Professor é demitido de colégio particular após usar tirinha sobre polícia em prova

Demissão ocorreu após influenciador postar vídeo afirmando que houve doutrinação no ensino; sindicato repudiou atitude de escola

1 jul 2022 - 17h33
(atualizado às 18h10)
Professor é demitido de colégio particular após usar tirinha sobre polícia em prova
Professor é demitido de colégio particular após usar tirinha sobre polícia em prova
Foto: Reprodução

O professor de sociologia Osvaldo Machado foi demitido do Colégio Visão, - unidade de ensino particular em Goiânia (GO) -, após uma questão que aplicou em uma prova aos alunos ser criticada nas redes sociais em uma postagem feita pelo blogueiro Gustavo Gayer. O educador usou uma tirinha do quadrinista André Dahmer, do jornal Folha de São Paulo, para questionar aos alunos qual elemento do estado estava sendo retratado na história. Porém, foi acusado de "ensinar os jovens a odiar a polícia". 

A demissão ocorreu na última quarta-feira (29). Na atividade, foi usada uma tirinha de Dahmer que retrata uma pessoa lendo um jornal, comentando, no primeiro quadro, sobre um assalto que aconteceu em São Paulo. Em seguida, este mesmo personagem fala: “Ainda bem que temos a polícia para combater a violência em prol...”.  Finalizando com a frase “...da barbárie”.

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Nas redes sociais, o blogueiro Gustavo Gayer compartilhou a questão e afirmou que "um militante travestido de professor em escola de elite em Goiânia estava ensinando jovens a odiar a polícia". Acrescentando que a questão destruia a mente dos alunos. Muitos seguidores do youtuber deram apoio ao que ele disse e fizeram comentários criticando o professor. Depois disso, o educador foi chamado na direção e demitido. 

O quadrinista autor da arte comentou o caso no Twitter lembrando que já teve seu trabalho até mesmo como questão do Enem. Veja abaixo:

A decisão também gerou a reação de estudantes, que promoveram um protesto na escola pedindo a volta do educador. Além disso, nas redes sociais do colégio muitas pessoas deixaram comentários criticando a atitude da instituição. 

"Considerei o motivo desproporcional", disse o professor ao Correio Braziliense. "Fui vítima da ideia de escola sem partido, de violência psicológica e econômica, mas saio de cabeça erguida, com o apoio de pais, alunos e professores do colégio que me demitiu", acrescentou ele ao veículo. O Terra tentou contatá-lo, mas não o localizou até a última atualização desta reportagem. 

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Em nota enviada ao Terra, a escola afirma que possui um Código de Conduta que veda manifestações políticas, partidárias ou ideológicas em ambiente escolar. "A direção do Colégio mantém um canal de diálogo aberto com alunos e familiares, sempre pautando suas ações no Código de Conduta", destacou a instituição.

Sindicato dos Professores

O Sindicato dos Professores do Estado de Goiás emitiu nota de repúdio sobre o ocorrido e afirmou que o vídeo de Gustavo Gayer faz exposição em condição vexatória do professor, além de ataques à honra e à imagem de toda a categoria dos professores, acusados de militância para “doutrinação do comunismo” em sala de aula.

"Após a divulgação do vídeo, com evidente distorção da finalidade da questão cobrada na prova de sociologia, o professor foi demitido pelo Colégio e ofendido nas redes sociais do youtuber, o que causa preocupação e repulsa em toda a categoria dos professores, já que a liberdade de ensinar, de aprender e do pluralismo de ideias, princípios constitucionais estabelecidos nos artigos 205, 206 e 214 da CF/88, podem ser tolhidos em clara condição de perseguição política e social, o que afronta a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 5537, publicada em 17/09/2020", disse o órgão.

Segundo o Sindicato, é "inaceitável qualquer interferência no conteúdo ministrado em sala de aula com a finalidade de ceifar o direito de propagação do conhecimento e do livre pensamento e, mais ainda, é intolerável a exposição indevida do professor, pois a sua imagem, honra, liberdade de expressão e de ensinar são direitos humanos fundamentais e irrenunciáveis".

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Ainda segundo o órgão, toda a categoria dos professores é atacada com esta postagem, em especial quando culminada na demissãodo professor, pois podem gerar a perseguição de professores que não compartilhem com os ideais políticos de alguns pais ou da própria direção da escola.

"A sociologia busca, inclusive, explicar fenômenos políticos baseados em fake news, como comumente tem feito o youtuber responsável pela ofensa à honra e imagem dos professores. O referido youtuber já foi denunciado por divulgação de informações falsas, inclusive com o bloqueio de sua conta no Twitter, e não teve pudor em agir e expor um trabalhador que apenas executava suas funções de forma digna e profissional", disse o sindicato.

O SINPRO-GO também afirma que repudia as declarações do youtuber Gustavo Gayer e a decisão do Colégio em demitir o professor, pois fica caracterizado o ato de perseguição político-social e informa que tomará as medidas cabíveis para defender toda a categoria e o professor ofendido, caso seja do seu interesse.

Fonte: Redação Terra
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