Policiais da escolta de delator morto têm celulares apreendidos; 3 dos 4 não estavam no aeroporto

Corregedorias das Polícias Civil e Militar apuram a atuação dos agentes que deveriam fazer a segurança de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, assassinado a tiros nesta sexta-feira; no caminho para Cumbica, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica

9 nov 2024 - 12h56
(atualizado às 15h20)

A Polícia Civil de São Paulo apreendeu os celulares dos quatro agentes da Polícia Militar incumbidos de fazer a segurança particular do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, assassinado a tiros por volta das 16h desta sexta-feira, 8, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. O objetivo é averiguar um possível envolvimento dos seguranças com o caso. O aparelho da namorada da vítima também foi apreendido.

Como mostram imagens de câmeras de segurança, Gritzbach foi alvejado com tiros de fuzil na saída do desembarque oeste do Terminal 2, destinado a voos domésticos. O empresário era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).

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Ao menos outras três pessoas ficaram feridas: dois homens, de 39 e 41 anos, que foram internados no Hospital Geral de Guarulhos, e uma mulher, de 28 anos, que recebeu atendimento médico e foi liberada em seguida - ela foi ouvida pelos policiais no local. Foram ao menos 27 disparos efetuados por dois criminosos, segundo informações da perícia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana (DHPP) da Polícia Civil, que investiga o caso.

Conforme as informações preliminares do caso, Gritzbach havia acabado de chegar de viagem com a namorada no aeroporto e seria recebido pelo filho e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário. No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo. Assim, somente um estava no aeroporto na hora do atentado.

Uma das linhas de investigação, que ainda está em fase preliminar, busca entender se os agentes não teriam deixado o policial exposto no aeroporto intencionalmente. Os celulares dos quatro integrantes da escolta e da namorada de Gritzbach foram apreendidos pelo DHPP, de acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública. O Estadão ainda não conseguiu confirmar se o filho do empresário também teve o celular apreendido.

Os policiais militares que pertenciam à equipe de segurança da vítima já prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações e ficarão em expediente administrativo a pedido da Corregedoria. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores. As corregedorias das Polícias Civil e Militar apuram a atuação dos agentes.

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Assim que assumiu o caso, o DHPP também realizou a perícia do local onde o empresário foi morto (averiguação que durou cerca de 5h30) e apreendeu os dois carros utilizados pela escolta da vítima. Um terceiro veículo, um Volkswagen Gol preto supostamente usado pelos atiradores, também foi apreendido após ser localizado pela Polícia Militar ainda em Guarulhos - dentro do automóvel, a polícia encontrou um colete à prova de balas e munição de fuzil. Ninguém foi preso até o momento.

Empresário fechou acordo de delação neste ano

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Conforme a investigação policial, ele é ex-corretor da Porte Engenharia e Urbanismo, uma das maiores construtoras da cidade.

Em nota, a Porte diz que foi informada pela imprensa sobre a morte de Gritzbach, "com quem não mantém negócios há anos". E afirma que ele foi "corretor de imóveis na empresa apenas entre 2014 e 2018?.

Na delação, o empresário falou sobre envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário. O empresário também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção, como Cara Preta e Django.

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Segundo o Estadão apurou, ele também mencionou corrupção policial e suspeita de pagamento de propina na investigação da morte de Cara Preta. Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública ainda não se manifestou.

Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde mora, no Tatuapé, na zona leste, mas o autor errou o alvo. A reportagem apurou que a polícia já identificou o responsável por esse atentado.

O que Gritzbach disse na delação

Gritzbach trabalhou na Porte até 2018. Aos investigadores, ele disse que conheceu os integrantes da facção "no âmbito do ambiente de trabalho da Porte" por meio de um corretor de imóveis em razão da venda de dois apartamentos no Tatuapé, na zona leste, paulistana, região que virou um reduto da cúpula do PCC nos últimos anos.

O Ministério Público Estadual (MPE) está investigando a Porte, sob a suspeita de ter vendido mais de uma dezena de imóveis para traficantes de drogas, segundo a delação do ex-funcionário. Segundo a delação premiada, executivos da Porte receberam pagamento de imóveis em dinheiro em espécie e sabiam de registros de bens em que o nome do verdadeiro proprietário ficava oculto.

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Nesta sexta, a construtora afirmou que o assassinato no aeroporto deve ser "acompanhado e esclarecido pelas autoridades competentes". E acrescentou que, "como sempre, a empresa segue à disposição para contribuir com os processos investigativos em curso".

Em agosto, quando o Estadão revelou a investigação, a Porte disse desconhecer que entre os clientes do ex-funcionário estivessem pessoas ligadas ao crime organizado.

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