos do presidente venezuelano Nicolás Maduro se juntariam contra uma invasão estrangeira.

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"Eu conheço a América do Sul… todo o nosso continente existe graças à resistência contra invasores estrangeiros", disse Amorim.

O jornal afirma que apesar de o Brasil não ter reconhecido a vitória de Maduro na eleição do ano passado, o país se opõe a uma mudança de regime baseada na força.

"Se cada eleição questionável desencadeasse uma invasão, o mundo estaria em chamas", disse o assessor de Lula.

"Se Maduro chegar à conclusão de que deixar o poder é o melhor para ele e para a Venezuela, será uma conclusão dele… O Brasil jamais imporá isso; jamais dirá que isso é uma exigência… Não vamos pressionar Maduro a renunciar ou abdicar", disse Amorim

O diplomata disse que as relações entre Venezuela e Brasil já não são mais tão "calorosas ou intensas" como antes.

Especula-se que Maduro possa deixar a Venezuela rumo a países como Cuba, Turquia, Catar e Rússia. Sobre a possibilidade de Maduro se exilar no Brasil, Amorim disse que prefere não especular para "não parecer que estamos estimulando" essa ideia.

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"No entanto, o asilo é uma instituição latino-americana [para] pessoas tanto de direita quanto de esquerda", disse Amorim. Ele lembrou que em 2005 o equatoriano Lucio Gutiérrez foi acolhido no Brasil após ser deposto da Presidência.

"Chegamos a enviar um avião para buscá-lo", disse Amorim, que era ministro das Relações Exteriores na época.

Amorim disse esperar que o presidente americano Donald Trump encontre uma solução diplomática para o problema com a Venezuela, com possibilidades de uma transição pacífica de poder.

Ele sugeriu a realização de um referendo na Venezuela sobre a permanência de Maduro no poder, nos moldes do que aconteceu em 2004.

"[O então presidente Hugo] Chávez aceitou a ideia, com alguma relutância, mas aceitou. Houve um referendo e ele venceu. Não sei quem venceria agora", disse o assessor de Lula ao jornal britânico.

Os EUA e a Venezuela vivem um momento de alta tensão nas relações bilaterais. Trump tem intensificado a pressão sobre Maduro.

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O governo Trump dobrou a recompensa por informações que levem à captura de Maduro, e seus navios de guerra estão próximos da Venezuela. Os EUA têm realizado ataques a barcos venezuelanos, que o governo de Washington acusa de estarem transportando drogas.

Segundo relatos, Trump deu um ultimato a Maduro para que deixasse a Venezuela, em um telefonema entre os dois em 21 de novembro.

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